Magia das luzes em Portimão

Por Joana Varela

Todos os anos, durante a época natalícia, várias cidades portuguesas embelezam as ruas com as decorações e apostam fortemente na iluminação, dando um brilho especial às noites de Inverno. A cidade de Portimão não foi excepção e os moradores da zona mostram-se orgulhosos perante estes investimentos decorativos, como é o caso de Maria da Conceição, que afirma que «cada ano que passa é melhor que o anterior em termos de decoração natalícia. As ruas estão muito bonitas, bastante iluminadas».

A Associação de Desenvolvimento Pró - Comércio de Portimão (UAC) foi a grande investidora, doando «cerca de 200 mil euros para esta iniciativa», segundo Paulo Cristóvão, morador de Portimão. «Foram colocadas luzes decorativas nas ruas principais e, na Alameda, um ringue de patinagem e uma árvore de natal de 30 metros. Além disso, todos os anos põem um cadeirão e uma passadeira vermelha para o Pai Natal receber as crianças», acrescentou.

Espectáculos Natalícios

Para além das decorações, Portimão é na época natalícia palco de vários espectáculos e atracções, como a animação «Cai Neve em Portimão», em que «uma máquina produz neve artificial deixando as ruas brancas», conta Rosa Lopes, actuações de ranchos folclóricos, entre muitas outras.

A população portimonense tem aderido ao espírito, como se pode constatar pelo ambiente em que se vive. Adriana Maia, uma jovem de 16 anos, observa que «Portimão está mesmo com o espírito natalício. Apesar da crise ainda conseguimos ver esta cidade sempre a inovar».

Por Ivan Cordeiro

A época natalícia paira no ar. É o tempo em que as ruas se enchem com luzes e decorações, pessoas, sacos correrias e espírito natalício, mesmo com o frio que marca a chegada do Inverno e a sua chuva. A Redacção 2.3 esteve em Vila Real de Santo António, antiga povoação de pescadores Santo António de Arenilha, para registar os hábitos e festividades vila-realenses.

Ainda a 27 de Novembro teve lugar a inauguração e iluminação da árvore de Natal com cerca de 30 metros de altura, na Praça Marquês de Pombal, bem como a abertura da pista de gelo e da tenda do Pai Natal. Nesta inauguração, que marcou o início das festividades, estiveram presentes muitos vila-realenses. A neve artificial, que, por mais um ano consecutivo, encheu o espaço com pequenos bagos de brancura, animou a multidão de crianças à espera do Pai Natal, que as recebeu de braços abertos dentro da sua tenda.

O centro da cidade possui diariamente várias actividades e iniciativas que contam com animação para os mais novos. Pelo que pudemos observar, a pista de gelo natural, com 200 m2, é a atracção mais procurada. Para além desta novidade, existem também outras animações, como insufláveis, carrosséis, música, ateliês infantis, karaoke e um comboio infantil que percorre várias ruas do centro urbano.
A cidade conta também com o presépio de Vila Real de Santo António que foi inaugurado no dia 6 de Dezembro e que permanece até dia de Reis. Situado no Centro Cultural António Aleixo, este presépio conta com cerca de 3500 figuras, algumas com movimentação, que sustentam a história e a tradição religiosa. Segundo responsáveis do Centro Cultural António Aleixo, no ano anterior recebera mais de 50 mil visitas.

Estas iniciativas são organizadas pela Câmara Municipal de Vila Real de Santo António em parceria com a Associação do Desenvolvimento da Baixa de Vila Real de Santo António.

Por Isa Mestre

«Afável, de trato fácil, calmo, decidido e sonhador», é assim que se caracteriza Rui Coimbra, atleta algarvio da selecção nacional de futebol de praia que recentemente arrecadou no Beach Soccer World Cup, no Dubai, um honroso terceiro lugar.

Nascido em Quarteira, no ano de 1986, Rui Coimbra estaria longe de imaginar que poderia vestir a camisola da equipa das “quinas”, sobretudo a jogar futebol de praia. É que antes de “pôr o pé na areia”, o jovem algarvio teve passagens por desportos tão diversos como o karting (onde chegou mesmo a sagrar-se campeão), a natação, o ténis ou a vela.

Em terra de pescadores, a paixão pelo futebol jogado na areia acabou mesmo por vencer. Rui Coimbra conta que «tudo começou em 2006, com um grupo de amigos» aquando da participação num torneio amador.

Na sequência desse torneio e dos jogos disputados como amador no ano 2008, viria a concretizar-se um dos maiores sonhos do jogador luso: a chamada à selecção nacional. Na altura, com apenas vinte e dois anos, Rui Coimbra afirmou-se como o primeiro algarvio no futebol de praia a experimentar tamanhos voos e tudo isso, diz, deve-o ao seleccionador Zé Miguel, que «considerou que eu tinha aptidões para integrar a selecção e começou a convocar-me para os estágios e treinos». Daí ao Dubai, o jogador garante ter sido «um pulinho», confessando que a convocatória para o campeonato do mundo foi «uma alegria enorme. Acho que é o sonho de qualquer jogador e eu não sou excepção. No fundo, ser convocado é como que uma recompensa por um ano de trabalho».

Quando questionado acerca da preparação para jogar futebol de praia num país como o nosso, Rui Coimbra desmistifica, afirmando que «ao contrário do que as pessoas pensam, que é só sol e praia, a preparação física é muito exigente e desgastante, em especial as pernas e os gémeos. Temos que treinar à chuva, ao frio, ao vento e nas condições mais adversas que se possa pensar.»

Em discurso franco e aberto, Rui Coimbra, confessa-se desiludido com a atenção prestada pelos governantes portugueses ao futebol de praia, afirmando que esta «está muito aquém daquilo que deveria ser», acreditando, no entanto, que «com o tempo o futebol de praia vai ter o reconhecimento que lhe é devido, como qualquer outra modalidade».

No que toca ao seu próprio reconhecimento enquanto profissional, o jovem jogador admite que o Algarve, enquanto região, lhe tem retribuído o esforço sobretudo «pela boca do povo», pelo orgulho da sua presença junto de grandes vultos do futebol de praia, como é o caso de Madjer ou Alan, companheiros de selecção no caminho do algarvio, naquela que é já uma carreira de sucesso.

Por Fábio Lima

Joaquim Agostinho, Marco Chagas, Alves Barbosa e, mais recentemente, José Azevedo ou Sérgio Paulinho são nomes que marcam claramente o panorama velocipédico nacional. Mas nunca o ciclismo português esteve tão bem representado na alta-roda internacional. E a altura em que surgem estas novidades é ainda mais surpreendente, pois vem na ressaca de uma Volta a Portugal marcada por imensos casos de doping, que até retiraram a vitória a Nuno Ribeiro. Apesar de tudo isso, cinco ciclistas de nacionalidade portuguesa irão representar equipas de topo do ciclismo.

A equipa mais portuguesa do pelotão internacional é claramente a RadioShack, comandada pelo mítico Lance Armstrong. Nas estradas, Portugal terá Sérgio Paulinho e Tiago Machado. No comando da equipa estará um dos melhores gregários de Lance Armstrong, José Azevedo. E na parte técnica estará o mecânico Francisco Carvalho. A figura da equipa é sem dúvida o sete vezes vencedor do Tour de France, Lance Armstrong, que aos 39 anos faz questão de mostrar que a idade não o impede de trepar as montanhas mais difíceis do mundo. Ao lado do texano estarão muitos ciclistas que vieram consigo da Astana. Entre eles figuram Levi Leipheimer, Andreas Kloden, Yaroslav Popovic ou mesmo Sérgio Paulinho. O português Tiago Machado trocou a Madeinox Boavista pelo conjunto americano. A comandar esta verdadeira constelação de estrelas, estará Johan Bruyneel, director desportivo durante as sete vitórias de Lance no Tour. Esta nova equipa tem como principal objectivo levar ao mundo a mensagem da fundação de Lance Armstrong, LiveStrong.

Ainda a falar português, a Caisse D’Epargne tem nas suas fileiras uma das maiores surpresas da última época – Rui Costa. O ciclista natural da Póvoa de Varzim logrou vencer os 4 Dias de Dunkerque e ficar no 3.º lugar na Volta a Chihuahua. O ciclista nacional terá a companhia de David Arroyo, Luís León Sanchéz e o chefe de fila Alejandro Valverde.

Ainda no Pro Tour, Manuel Cardoso será o mais provável chefe de fila da Footon Servetto, antiga Saunier Duval. O estatuto do ex-ciclista da Liberty Seguros confirma-se pelo seu calendário, tendo o Tour de France como objectivo. Com uma formação composta com jovens talentos, na sua maioria ex-amadores, a equipa pretende demarcar-se do passado de casos de doping de Iban Mayo, Riccardo Riccó e Leonardo Piepoli.

Olhando para as restantes equipas, muitas mudanças ocorreram. Para começar na nomenclatura, um terço das equipas Pro Tour mudaram de nome, outras foram criadas de raiz. É o caso da Team Sky, que até agora confirmou a contratação de Sylvian Calzati (ex- Agritubel), Nicholas Portal (ex-Caisse d’Epargne), Mathew Hayman (ex-Ra¬bobank) e Kurt Asle Arvesen (ex-Saxo Bank).

Uma das principais novelas do mercado do ciclismo terminou com final feliz: Alberto Contador permanecerá na Astana, tendo agora como companheiros de equipa Óscar Pereiro e Alexandre Vinokourov. A equipa cazaque sofreu uma grande reforma no elenco, com a saída de Haimar Zubeldia, José Luis Rubiera, Andreas Kloden ou mesmo de Sérgio Paulinho. Prevê-se que, para 2010, a aposta seja em talentos provenientes do país.

As duas formações francesas da elite, AG2R La Mondiale e a Française de Jeux, arriscam claramente na prata da casa, com a aposta em Stephane Goubert no caso da AG2R e em Christophe Le Mevel e Sandy Casar na Française de Jeux.

Bradley Wiggins, uma das surpresas do Tour 2009, ainda não tem equipa certa, mas prevê-se que se mantenha na Garmin-Transitions (ex-Garmin Slipstream), juntamente com Tyler Farrar. Na mesma situação de Wiggins, Ivan Basso deve ficar na Liquigas-Domio, que conta com a presença de Daniele Benatti, Vincenzo Nibali, Franco Pellizotti ou Roman Kreuziger. Kreuziger, com a sua importância de certa forma ameaçada na formação italiana, poderá rumar à Omega Pharma-Lotto, que muito recentemente perdeu Cadel Evans para a BMC.

O inglês voador de 2009, Mark Cavendish, ficará na Team Columbia HTC, com a companhia de Tony Martin, mas já sem Kim Kirchen. O alemão optou por rumar à Team Katusha, que esta temporada contará com Filippo Po¬zatto, Serguei Ivanov, Vladimir Karpets e o recém adquirido Joaquim Rodríguez (ex-Caisse d’Epargne).

Sempre candidato a uma grande vitória em 2010, o ciclista da Saxobank Andy Schleck mantém-se envolto na mesma estrutura da temporada passada, com a presença do seu irmão Frank, do relógio suíço Fabian Cancellara e com a contratação de Sebastián Haedo. Óscar Freire e Dennis Menchov são as principais apostas de outra equipa ligada à banca, a Rabobank.

Uma habitué no pelotão internacional, a Euskatel Euskadi continua fiel à sua vocação de sempre: tacar forte a montanha. Igor Sanchéz Galdeano, Samuel Sanchéz, Igor Anton e Romain Sicar (campeonato mundial de sub-23) são as apostas da formação basca. Por sua vez, a equipa Quick-Step conta com Sylvian Chavanel e Tom Boonen e com um trunfo importante: uma ligação à Eddie Mercx Cycles que permitirá acesso a material de topo.

Quanto ao segundo escalão do ciclismo mundial,Continental Professional, destaque para a presença de grandes nomes do ciclismo. Cadel Evans (ex-Omega Pharma-Lotto), George Hincapie (ex-Team-Columbia), Alessandro Ballan (ex-Lampre) e Arcus Burghart (ex-Team-Columbia) irão ser os grandes nomes da recém criada BMC Racing Team.

Outra equipa de segundo patamar com grandes nomes é a Cervelo Test Team, que conta com o vencedor do Tour 2008 Carlos Sastre, Xavier Tondo (ex-Andalucía-Cajasur), Thor Hushovd e Heinrich Haussler.

Ainda olhando para a lista de 19 equipas admitidas para Continental, de realçar a presença da brasileira Scott – Marcondes César São José dos Campos, que pretende lançar o nome do Brasil na alta-roda do ciclismo. «Temos atletas estrangeiros na equipa, mas a prioridade são os ciclistas do Brasil. Queremos dar a oportunidade para nossos ciclistas, agregando a experiência de corredores estrangeiros e, assim, formar ciclistas brasileiros de alto nível, numa equipa brasileira», refere José Carlos Monteiro, o director-desportivo da formação.

Por fim, e após uma decisão polémica, ficou-se a saber que Nelsón Oliveira,vice-campeão mundial de sub-23, não irá competir ao mais alto nível devido a uma questão burocrática que retirou a licença de Continental à Xacobeo Galicia.

Por David Marques

Mais do que uma palestra sobre jazz, o evento realizado a 10 de Dezembro na Universidade do Algarve serviu, acima de tudo, para homenagear o «homem dos cinco minutos». José Duarte foi um dos principais impulsionadores do jazz em Portugal. Já passou meio século desde que começou.

Cerca de 60 pessoas assistiram à homenagem a José Duarte, que se revelou surpreendido com a sala bem composta: «Já fiz sessões para uma só pessoa, há uns anos em Estremoz», afirmou bem-disposto. A sessão solene, aberta por Vítor Reia-Baptista, contou com a intervenção de João Guerreiro, Reitor da Universidade do Algarve, Zé Eduardo, presidente da Associação Grémio das Músicas, e ainda com a presença de Luís Oliveira, subdirector da Faculdade de Ciências Humanas e Sociais, e Mirian Tavares, coordenadora do Centro de Investigação em Artes e Comunicação (CIAC).

Radialista por excelência, José Duarte iniciou o seu já longo casamento com a música jazz em 1958, ano em que, com Raul Calado, fundou o Clube Universitário de Jazz. «Era um local de luta contra o Hot Clube de Portugal [o primeiro clube de jazz do país, que não permitia, porém, mais de 100 sócios inscritos em simultâneo]. Foi selado pela polícia três anos depois, porque iam lá muitos homens de esquerda, os futuros dirigentes dos movimentos de libertação das colónia e até o Jorge Sampaio», recordou o apresentador da Antena 2 que conduz, de segunda a sexta, o programa «Jazz com brancas».

Celebrizado pelo programa de rádio «5 minutos de jazz», numa época em que os swings da música afro-americana não eram vistos com bons olhos pela sociedade portuguesa e pelo antigo regime, José Duarte destacou-se por inúmeros outros trabalhos empreendidos sempre com o objectivo de divulgar o jazz em Portugal, organizando, inclusive, concertos de respeitados saxofonistas norte-americanos como Steve Lacy e Frank Wright, em 1972 e 1973, respectivamente.

Admirador de jazz como poucos, José Duarte torce o nariz à música actual. «Com a tecnologia moderna constroem-se solos que os músicos nunca tocaram», diz, sem se esquecer, no entanto, de indicar a grande virtude do movimento artístico-cultural: «O Jazz é uma música de improviso».

Como é ser Jornalista?

Por Marta Miranda e Raquel Rodrigues

O quê? Quem? Onde? Quando? Como? Porquê? São as questões que envolvem a vida diária de um jornalista, em busca da novidade, do interessante, das notícias que fazem o nosso dia-a-dia. Três jornalistas contam à Redacção 2.3 como lidam com a missão de informar os públicos e lhes oferecer todo o conhecimento que conseguem transportar para os vários meios de comunicação.

«Fazer jornalismo não é ser estrela de televisão, isso é o que menos interessa. Ser jornalista é colocar as pessoas em lugares onde não é possível estarem na realidade.» João Tiago

João Tiago, jornalista da SIC, do Jornal Barlavento e da Agência LUSA seguiu os seus instintos ao entrar para o curso de Ciências da Comunicação na UAlg, na expectativa de ingressar na área de Marketing. Com o passar dos anos descobriu o prazer de dar a notícia. «Os professores que tive, o incentivo e a maneira de ensinar despertou em mim a vontade do jornalismo», afirma.

«Não acho que a UAlg dê menos oportunidades aos alunos, comparando com as outras. É verdade que lá em cima há mais oferta, mas também mais procura e concorrência. Eu estou feliz com as oportunidades que me surgiram, e não o seria se não estivesse no Algarve”, confessa o jornalista.

Com uma vida agitada e imprevisível, João Tiago conta-nos um pouco como é o seu dia-a-dia: «A vida de um jornalista é comandada pelo telemóvel. Nunca se pode dizer que o dia é estipulado de uma certa maneira, porque é sempre imprevisível. Estamos sempre em cima da notícia e sempre dependentes disso.»

Trabalhador, ocupado e com gosto pelo que faz, o jornalista incentiva os alunos que frequentam o curso de Ciências da Comunicação na UAlg a «ter vontade de aprender, trabalhar e empreender», sublinhando que estas são as qualidades de um bom profissional.

«Em qualquer actividade o importante é sempre acreditar, saber o que se quer e ter objectivos definidos. Criar uma atitude pró-activa, cometer erros e aprender com eles. Ser respeitosamente persistentes.» Paulo Baptista

Paulo Baptista, animador/locutor da Cidade FM Algarve, apaixonou-se por outro lado do jornalismo. «Personalidade, criatividade e liberdade», são as palavras que, na opinião do locutor, desmistificam um pouco o que é a rádio.

Inserido no mundo do som, onde a notícia é falada e não escrita, assume que a comunicação sempre foi um objectivo desejado. «Fui muito influenciado por uma professora que me marcou muito, e que me fez ver a área que queria seguir», conta.

O ex-aluno da UAlg é um apaixonado pelo seu trabalho, numa das rádios mais ouvidas pelos adolescentes, chegando mesmo a afirmar que no seu trabalho gosta de tudo: «Tento divertir-me quando estou no ar e passar a minha personalidade para o outro lado, ser genuíno. Se conseguir tirar um sorriso de um ouvinte, fico muito contente.»

Está agora na rádio, mas em tempos já experimentou a imprensa escrita, onde as situações mais caricatas lhe passaram entre mãos. «Quando frequentava o curso tecnológico de comunicação, escrevi uma notícia sobre o 25 de Abril, publicada no Diário de Notícias. O Dr. Alberto João Jardim não gostou muito e deu barraca no parlamento regional, foi geradora de mais notícias durante uma semana nos vários meios de comunicação. É o que dá parecer ser do contra mesmo que tenhas 16 anos. Os meus amigos dizem a brincar que vim para o continente repatriado.»

Paulo Baptista acredita na máxima «Se plantares sementes e cuidares bem delas os frutos vão acabar por aparecer». E desafia os jovens que querem seguir esta profissão a serem pró-activos. Só assim conseguirão alcançar o que desejam.

«É bom que saibamos um bocadinho de cada área, para não sermos ignorantes e conseguirmos ter uma conversa com o entrevistado que vai para além da pergunta -resposta.» Marisa Rodrigues

Marisa Rodrigues, jornalista da TVI e correspondente do Jornal de Notícias no Algarve, licenciou-se há 6 anos em Ciências da Comunicação na UAlg. Gosta de informar, é da opinião de que a televisão é muito mais completa, mas que a imprensa escrita lhe dá mais liberdade. «Em televisão temos menos tempo para escrever embora no jornal também tenhamos o espaço limitado pelos caracteres mas é um desafio maior, especialmente quando não temos fotografia e mesmo quando temos, o único suporte é de facto a nossa palavra. Quando se faz jornalismo escrito as palavras têm que ter mais cor do que em televisão porque é só isso que sustenta o nosso trabalho», diz-nos.
«Não consigo é não fazer as duas coisas. Muitas vezes chego à redacção e tenho uma peça de 1minuto e meio para fazer e sinto que a informação que estou a dar é muito incompleta, mas fico descansada porque sei que tudo aquilo que não usei mas que recolhi, vou poder usar no jornal. No meu caso, uma complementa a outra. Já trabalho assim há algum tempo e não me vejo a fazer uma coisa só», conta a jornalista.

Satisfeita com a oportunidade, assumiu que as disciplinas práticas que teve durante o curso lhe abriram os olhos, na medida em que pôde experimentar um pouco de todas as áreas, e mesmo que seja apaixonada pela televisão e pela escrita, não se sente ignorante noutros registos. Enquanto estudante, participou no PERU (Projecto experimental da rádio universitária), onde exercia a função de repórter de rua.

Descreve-nos o seu dia como imprevisível. Dependente do que acontece, do que lhe comunicam, da noticia, do momento. E acrescenta que como a TVI Algarve faz a cobertura de todo o Algarve, Baixo Alentejo e Andaluzia pode nem ter tempo para dormir em casa. «Podemos vir trabalhar para Faro de manhã e arriscamo-nos a ir para Espanha e a ter de passar lá a noite, já aconteceu.»

Humildade, polivalência, não ter medo, ser activo, trabalhador, interessado e estar atento a tudo o que acontece são os conselhos que Marisa dá a todos os que querem ingressar nesta área.
“Pegar numa câmara, tirar uma foto, num gravador e fazer o trabalho. Actualmente a qualidade não tem sido muito premiada. É mais a polivalência.»

Festival da Batata Doce de Aljezur

Por Daniel Lopes, Ivan Cordeiro e Tiago Francisco

A vila algarvia promoveu um fim-de-semana de festa e convívio dedicados aos sabores regionais

Mesmo sem o fervor de outros anos, o Pavilhão das Feiras em Aljezur encheu-se de gente e acolheu, de 4 a 6 de Dezembro, o 12.º Festival da Batata Doce. Este ano ficou especialmente marcado pela classificação da batata doce de Aljezur como Indicação Geográfica Protegida (IGP) pela Comissão Europeia. A organização foi responsabilidade da Câmara Municipal de Aljezur e da Associação de Produtores de Batata Doce de Aljezur.

Durante os três dias do festival, o espaço recebeu a visita de milhares de aljezurenses e curiosos que se deslocaram à vila algarvia para provar as delícias feitas à base da tradicional batata doce.
Sem direito a animações musicais ou demais espectáculos, o Festival dedicou-se por inteiro à gastronomia da raiz tuberculosa. E a noite mais animada parece ter sido mesmo a da abertura, marcada pela presença de José Amarelinho, Presidente da Câmara Municipal de Aljezur (na foto), dos vereadores de Aljezur e de municípios vizinhos, presidentes de junta, e de Isilda Gomes, Governadora Civil de Faro.

Jorge Pacheco, bombeiro da corporação de Aljezur, garante que «o Festival perdeu força quando deixou de ter o perceve». Tudo mudou em 2006. Até então, o Festival era dedicado à Batata Doce e ao Perceve, porém, com os despachos da Portaria nº385/2006, e os que se seguiram, o crustáceo foi retirado do Festival. Apesar dos restaurantes presentes ainda aludirem a um dos ex-libris de Aljezur, o Ministério da Agricultura, do Desenvolvimento Rural e das Pescas dificulta a vida aos mariscadores e promove uma época de defeso do perceve que dura entre Setembro e Dezembro, altura em que a batata doce abunda. Consequência directa ou não da decisão, o facto é que em quatro anos o espaço diminuiu e cada vez tem menos barracas destinadas ao comércio local, menos animação, concursos e jogos. «Já não há tantos esforços por parte da Câmara e depois também se começa a notar que há menos visitantes. Antes havia espectáculos à noite e a entrada era paga. Agora é grátis e mais parece uma feira local», nota Jorge Pacheco.

Estes despachos servem, nas palavras do Ministério, para evitar a mariscagem desenfreada e sem regras que ameaçava o seu desaparecimento. Arlindo Serafim, dono de um restaurante em Aljezur, disse à Redacção2.3 que deixou «de ir ao mar por causa do Ministério».
À pergunta sobre se é mariscador, responde «antes de haver esses despachos, era um mariscador lúdico, fazia daquilo o meu hobby. Mas agora, tive que deixar esse passatempo. Não fui o único a que se viu nesta situação».

Ainda assim, António Henrique, Presidente da Associação de Produtores de Batata Doce de Aljezur há largos anos, afasta qualquer decréscimo na fama e sucesso do Festival, afirmando que «o Festival não perdeu em nada com a separação do perceve. É certo que pode ter sido abalado no início, mas agora já ninguém se lembra do Festival conjunto. O mais importante é a batata doce e este ano assistimos a uma excelente qualidade de produção. Aliás, as vendas estão a correr bastante bem».

Apesar das opiniões se dividirem entre um sucesso e um fracasso, a organização afirma não ter dúvidas de que os principais objectivos foram alcançados, divulgar a batata doce e dinamizar a economia local. Não é certo que a próxima edição traga de volta a animação e os espectáculos, mas a batata doce estará com certeza de volta a este ex-líbris de Aljezur e um dos mais conhecidos certames do Algarve.

Por: Grethel Ceballos, Sofia Trindade e Vanessa Costa

EUROPEUS SENTEM-SE DISCRIMINADOS


O EUROBARÓMETRO DE 2009 REVELA QUE UMA EM CADA SEIS PESSOAS NA EUROPA AFIRMA TER SIDO VÍTIMA DE DISCRIMINAÇÃO


Tatyana (nome fictício) destaca-se pelo tom de pele, muito branco, pelos olhos verdes e pela sua peculiar pronúncia. Chegou a Portugal em 2000, vinda de leste. Abandonou a pátria e há 6 anos que trabalha em Faro, onde vive com o marido e a filha.


A vitória de Tatyana não foi só chegar ao nosso país, mas também arranjar trabalho. «Há muito preconceito» diz a emigrante, acrescentando que o factor da idade, ou seja, os seus 46 anos, foi causa de discriminação ao conseguir emprego.


A ex-professora é hoje em dia funcionária de limpeza. Depois de muitos «não», está empregada, mas sublinha que apesar de discriminada pela nacionalidade e idade estes trabalhos são dados a pessoas nas mesmas condições que ela, que muitas vezes se subjugam a salários mais baixos, horários maiores e tarefas mais difíceis. «Tenho muitas amigas [de leste] a trabalhar como eu, a fazer o mesmo».


«Tatyana» não dá o nome, não se trata de nome. Trata-se de caras, de histórias e ela partilhou a sua connosco. Um exemplo dos muitos casos de discriminação que ilustra a realidade comprovada pelo último estudo europeu neste âmbito.



EUROBARÓMETRO MEDE DISCRIMINAÇÃO


A discriminação baseada na idade é um problema crescente, segundo a maioria dos europeus.

A UE começou a sondar a opinião pública sobre esta problemática em 2006 como parte de uma campanha para sensibilizar as pessoas para os seus direitos.


Três anos depois, no mês de Novembro, revelou os resultados do Eurobarómetro sobre «Discriminação na União Europeia».


O inquérito efectuou-se durante os meses de Maio e Junho. Ao todo foram inquiridas mais de 27 000 pessoas nos 27 países da UE e em três países candidatos (Croácia, Antiga República Jugoslava da Macedónia e Turquia).


Um em cada seis (16%) europeus afirmou ter sido vítima de discriminação (com base na idade, etnia, religião, sexo, e na orientação sexual). A percentagem manteve-se em grande medida inalterada em relação aos valores obtidos em 2008.


«A discriminação continua a ser um problema na Europa e a percepção deste fenómeno pelas pessoas manteve-se estável em comparação com o ano anterior», aclarou Vladimír Špidla, o Comissário Europeu responsável pela Igualdade de Oportunidades. «É, nomeadamente, preocupante que a percepção da discriminação baseada na idade esteja a aumentar em consequência da recessão. Estes resultados revelam que, apesar dos progressos alcançados, temos ainda um longo caminho a percorrer se pretendemos sensibilizar as pessoas para os seus direitos em matéria de igualdade de tratamento, em particular a nível nacional, e garantir que a igualdade não seja apenas uma frase vazia, mas possa tornar-se uma realidade», acrescentou.
A discriminação contra grupos étnicos é ainda considerada o maior problema, com 61% dos inquiridos a considerá-la comum no seu próprio país.


No entanto, surge neste domínio uma preocupação acrescida com o factor idade. 58% dos europeus apontam que este tipo de está generalizada no seu país. Para 64% dos europeus, a actual recessão poderá agravar a discriminação com base na idade que se verifica no mercado de trabalho.


Esta preocupação pode ser consequência da situação económica que muitos países europeus vivem, em consequência do abrandamento financeiro. Também pode ser sinal de uma maior consciencialização por parte das pessoas relativamente a esta forma de discriminação.
Para denunciar os casos de discriminação, a maioria dos europeus prefere contactar primeiro a polícia (55%), ao passo que 35% optam por recorrer ao organismo nacional competente em matéria de igualdade e 27% a um sindicato. A confiança nas diversas organizações que intervêm na luta contra a discriminação varia fortemente de país para país.



PORTUGUESES QUEIXAM-SE DE DISCRIMINAÇÃO SEXUAL



Por terras lusas a orientação sexual é apontada como o principal factor de discriminação no país, à frente da origem étnica e da deficiência.


Em Portugal foram entrevistadas pela TNS Euroteste 1.020 pessoas. Os dados divulgados pelo Eurobarómetro revelaram que 58% dos portugueses consideram comum a discriminação em função da orientação sexual, enquanto, que em média, os europeus apontaram-na apenas como o quarto tipo mais comum de discriminação.


A discriminação devido à origem étnica e a deficiência foram também consideradas habituais pela maioria dos inquiridos, surgindo como os mais importantes tipos de discriminação em Portugal imediatamente a seguir à orientação sexual (57% em ambos os casos).


Apenas um em cada quatro portugueses (24%) admite conhecer os seus direitos se for vítima de discriminação ou assédio, sendo este o terceiro valor mais baixo da UE (a par da Polónia e apenas à frente da Bulgária e Áustria), numa média comunitária de 33%.


Vladimir Spidla, afirmou ainda que «apesar dos progressos alcançados», ainda existe «um longo caminho a percorrer", sobretudo no sentido de "sensibilizar as pessoas para seus direitos em matéria de igualdade de tratamento, em particular em nível nacional, e garantir que a igualdade não seja apenas uma frase vazia, mas possa se tornar uma realidade».



MUITAS ORGANIZAÇÕES E UM ÚNICO OBJECTIVO


Os resultados deste último inquérito Eurobarómetro precederam a realização da Cimeira Europeia da Igualdade deste ano. Foi nos dias 16 e 17 de Novembro que se realizou em Estocolmo a III Cimeira Europeia da Igualdade. Organizado em conjunto pela Presidência Sueca da União Europeia e a Comissão Europeia, este evento anual visou eleger a discriminação e a diversidade como questões prioritárias, ao mais alto nível das agendas políticas da UE e dos governos nacionais, e possibilitar uma partilha de conhecimentos e experiências, tendo em vista a determinação de abordagens mais eficazes para combater todas as formas de discriminação.

Esta Cimeira representou apenas um dos esforços realizados na UE no sentido de ajuda a combater a discriminação em relação à religião, idade, deficiência ou orientação sexual.

Ainda este ano a campanha «Pela diversidade. Contra a discriminação.» organizou, pela primeira vez, uma série de Dias da Diversidade que tiveram lugar no Chipre, no Luxemburgo, na Suécia e em Portugal.


Em Portugal, os Dias da Diversidade decorreram durante quatro dias (15 a 18 de Outubro) no Centro Comercial Colombo em Lisboa, onde foram organizadas actividades para avivar o tema da identidade e da diversidade.


Para demonstrar o seu apoio à diversidade e fomentar a sensibilização para a discriminação, entre 2004 e 2005 milhares de pessoas também participaram em maratonas e corridas em cidades da Europa como Roma e Roterdão vestindo as camisolas amarelas da campanha «Pela diversidade. Contra a discriminação.».


Presentemente, existem vários organismos nacionais de promoção da igualdade na grande maioria dos Estados-Membros da UE. Estas organizações aconselham pessoas que foram discriminadas e explicam-lhes os seus direitos e a forma como devem apresentar queixa, realizam estudos sobre a discriminação e publicam relatórios sobre o tema, de forma a ajudar a melhorar o conhecimento do problema e contribuir para encontrar soluções.


Também existem organizações não governamentais (ONG) activas no campo da discriminação e da diversidade em toda a Europa. Estas ONG promovem a sensibilização para a discriminação.
Entre as várias organizações europeias que se debruçam sobre a problemática da discriminação, poderão ser realçadas a YFJ que promove os direitos dos jovens; a ILGA que promove os direitos dos gays, lésbicas, bissexuais e trangéneros; a AGE que promove os direitos das pessoas idosas; a EDF que promove os direitos das pessoas com deficiência e a ENAR que promove os direitos das pessoas pertencentes a minorias raciais, étnicas ou religiosas.


É encorajador verificar que, segundo os dados do Eurobarómetro, distintos mecanismos sociais permitem ultrapassar situações de discriminação. O relatório mostra que os círculos sociais, os esforços realizados a nível da educação e as campanhas de sensibilização estão a contribuir para uma maior aceitação da diversidade. As iniciativas e medidas políticas que procurem basear-se nesta realidade poderão ajudar a combater a discriminação e a promover a diversidade.

«Mensageiros de volta» na UAlg

Por Ângela Gago, Lénia Maria, Isa Mestre, Fábio Lima e David Marques

O motivo da sessão era, nas palavras de Vítor Reia-Baptista, professor da Universidade do Algarve, contactar com «um dos maiores factores de Literacia dos Media: a figura do provedor». Foi precisamente nesse sentido que Paquete de Oliveira, Adelino Gomes e Joaquim Vieira, provedores da RTP, RDP e Público, se deslocaram à academia no passado dia 26.

Nesta aula aberta que contou com a presença de aproximadamente meia centena de alunos e professores, coube ao presidente do Conselho Executivo da Escola Superior de Educação e Comunicação abrir a sessão. Jorge Santos agradeceu a presença dos convidados e realçou a importância deste tipo de iniciativas para a Universidade.

«OMBUDSMAN» era a palavra sueca projectada atrás dos oradores da palestra. No seu sentido literal significa «mensageiro de volta, ou seja, que traz de volta a mensagem», explicou o Prof. Vítor Reia - Baptista. No âmbito do tema desenvolvido ao longo da palestra, Vítor Reia-Baptista, o anfitrião do evento, destacou a importância dos três C’s na literacia dos media. «A literacia é um conjunto de três dimensões: cultural, crítica e criativa», explicitou o professor do curso de Ciências da Comunicação.

Em jeito de abertura, os três mensageiros optaram por partilhar com os alunos a sua experiência enquanto provedores dos três meios em que trabalham, realçando as diferenças no exercício das suas funções em rádio, televisão e imprensa.

Adelino Gomes, provedor da Rádio Difusão Portuguesa, foi o primeiro a caracterizar o seu papel no mundo dos media: «Ser provedor implica uma dupla função, implica dar voz às críticas, mas por outro lado implica que o provedor tem de ouvir o jornalista».

Já Joaquim Vieira, provedor do jornal Público, encara a profissão de um modo um pouco diferente, considerando que «o provedor é o “grilo do Pinóquio”, uma espécie de voz da consciência que alerta os jornalistas para situações erradas».

Por sua vez, Paquete de Oliveira, da televisão pública, procura «desempenhar esta função como mediador entre quem faz televisão e quem vê televisão, provocando uma interactividade forte entre os telespectadores». Ainda assim, no universo da provedoria, «o papel de mediador nem sempre é fácil» pois «os jornalistas não gostam de alguém a ‘olhar por cima do ombro’, a criticar o que eles produzem», opinou Joaquim Vieira.

Aproximando-se o final da palestra, abriu-se espaço para um debate aceso onde tanto docentes como alunos assumiram o papel de “telespectadores” e onde os oradores desempenharam o papel de «verdadeiros ´fios do back’ dos processos de comunicação dos media», como rematara Vítor Reia-Baptista, brincando com as palavras.

A discussão abrangeu temas dos vários domínios da comunicação, entre os quais a separação entre as notícias e a publicidade. «Devia existir uma divisão entre a publicidade e os conteúdos editoriais. É como haver separação entre a Igreja e o Estado», opinou Joaquim Vieira.

Na hora de fazer um balanço da sua actividade, os provedores foram unânimes: «as pessoas que estão satisfeitas escrevem aos directores e escrevem aos provedores as que querem reclamar, criticar e não aplaudir. É positivo pois consideram o provedor o seu porta-voz», conclui Paquete de Oliveira. «Sinto o feedback dos leitores pelo meu trabalho, penso que isso é positivo», concorda Joaquim Vieira.

Por Isa Mestre



Quando o leu pela primeira vez Saramago disse ter tido a clara sensação de «estar a assistir a um novo parto da Língua Portuguesa». valter hugo mãe, vencedor do Prémio Saramago em 2007, nascera trinta e cinco anos antes da distinção, na humilde cidade de Saurimo, em Angola. Hoje, em entrevista, o escritor que agitou os sismógrafos da literatura portuguesa abre-nos a porta dos seus pensamentos e deixa-nos antever uma nesga dos projectos futuros. Paciente, simples e profundo, o escritor português diz buscar apenas «tudo quanto existe dentro de si e dos outros». Rejeita a palavra triunfo e encara a sua afirmação no panorama literário português com a única tradução da palavra sucesso em que acredita: gratidão.

Redacção 2.3: Conte-nos um pouco acerca do seu percurso literário… Que dificuldades enfrentou? Como conseguiu triunfar no mundo da literatura nacional? O que sentiu ao ver um livro seu publicado pela primeira vez?

vhm: Não gosto da palavra triunfo, parece que estou em alguma corrida ou concurso. Parece que para eu ganhar alguém teria de perder. Não vejo as coisas assim, trabalho no que sempre quis, escrevo com a convicção de que é o melhor que posso dar aos outros. Se acontece de os meus livros serem cada vez mais lidos, talvez seja da natureza do tempo, da natureza dos que persistem e acreditam em algo.

R2.3: A ausência de maiúsculas é uma das características da sua escrita. É um modo de criar um estilo próprio ou apenas uma preferência ao nível literário?

vhm: Tem que ver com muita coisa. Com a aceleração do texto, a mesma dignificação das palavras, a limpeza formal e o desafio literário que me coloca.

R2.3: Foi vencedor de dois dos prémios mais conceituados em Portugal: o Prémio de Poesia Almeida Garrett e o Prémio Saramago. Sente de alguma forma o peso do seu sucesso?

vhm: Sinto-me grato. Talvez essa possa ser uma tradução da palavra sucesso em que acredito: a gratidão.

R2.3: Como caracterizaria o valter hugo mãe que encontra quando escreve?

vhm: Um rapaz com uma necessidade profunda de encontrar tudo quanto existe dentro de si e dos outros. Muito ansioso no acto da escrita, muito paciente e calmo para a vida dos livros.

R2.3: Como é ser escritor no século XXI?

vhm: Talvez usar de uma maior rapidez. Não sei. O Camilo escreveu como um escravo, foi rápido, sem dúvida. Não sei. Mas acho que, no que me diz respeito, sinto o nosso mundo como profundamente acelerado em relação ao que terá sido até décadas atrás. Na torrente, escrever neste tempo é estar sujeito (ou poder estar) a uma vertigem que traz novos ritmos para a escrita e para a leitura.

R2.3: Em duas palavras, como caracterizaria a literatura portuguesa?
vhm: Muito boa.

R2.3: José Saramago afirmou, em 2006, que o seu romance remorso de baltazar serapião se tratava de uma revolução. O Nobel diz ter tido a sensação de estar a assistir a um novo parto da Língua Portuguesa. Considera-se rebento de uma nova geração de talentos?

vhm: Hummm. Faço parte de uma geração, mas já não acho que seja mesmo a nova. Estou com 37 anos e careca. Isso de dizerem que sou um jovem escritor é só porque há gente mais velha. Mas a nova geração de escritores já são outros. Eu talvez faça parte de uma geração que, subitamente, se demarca. Também tem que ver com o tempo. É o tempo de o público descobrir o nosso trabalho. Tarda nada, viramos clássicos (se tivermos mesmo sorte) e depois o público vai querer saber de gente que já nasceu depois de nós. É natural.

R2.3: A sua poesia está traduzida em países como Espanha, Brasil, República Checa, Tunísia, Israel e até mesmo Estados Unidos. Qual a sensação de ser lido um pouco por todo o mundo?

vhm: É bom, isso de podermos comunicar com um público tão lato que ultrapassa já fronteiras e línguas. No entanto, cria também algumas angústias. O processo de tradução revela sempre algumas dificuldades em reproduzir o mesmo efeito numa língua diferente. Mas vamo-nos habituando. Faz parte.

R2.3: Qual a mensagem que pretende passar ao mundo com a sua escrita?

vhm:
Muitas. Talvez a mais permanente é a de que considero que devemos acreditar e exigir mais da humanidade, em detrimento de ilusões religiosas e políticas de ego.

R2.3: Que projectos podemos esperar para o futuro? Está para breve o lançamento de um novo livro?

vhm: Estou a escrever o meu novo romance (ainda sem título). Deverá sair apenas em 2010. Entretanto foram publicados pela Booklândia dois livros meus para crianças, «A verdadeira história dos pássaros» e «A história do homem calado». Estou muito entusiasmado com estes livros e quero seguir a colecção com novos títulos. Sempre quis escrever para os mais novos, agora sinto que chegou o tempo de o fazer.

Por Grethel Ceballos

Uma aldeia solar experimental, construída em pleno Alentejo, está a ser testada por uma eco-comunidade. O projecto recorre a vários protótipos tecnológicos para tornar uma comunidade de 50 pessoas auto-suficiente a nível energético.

Autonomia energética

Quem avança alguns quilómetros por uma estrada de terra batida, próxima de Colos, em Odemira, depara-se com um cenário diferente ao esperado. A inovação tecnológica imiscui-se com a paisagem campestre. Numa área com mais de 150 hectares, em Tamera, encontra-se o campo de testes de uma Aldeia Solar.

O projecto iniciou-se no mês de Outubro e terá a duração de um ano. A responsabilidade é da eco-comunidade de Tamera, que pretende demonstrar que, sem a utilização de combustíveis fósseis ou poluentes, é possível efectuar variadas tarefas domésticas, tais como «bombear água, produzir e cozinhar alimentos, aquecer e iluminar as casas».

A aldeia solar é um modelo alternativo para uma futura comunidade ou aldeia da paz, que pode ser generalizado e erigido em qualquer lugar na Terra que tenha uma quantidade de luz solar razoável. O motivo da escolha da região alentejana é evidente: está privilegiada em exposição solar.

«A ideia é viver um ano inteiro com esta tecnologia, ver como funciona e encontrar os pontos fracos e fortes, para poder projectar um modelo para a Tamera inteira», onde vivem mais de 150 pessoas, explicou à Agência Lusa Barbara Kovats, coordenadora da Aldeia Solar.

Protótipos tecnológicos

A aldeia solar experimental, que visa a auto-suficiência energética de 50 pessoas, conta, por exemplo, com uma estufa multifuncional que possibilita o cultivo de alimentos com pouco consumo de água. Ainda, aquece óleo vegetal que é acumulado num receptáculo.
Junto da cozinha, construída no âmbito do projecto, um espelho, com cerca de dois metros de diâmetro, desperta a curiosidade: «É um espelho de foco fixo, que vai reflectir o Sol para um tacho próprio, que aquece água em cerca de 30 minutos», explica Fabian Deppner, também membro da Tamera e colaborador no projecto. Outro protótipo em testes no Alentejo é a bomba de água, que trabalha, à semelhança dos restantes sistemas, apenas com energia solar termal.

Eco-aldeias

Uma eco-aldeia, pequena comunidade de indivíduos numa estrutura social coesa, está sedimentada em três dimensões: comunidade, ecologia e espiritualidade. O objectivo é promover um estilo de vida aos seus membros em harmonia com a Natureza.

Apesar da propagação do conceito nos últimos anos, as comunidades humanas sustentáveis ainda dão passos tímidos em Portugal, e a maioria das pessoas parece não estar preparada para abdicar do seu estilo de vida actual.

Porém, já está em fase de formação a Rede Portuguesa de Eco-aldeias e Comunidades Sustentáveis, a cargo da organização Global Ecovillage Network. O objectivo é «promover o desenvolvimento de comunidades humanas sustentáveis em território Nacional, facilitar a troca de informações e a colaboração entre todos os membros portugueses pertencentes à rede mundial, e disseminar o conceito de eco-aldeia, práticas e centros de demonstração». Esta rede pretende «encorajar sistemas que integrem ecologia, educação, mecanismos de participação em decisões, espiritualidade, bem como tecnologias e negócios ecológicos».

Até ao momento, em Tamera utilizam-se energias à base de combustíveis fósseis. A próxima etapa do projecto será granjear patrocinadores, para desenvolver a tecnologia e planejar sua proliferação.

E no seu caso, se comprovada a viabilidade do projecto, será capaz de abandonar a sua vida actual e aderir a uma eco-comunidade?

As tecnologias utilizadas na Aldeia Solar foram na sua maioria inventadas pelo alemão Jürgen Kleinwächter, que colabora com esta comunidade residente no Alentejo, que acaba por ser o seu «campo de ensaio».

Por Raquel Rodrigues e Marta Miranda

João Guerreiro foi reeleito reitor da Universidade do Algarve no passado dia 17 de Novembro. Eleito pelo Conselho Geral com 21 votos de 35 possíveis, ganhou com maioria aos seus concorrentes, Helena Pereira, com 7 votos, e Rodrigo Magalhães, com apenas 4 votos. A eleição foi ainda marcada por 2 votos em branco e pela falta de comparência de um dos membros do conselho.

À saída da sessão eleitoral, Fernando Ulrich, Presidente do Conselho Geral da UAlg, considerou que o processo eleitoral decorreu conforme o previsto, sem qualquer incidente. «Tivemos três candidatos muito fortes, com currículos importantes, salientou, acrescentando que «os programas de acção também foram de grande qualidade». No final, a escolha recaiu sobre o Prof. João Guerreiro, que se recandidatou ao cargo após ter sido eleito em 2006 e ter apresentado em Junho passado a sua demissão.

Depois de ter sido informado da sua reeleição, João Guerreiro não deixou de salientar o seu objectivo primordial para a UAlg, promover a internacionalização de instituição, pois segundo afirmou: «temos de alargar os nossos horizontes, de forma a captar estudantes nas áreas em que somos bons. Este salto para fora da região, é fundamental para a afirmação da UAlg».

A internacionalização da instituição não visa só o campo da investigação e da promoção de pós-graduações, mestrados e doutoramentos com universidades de outros países, mas também o alargamento do recrutamento de novos estudantes «a outras regiões da Europa». «Temos protocolos com 150 universidades, mas o que interessa é ter um núcleo duro nas principais áreas de investigação da universidade», salientou João Guerreiro afirmando ainda as suas prioridades para este mandato: «vamos valorizar as ciências do mar, a biomedicina e medicina, o turismo, as energias, as telecomunicações, a literatura e a história».

O reitor reeleito sublinhou também que «esta internacionalização é uma linha de desenvolvimento fundamental para a UAlg para criar dimensão, escala e, no fundo, espessura naquilo que é a nossa investigação. Mas também é uma fonte de financiamento. Não lançamos as linhas de internacionalização com esse fim, mas há esse benefício associado». Todos estes objectivos serão para realizar a longo prazo, pois agora há que reforçar mais o trabalho na estrutura interna da instituição, com o objectivo de fazer cumprir os novos estatutos da UAlg aprovados em 2008.

João Guerreiro está ciente deste trabalho que de ser realizado: «o que teremos de fazer, de imediato, é consolidar a estrutura interna. Temos novos estatutos que ainda estão implantados a meio gás. Temos de aliar todas estas coisas e arranjar os melhores mecanismos para o conjunto dos órgãos funcione na perfeição. Na parte orgânica, isso obriga também a definir e a aplicar um conjunto de soluções informáticas que permitam agilizar o circuito interno de informação. Esta é uma parte pesada que vai tomar boa parte do mandato», apontou.

O Professor revelou ainda que novos projectos e objectivos estão a ser desenvolvidos para a UAlg ao abrigo do contrato que o ministério do Ensino Superior propôs às universidades, referindo «é uma iniciativa que nos permitirá reequilibrar o subfinanciamento das universidades». Nos próximos 30 dias será realizada uma cerimónia onde o actual reitor irá ser reempossado, com data a marcar pelo próprio.

Nos objectivos apresentados, João Guerreiro não esqueceu o seu projecto mais polémico, o de unir os campi universitários de Faro num só, com o objectivo de controlar os gastos e simplificar a estrutura da instituição. Fica no ar a ideia de que esta promessa poderá ser cumprida já neste mandato.

O «nosso» reitor

Por Grethel Ceballos, Sofia Trindade e Vanessa Costa

Dado que nesta decisão os alunos da UAlg não tiveram muito voto na matéria, a Redacção 2.3 foi saber se (re) conhecem o «novo» Reitor João Guerreiro.

O espírito crítico e capacidade de intervenção são ensinados a todos os estudantes a par das matérias, mas mesmo assim há alunos aos quais a eleição para o cargo de Reitor da UAlg passou ao lado, como constatámos. Em oposição a respostas tais como «não conheço» ou um simples «não», hesitações ou ainda jogos de um-dó-li-tá com os três candidatos, encontrámos alunos conscientes do marco decisivo que as eleições representam para a comunidade académica.

Críticas, foram maioritariamente as respostas, mas críticas construtivas, que pretendem guiar o reitor na construção de um espaço que cumpra os requisitos de todos, e no qual todos se sintam bem, para aprender e não só. Alguns alunos estão desanimados com o trabalho do reitor no último mandato, como João Marujo que o considera «um trabalho com pouco pulso porque ele foi basicamente eleito pelos alunos e deixou com que o conselho geral tivesse menos representatividade por parte dos mesmos». Outros esperam que as suas medidas sejam mais visíveis, como comentou Tânia Marques «aguardo que faça alguma coisa que eu veja, que faça alguma coisa e que os alunos tenham noção disso, não é?».

A pergunta desta estudante conduz-nos a outra, «porque é que Gambelas é tão diferente da Penha se todos pagamos as mesmas propinas?», lançada pela estudante Joana Gonçalves e rematada nas palavras de João Marujo, mas presente em todos os estudantes, «espero que ele diminua a discrepância que existe entre as Gambelas e a Penha e respeite a Constituição Portuguesa onde diz “ensino superior tendencialmente gratuito”». Mas não basta reconhecer o reitor, há que identificar as medidas do seu último mandado e julgá-las para que o dever e obrigação de reivindicação para com a universidade seja feito conscientemente.

Mudam-se os tempos, mantêm-se as vontades

Eleito pela primeira vez em 2006, João Guerreiro, em entrevista concedida ao Diário Online, apresentou suas metas a cumprir durante o mandato, que recaíam sobretudo sobre o alargamento da oferta de cursos e pós-graduações. Em plena adaptação ao Processo de Bolonha, as áreas das Energias Renováveis, Artes, Medicina e Língua Portuguesa formavam então as principais apostas para o reitor, «para além de mantermos o que existe, os [cursos] de primeiro ciclo e licenciaturas». O prometido curso de Medicina que, segundo João Guerreiro, «ao fim e ao cabo, trata-se de uma pós-graduação de quatro anos», recebeu em 2009 os primeiros alunos. Embora tenham surgido novos cursos, outros também deixaram de existir. Na altura, João Guerreiro referia que, em relação ao funcionamento interno da UAlg, havia «muito a fazer».

O reitor apresentou sua demissão em Junho de 2008, no sentido de repor a legalidade estatutária do Conselho Geral. Em conversa com o Barlavento e a RUA FM, apontava que a adaptação do seu programa teria sido «perturbada», pelo processo de aplicação do novo Regime Jurídico das Instituições de Ensino Superior (RJIES). Nessa mesma entrevista, o reitor defendia que, a nível financeiro, «o pior já terá passado». Quando questionado pelo jornal O Canudo acerca das estratégias que utilizaria para fazer face aos problemas financeiros da UAlg numa reeleição, João Guerreiro reiterou que espera um aumento dos recursos financeiros através do «aumento do financiamento do ensino superior com origem no Orçamento de Estado, da criação de projectos inovadores (…) e da formação de parcerias com o mundo das empresas e das instituições».

O programa de acção para a recandidatura de João Guerreiro orientou-se essencialmente no sentido de atingir dois objectivos gerais - «Concluir a instalação da totalidade dos órgãos» e «Projectar a Universidade». Como prioridades centrais, o reitor revelou a urgência no «acompanhamento e acreditação dos cursos e a preparação das propostas a apresentar ao Programa Erasmus Mundus» e na «adopção da nova estrutura orgânica». Estas metas pretendem-se ver cumpridas através de um Plano Estratégico composto por nove questões, algumas das quais: consolidar a oferta de graus e de diplomas, promover a investigação científica, aprofundar a internacionalização, adoptar uma prática de avaliação continuada, e reordenar os campi da Universidade, melhorar algumas instalações e garantir a manutenção das infra-estruturas.

São estes os planos a cumprir para que a Universidade do Algarve faça história no campo do ensino superior em Portugal. Uma universidade com um passado recente, com um presente reforçado pelo trabalho que reitor e alunos pretendem desenvolver, e um futuro promissor.

VIAGEM À HISTÓRIA DO CINEMA

Muro de Berlim caiu há 20 anos

Por: Daniel Lopes, Ivan Cordeiro e Tiago Francisco

O Muro de Berlim separava a República Federal Alemã da República Democrática Alemã

Marcou uma geração, separou famílias e amigos, causou a morte a centenas de alemães e arrastou consigo uma nação inteira. Conhecido por muitos como o «Muro da Vergonha», esse verdadeiro marco do século XX caiu há 20 anos, a 9 de Novembro de 1989, e só assim a Alemanha se voltou a unir, só assim a Europa se reunificou.

Edificado pela República Democrática Alemã, o muro circundava a parte da capital alemã que se encontrava ocupada pelos Estados Unidos da América, Grã-Bretanha e França. Construído a 3 de Novembro de 1961, tinha mais de 66km de comprimento e, durante 28 anos, teve como objectivo impedir a saída dos habitantes de Berlim Oriental para Berlim Ocidental. António Camacho, de 51 anos, conta a história de um familiar que estava emigrado na Alemanha, «Uma tia minha tinha-se mudado para Berlim em 58 e quando construíram o muro ela nem quis acreditar, de um dia para o outro deixou de poder atravessar aquelas ruas como fizera tantas vezes. As autorizações para atravessar o muro eram bastante complicadas». Durante 28 anos teve medo de a ir visitar, «Quando o muro caiu, foi ela que nos deu a notícia lá em casa. Ligou, toda contente, a convidar-nos para lá ir passar uns dias. As histórias de fuzilamentos e fugas concretizadas são inúmeras, não consigo imaginar quantos terão morrido por lá».

Passadas duas décadas após a sua queda, o governo alemão decidiu criar um muro em dominó para assinalar uma das efemérides mais importantes da história do país. Numa cerimónia em que Angela Merkel, chanceler alemã, foi a figura em maior destaque, estiveram presentes os dirigentes de todos os países membros da União Europeia, o russo Dmitri Medvedev, o polaco Lech Walesa, Hillary Clinton, a representar os Estados Unidos da América, e Mikhail Gorbachev, Secretário-Geral da União Soviética em 89, a quem coube a honra de empurrar o dominó. As comemorações ainda incluíram música e um ambiente de festa, que nem a chuva que caía em Berlim conseguiu estragar.

Por Portugal, também 9 de Novembro de 2009 ficou marcado pela queda de um muro. No Estádio da Luz o Benfica recebeu a Naval 1.º de Maio e, após 51 ataques e 27 remates, conseguiu adiantar-se no marcador e alterar o zero a zero inicial. Compostas por 11 homens vindos da Figueira da Foz, as tropas comandadas por Augusto Inácio construíram uma poderosa barreira que só caiu ao 89.º minuto. Terá sido inspiração ou simplesmente uma coincidência? Os únicos factos constatados foram as comemorações pelas quedas dos muros.

Fontes
Globo.com: http://g1.globo.com/Sites/Especiais/Noticias/0,,MUL1368137-17398,00.html
Euronews: http://pt.euronews.net/tag/queda-do-muro-de-berlim/
Visão: http://aeiou.visao.pt/canal-historia-recorda-queda-do-muro-de-berlim=f536097

Por: Grethel Ceballos, Sofia Trindade e Vanessa Costa

O Parkour, ou «l'art du déplacement», tem como princípio elementar a deslocação de um ponto a outro com a maior rapidez e eficácia possível. Oriundo de França, surgiu na década de 80 com o objectivo de ajudar a superar obstáculos de qualquer natureza no ambiente circundante — desde galhos a pedras, grades e até paredes. Apesar da crescente adesão por parte dos jovens, esta nova forma de expressão, ou tipo de desporto, está rodeada de polémica. Os traceurs Dace e CKK contaram à Redacção 2.3 a sua experiência e explicaram como caem seguros no que lhes dá tanto gosto fazer.



R2.3: O que é para vocês o Parkour?
Traceur Dace: Do ponto de vista físico, o Parkour consiste em chegar do ponto A ao ponto B o mais recto possível, sem fazer qualquer desvio. Do ponto de vista psicológico é ultrapassar todas as barreiras, visando sempre a evolução. Tornamo-nos cada vez melhores, mais conhecedores de nós próprios, mais capazes e visamos nunca desistir...

Traceur C.K.K: Parkour para mim é mais do que um desporto. É mais uma maneira de ver a vida do que um desporto. Para quem faz Parkour, um obstáculo é algo que se tem de ultrapassar, e não que se deve evitar ou contornar. Em Parkour, um obstáculo serve para nós evoluirmos, para nós próprios desbloquearmos a nossa mente e sabermos os nossos limites.

R2.3: Como se iniciaram nesta modalidade?
Dace: Para dizer a verdade, houve uma passagem de ano que não prestou para nada (risos). Eu e mais dois amigos lembrámo-nos de começar a treinar algo que tínhamos visto em vídeos que se chamava Parkour, mas não sabíamos realmente o que era. Para nós eram saltos e pronto. Começámos a treinar, mas não valíamos nada (risos). Demos pequenos saltos, mas gostámos bastante. Começámos a treinar e, a partir daí, a aprender mais. Conhecemos os vaults, ou os truques. Aprendemos a importância do Parkour, a sua filosofia e a componente mental. Ao fim de seis meses, num treino a que eu não fui, o C.K.K foi treinar. Havia uma parede que diziam ser impossível de subir... Disseram-lhe para tentar, e ele subiu aquilo de uma maneira melhor do que todos nós. A partir daí ele viu que conseguia fazer coisas que pensava não conseguir realizar. E acho que toda gente consegue fazer muito mais do que imagina, e não se atreve a tentar porque pensa que é difícil.

Saltam pela aventura e correm contra o medo

R2.3: O que sentem ao praticar Parkour?
C.K.K: Quando faço Parkour basicamente o que sinto é liberdade. Sinto que tenho a mente aberta para tudo, sinto que estou a voar (entre aspas). Sinto-me leve...
Dace: Realmente, quando faço Parkour, o principal sentimento é o de liberdade. Especialmente a liberdade da sociedade, porque estou fora do “normal”. Também liberdade de espírito porque estou a evoluir. Estou a ultrapassar barreiras. É também muita adrenalina... Por outro lado, muito medo que vai sendo transporto.

R2.3: Os traceurs são alvo de muita crítica, como sentem que são encarados pela sociedade?
Dace: Aos olhos da sociedade nós somos vândalos, completamente, excepto quando há exibições. Aí somos “meninos lindos”, fora isso somos sempre vândalos.

R2.3: Apesar dessa visão, em Portugal o Parkour tem ganho cada vez mais adeptos, já se pode falar numa comunidade?
C.K.K:
Fazer Parkour cá é uma coisa boa porque não há muitas pessoas a praticar de facto. Mas existe sim uma comunidade onde basicamente toda a gente se conhece. Ajudamo-nos uns aos outros. Há sempre encontros, e para estarmos todos juntos é um bom convívio.

R2.3: Que características deve ter um traceur?
C.K.K: O Parkour é muito fascinante, mas há um aspecto que muitas vezes as pessoas desconhecem. É a parte, talvez das mais importantes, em termos físicos. Refiro-me à flexibilidade. Muitos pensam “qualquer pessoa faz isso”, mas não, requer muito esforço físico, treino, “muitos trabalhos de casa”. Como nós dizemos, sempre a dar no duro para podermos ter uma boa condição física. Quem não tem uma boa condição física é prejudicado, pois está a destruir o seu próprio corpo (...) porque não se prepararam para aquilo que estão a tentar fazer.

R2.3: E para quem quer aventurar-se no mundo do Parkour, do que é que necessita?
Dace: Para quem pensa começar a fazer Parkour convém infomar-se primeiro, e treinar muito. Basicamente do que precisam é uma roupa de treino, umas sapatilhas. Averiguem as sapatilhas apropriadas para não danificar os pés e as articulações, porque não existem sapatilhas especiais para Parkour. Umas são mais apropriadas do que outras. Não convém usar luvas, mas sim punhos, para aquecer as articulações. Parkour é um dos desportos mais baratos que há e o mais gratificante.

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«Colorir Mapas»

Uma das muitas palestras Equipa UALG nas escolas do Algarve decorreu na E.B. 2,3 José Carlos da Maia, em Olhão. A Redacção 2.3 esteve lá e acompanhou a iniciativa da Universidade do Algarve.
Por: Ângela Gago e Lénia Maria


A escola de ensino básico José Carlos da Maia, em Olhão, teve no dia 3 de Novembro a visita de uma convidada especial. A Prof. Doutora Maria da Graça Marques, da Universidade do Algarve, levou aos alunos de duas turmas do 7.º e 8.º ano uma palestra interactiva, com o sugestivo nome de «Colorir Mapas». Desengane-se quem pensar que o nome sugere trabalhos manuais: esta palestra foi sobre Matemática.

A Equipa UALG é uma iniciativa que promove palestras para fomentar o interesse dos alunos mais novos pela universidade e, ao mesmo tempo, para dar a conhecer um pouco da instituição. Esta organização é constituída por professores voluntários que se disponibilizam a partilhar saberes e experiências em qualquer área científica, dependendo da validade das propostas dos docentes.

Esta interacção entre a Universidade do Algarve e as escolas «não só é positiva como fundamental», pois «desperta o interesse dos pequenos pela universidade», esclarece a Prof. Maria da Graça Marques. Estes docentes voluntários não são pagos para este tipo de trabalho mas, «para mim, é mais importante a colaboração com as escolas entre si do que remunerações», afirma a oradora.

Apesar de remeter para a Matemática, a palestra «Colorir Mapas» passou por outras áreas científicas como História, Língua Portuguesa, Geografia e Artes. A professora entusiasmou-se, explicou os exercícios de forma simples, interagiu bem com os alunos e num aparte confessou, orgulhosa, «estão todos a falar, mas estão todos a trabalhar».

Docente do Departamento de Matemática da Universidade do Algarve, a Prof.ª Maria da Graça Marques voluntariou-se no ano passado na Equipa UALG. Nesse âmbito, já fez palestras em Aljezur, Castro Marim e Tavira. Este ano não pertence à equipa, mas, ainda assim, foi convidada pela professora de Matemática da escola José Carlos da Maia, Ana Cristina Graça, para dar a conhecer um pouco de matemática prática aos alunos olhanenses.

No fim da palestra a professora Marques até brincou afirmando ter conhecido «os alunos mais rápidos do distrito de Faro». Na opinião dos alunos a palestra foi «boa» e alguns, os alunos do 7.º ano, não conheciam a matéria. Através desta introdução divertida e prática, estes alunos tiveram oportunidade de aprender os esquemas gráficos e o Teorema das Quatro Cores, que, após ter sido formulado em 1852, foi apenas demonstrado em 1976 e foi o primeiro teorema de matemática a ser demonstrado com recurso a meios informáticos.

As palestras da professora Marques são conhecidas por serem divertidas e pela original «bolsa mágica» da professora que encanta miúdos e graúdos. «Tenho uma ‘bolsa mágica’ na minha mala onde deixo os mais novos tirarem o que quiserem. Tanto podem sair rebuçados, chupa-chupas ou pastilhas elásticas». Como brinde, a oradora distribuiu rebuçados e lápis reciclados oferecidos pela Universidade do Algarve. A palestra foi encerrada com um agradecimento geral à Universidade do Algarve, por parte da escola olhanense, pela disponibilidade, e um desejo que futuros encontros deste género se realizem.

As escolas do ensino básico e secundário podem consultar a área da Equipa UALG no site da universidade, ver as sinopses das palestras disponíveis e requerer uma na sua escola, através do Gabinete de Comunicação.

«Escola Activa»

Estabelecimentos de ensino de toda a região aderem à iniciativa e põem alunos a mexer
Por: Adriano Narciso, David Marques, Fábio Lima e Isa Mestre

Recentemente lançada pela Administração Regional de Saúde do Algarve, a iniciativa «Escola Activa» já corre por toda a região. O programa, que pretende ser uma forma simples de combate à obesidade infantil, elucida os jovens para os benefícios da actividade física e serve de incentivo à sua prática.

O método é simples: por cada trinta minutos de actividade física contínua, o estudante tem direito a uma rubrica (numa caderneta dada para o efeito) por parte do seu professor/encarregado de educação. A cada dez rubricas que consiga juntar o aluno tem direito a um autocolante (denominado “ACTIVIX”) que colará posteriormente na sua caderneta. A ideia é que o projecto despolete nos jovens a vontade em terminar a colecção de autocolantes o mais rapidamente possível, o que, consequentemente levará a que pratiquem mais actividade física.

José Miguel Pereira, aluno do 4º ano da Escola Básica Integrada de Martinlongo, concelho de Alcoutim, vê a iniciativa com bons olhos e até confessa a vontade em ser o primeiro a terminar a colecção ACTIVIX: «Vou ser o primeiro a acabar. Todos os dias ando meia hora de bicicleta porque sei que ganho uma assinatura». Já Pedro Barroso, colega de turma de José Miguel, confessa que a disputa com os colegas é um bom incentivo para a prática desportiva: «Na escola competimos por mais assinaturas. Queremos todos acabar a colecção rapidamente».

Actualmente, no Algarve mais de 30% das crianças de idades compreendidas entre os 7 e os 9 anos sofrem de obesidade ou pré-obesidade. Para além da iniciativa “Escola Activa”, a actuar em toda a região, muitas outras têm sido desenvolvidas com vista ao combate à doença que é vista pela Organização Mundial de Saúde como a “epidemia do século XXI”. No passado mês de Março, o Governo português começou a distribuir fruta gratuita nas escolas do país e foi recentemente publicada em Diário da República uma lei que estabelece limites máximos à quantidade de sal no pão. A ser aplicada a partir de Agosto do próximo ano, a norma estipula que as padarias que produzam pão com mais de 14 gramas de sal por quilo possam ser punidas com coimas entre 750 e 5 mil euros.

Para Jorge Paulinho, professor aposentado de Educação Física, é à escola que cabe a grande responsabilidade de consciencializar os jovens para os “perigos e os desconfortos” a que os doentes obesos estão sujeitos. “Os jovens de hoje em dia gastam a maior parte do tempo na escola. Há muito que as habitações deixaram de ser os seus primeiros lares”, justificou o professor de 59 anos.

Berlim em Faro

Mostra de obras multimédia em Faro desconcerta público jovem
Por: Inês Calhias, Joana Sousa, Joana Varela e Mafalda Ferreira

O Teatro das Figuras foi palco para uma sessão de curtas-metragens, documentários, animação e vídeos experimentais no passado dia 4 de Novembro, a antecipar o aniversário da queda do Muro de Berlim.

“Cinema e Vídeo de Berlim” reuniu um conjunto de obras, que já foram seleccionados para festivais internacionais, realizadas por jovens oriundos das mais conceituadas escolas de cinema alemãs, alguns deles presentes na apresentação. Representantes da nova geração do cinema, estes jovens abordam nas suas produções questões contemporâneas, tais como as oposições e desigualdades que se verificam entre países ricos e pobres, relações de poder e crise de valores, de identidade e género.

Trazer Berlim até Faro

Emília Piedade, organizadora do evento, explicou à Redacção 2.3 qual a finalidade da sessão: «O objectivo é mostrar a Faro, principalmente aos estudantes, o que está a acontecer em Berlim, cidade que é centro de novas ideias, onde se encontra o futuro da arte». Para «mostrar coisas interessantes», a programadora promoveu ainda um encontro entre estudantes de Berlim e do Algarve. Quanto à escolha das curtas-metragens apresentadas, Emília Piedade contou-nos que foram os jovens realizadores que seleccionaram os vídeos a serem apresentados, estando só sujeitos ao tema.

Entre os realizadores dos trabalhos, Rita Macedo, uma jovem portuguesa estudante em Berlim, expõe os motivos que a levaram a seguir esta carreira: «gosto muito de realizar filmes, dão-me a possibilidade de realizar algo mais artístico, numa área que gosto muito». Residente em Berlim há dois anos, a jovem tem verificado algumas diferenças no panorama cinematográfico entre Portugal e a Alemanha, observando que «lá há mais abertura, mais troca de ideias».

Público surpreendido

«Teve uma sequência um bocado estranha (…) à medida que ia ficando mais tarde as histórias iam ficando mais bizarras», conta Ana Pinto, uma dos muitos presentes na concorrida sessão. «A língua não ajudava», observa Ana Lagoa, referindo-se ao facto de o alemão predominar como língua oral e o inglês como escrita (legendas), o que levou a uma menor compreensão dos trabalhos. «Gostei mais de umas do que de outras. Umas tinham um conteúdo de análise e outras eram menos interessantes», confessa Márcia Nunes, realçando o carácter alternativo do conteúdo dos vídeos, opinião partilhada pela maioria dos presentes.

Um olhar sobre a diferença

O tema da homossexualidade foi o que sobressaiu durante os 90 minutos de exibições, cujas formas de abordagem chocaram alguns dos espectadores. Na opinião de Ruben Remédios, «O tema da homossexualidade já não é tão tabu no nosso país, mas sei que grande parte das pessoas que viram pelo menos essa curta do namorado alemão (…) comentou e vai continuar a comentar». O documentário experimental aqui referido continha cenas explícitas de interacção entre vários homens homossexuais.

A curta que mais interesse despertou, “Please Say Something”, consistia numa animação cujos protagonistas eram um gato e um rato. «Foi engraçada», refere Ana Pinto, «teve uma história que era fácil de perceber e tinha uma mensagem bonita». Outra das obras comentadas pelos espectadores no final da sessão foi “One 103 Happy: 83 Sad Minute and Thirty Seconds”, um trabalho experimental onde formas e cores se misturaram: «É de difícil percepção (…) mas o facto de passarem aquelas imagens numa sequência tão curta de tempo e de certa maneira desfocado a dizerem feliz, triste, faz lembrar certos momentos da nossa vida que vão passando e que nós tendemos a esquecer ou desfocar com o tempo. De certa maneira é um resumo de toda uma vida visto de uma forma bastante simples», aponta Ruben Remédios.

Perante a lotação esgotada na sala de exibição, Emília Piedade considera terem sido cumpridos os objectivos definidos. Apesar de algo desconcertante, para Márcia Nunes este evento «foi muito construtivo e dever-se-ia repetir».

Loulé festeja Halloween

Noite das Bruxas festejada no Algarve
Por: Daniel Lopes, Ivan Cordeiro e Tiago Francisco

A Câmara Municipal de Loulé parece apostada em promover festas temáticas, de animação popular e, depois da Noite Branca, celebrada no Verão, a Noite das Bruxas foi festejada por todos nas ruas da cidade. Loulé é actualmente um ponto de referência no que toca a festividades temáticas e a números de participação. A população e os comerciantes agradecem e festejam também.

No passado dia 31 de Outubro, a Câmara Municipal de Loulé promoveu um evento relacionado com as comemorações do dia das Bruxas. De tradição anglo-saxónica, estas comemorações de Halloween encheram e adornaram a Avenida José da Costa Mealha e o Largo S. Francisco de laranja, preto e roxo, bem como de morcegos, abóboras, caveiras e esqueletos, «um verdadeiro carnaval de Outono», como observava Luís, um popular que passeava nas ruas mascarado de uma mistura de Dr. Frankenstein e Drácula, adiantando: «antes era raro haver estas festas assim na rua, mas ultimamente não nos podemos queixar, tem havido muita animação e as pessoas aderem».

Os festejos tiveram início na Praça da República por volta das 21h30 com a «Parada do Horror», um desfile de cinco carros alegóricos com decorações sobre a temática, figurantes e grupos de animação mascarados de zombies, vampiros, bruxas, fantasmas, entre outros. «Loulé está uma festa», afirmava Manuela, uma senhora de idade que admirava a «Parada» com atenção e curiosidade. A seu lado, um outro participante da festa observava: «nota-se que a nossa cidade tem estado mais desenvolvida agora, há mais actividades e mais movimento de pessoas, o que é bom para a vida de Loulé e para o comércio da cidade».

Nesta noite de animação, participaram também vários alunos das escolas públicas do concelho e do Colégio Internacional de Vilamoura. Entre as 21h e as 23h30, o Parque Fantasma, situado na Alcaidaria do Castelo, foi um espaço dedicado exclusivamente aos mais pequenos, com diversas actividades, músicas infantis, insufláveis, animações, concursos de máscaras e pinturas faciais.

Alguns pontos da cidade prestaram-se sobretudo a desenvolver a actividade comercial. A rua 5 de Outubro centrou-se no negócio de pequenos estabelecimentos, incentivando os visitantes a visitarem e a fazerem as suas compras nas várias lojas da cidade, acompanhados de várias animações de rua.

A partir das 23h realizou-se a «Halloween Party» na Cerca do Convento, que contou com várias actuações musicais. O destaque foi dado ao concerto do grupo La Plante Mutante, banda bem conhecida dos algarvios, que, vestindo-se a rigor, recriou êxitos dos anos 80, como «What’s Love Got To Do With It» de Tina Turner, «Like a Virgin» de Madonna, «Touch Me» de Samantha Fox, «Tarzan Boy» de Baltimore, «Thriller» de Michael Jackson, «Paixão» dos Heróis do Mar, entre muitos mais.

As comemorações do Halloween no concelho de Loulé têm permitido às comunidades inglesa e irlandesa, entre outros turistas, continuar a celebrar a sua tradição. «É fantástico. É mesmo, mesmo bom», revelava uma turista inglesa em férias no concelho: «viemos no ano passado e foi excelente. É tão bom como qualquer coisa que tenhamos visto, em qualquer parte do mundo. É perfeito!»

Mas a «Parada do Horror», para além de adoptar e recriar hábitos e valores tradicionalistas de uma cultura diferente, pretende acima de tudo animar os residentes e visitantes, com especial atenção às crianças, assim como desenvolver o comércio local.

7 anos de frequência experimental

A Rádio Universitária do Algarve (RUA FM) comemora sete anos de existência. Para fazer mais e melhor, a experiência é alargada a todos os que querem colaborar e contribuir no projecto.

Por: Grethel Ceballos, Sofia Trindade e Vanessa Costa

Já passaram sete anos e a Rádio Universitária do Algarve está de parabéns. Com uma história para contar e planos futuros a desenvolver, a RUA deu a conhecer à Redacção 2.3 a evolução de um projecto experimental e criativo.




Foi do empenho e vontade de um grupo de estudantes que nasceu a Rádio Universitária do Algarve. O projecto, organizado em 2001 pelo presidente da Associação Académica de então, Carlos Santos, acabou por dar frutos. Um ano mais tarde, a 28 de Novembro, era atribuído o alvará de emissão, altura em que Pedro Duarte, actual director, foi convidado a juntar-se aos pioneiros. «Tínhamos um prazo de 6 meses para pôr a rádio no ar». As emissões da RUA FM apenas tiveram início a 26 de Julho de 2003, tendo o arranque contado, «a nível de montagem», com «uma grande ajuda» da Rádio Clube Português, conta.

A RUA situou-se desde logo no espaço localizado na Horta do Ferragial, cedido pelos Serviços Sociais e remodelado com a ajuda do então reitor Adriano Pimpão. Pedro Duarte reconhece que «se não tivéssemos o apoio [da reitoria] a rádio talvez não existisse».

A principal filosofia da RUA – nome escolhido por «ser fácil de decorar» e ter boa sonoridade - assenta na divulgação de eventos culturais, e de bandas e artistas pouco conhecidos do público em geral, mostrando ainda o papel da Universidade do Algarve na região. Para o director de antena, «faz parte da rádio ser experimental e passar coisas novas». Sendo esta a «imagem de marca da RUA», a rádio acaba por ser considerada alternativa.

Procurando não ter como único alvo o público universitário e evitando tornar a RUA numa «rádio de jukebox», Pedro Duarte avança uma média de idade dos ouvintes: «entre os 17 e 35 anos». No entanto, admite que a rádio tem ouvintes de faixas etárias mais avançadas, «há muita gente com sede de coisas diferentes, há procura de coisas novas».

A grelha de programação é ocupada por rubricas noticiosas, culturais e musicais dos mais variados estilos mas principalmente por programas de autor. «Temos cerca de 20 programas de autor» refere Pedro Duarte.

Novos hertz mas a mesma frequência

Ao longo dos setes anos muitas foram as vozes que passaram pelos estúdios da RUA. Prova disso é Ricardo Duarte, um dos colaboradores mais velhos, que nos faz entrar semanalmente na «Zona Reagge». O seu programa de autor chega-nos todas as quartas-feiras, entre as 22h00 e a meia-noite, há seis anos, mas como ele diz «só contabilizo cinco, porque é o tempo que há que o faço em directo. Tenho a sorte, desde sempre, de ter conseguido fazer o programa em directo». A sua entrada na rádio coincidiu com a sua entrada no mundo da música como dj, experiência que já ambicionava e que foi possibilitada pela abertura a novos projectos da RUA.

Actualmente existem 20 colaboradores com programas de autor. Entre directos, rubricas e muitos conteúdos, são várias as tarefas que podem ser feitas na rádio, consoante a vontade dos colaboradores e a sua disponibilidade.

Uns vêm por curiosidade, outros por «amor» à rádio, mas poucos são os que ficam. Esse é um dos pontos fracos, pois a RUA FM tem vindo a perder colaboradores ao longo dos anos. Como constata Pedro Duarte, «temos colaboradores desde o início, mas uns já se foram. Uns já trabalham, há alturas em que podem dar mais e outras que podem dar menos. Mas neste momento estamos com 20 colaboradores com programas de autores».

Entram todos os anos entre 15 a 20 formandos na RUA FM, mas apenas uma média de 3 ou 4 colaboradores permanecem ao longo do primeiro ano. Mas eles são mais que números. São a continuação da rádio, são «sangue novo» como diz o director. O ano lectivo de 2009-2010 arrancou, como sempre, com formação na rádio. Foram chegando aos poucos e agora são, ao todo, 15 pessoas, alunos de variados cursos e também quem nada tenha a ver com a academia. Alguns nem conheciam a rádio, como é o caso de Sara, aluna do primeiro ano de Ciências da Comunicação, que diz que está no projecto «para ver como é que funciona», pois sempre gostou de rádio.

A rádio abre as portas a todos os que têm vontade de trabalhar, pois é feita de pessoas para pessoas, e precisa de mais para continuar e com mais qualidade se possível, como defende Pedro Duarte.

A formação serve para dar bases aos que entram, para que comecem a produzir conteúdos. Alguns podem até aspirar a programas de autor, que serão aceites se tiverem «pés e cabeça» e aos quais será dado acompanhamento pelos mais experientes. E a experiência, garante o director, vem com a prática ao longo dos anos.

O espírito que se vive na rua é de entre ajuda e descontraído. A formação, muito divertida, como defende Sara, é a continuidade da RUA, embora Ricardo Duarte considere que a rádio devia ter outra independência económica que lhe permitisse «poder fixar cá mais pessoas remuneradas, porque é isso que faz falta. Pessoas que possam viver disto e que dêem a sua disponibilidade total como colaboradores ao espaço da rua».

Colocando de parte, por enquanto, essa opção, o director diz que esta é a melhor altura para receber novas ondas hertzianas na rádio e novas energias por parte dos mais recentes participantes.

7 anos e 7 dias de celebração

Este marco na história da rádio, tanto para colaboradores como para ouvintes, não podia passar em branco e, por isso, a semana de 23 a 29 de Novembro contará com um programa comemorativo diversificado. Nos dias 24 e 25, a Penha e as Gambelas (respectivamente) serão palco de emissões em directo. Já o dia 26, quinta-feira, será dedicado à reflexão. A partir do Espaço C (Café Esplanada no Teatro das Figuras) será emitida em directo uma tertúlia subordinada à temática «RUA 7 anos depois». O dia 27 é dia aberto: «literalmente com todas as portas abertas», explica Pedro Duarte, às visitas de todos, «inclusive de escolas secundárias». O fim-de-semana dedicar-se-á especialmente à música e ao convívio. Também no Espaço C, no sábado haverá lugar para um show case da banda da Rua, Megafone. Já o domingo será reservado ao já habitual convívio entre os «Ruenses».

O director realça a importância deste encontro: «Porque há tantos colaboradores, os programas são emitidos uma vez por semana, há colaboradores que nem sequer se conhecem. A formação é feita nesta altura para coincidir com esta reunião da família da rua e para se conhecerem. Não só porque automaticamente quem entra conhece a Rua nesta altura de aniversário experiencia verdadeiramente o que a RUA é.

Planos futuros

O aniversário agora celebrado pauta a reflexão do que foi, é e será a RUA. O ano de 2007 foi marcado por problemas financeiros. O financiamento é a principal preocupação dos colaboradores relativamente ao futuro da rádio, onde se espera dar prioridade a programas de cultura e onde o crescimento será a principal meta.

Um dos problemas a resolver é a questão da frequência. «Há pessoas em Gambelas que se queixam que não conseguem acompanhar a nossa frequência. É óbvio que castra a possibilidade da rádio ser ouvida ou não», reconhece Pedro Duarte.

Perante a responsabilidade de representar a Universidade do Algarve, com a ajuda dos novos colaboradores, a Rádio Universitária pretende evoluir para além da condição de frequência experimental. O objectivo passa por promover a componente informativa e garantir uma abertura a novos programas e, assim, seduzir novos ouvintes.

Com sonoridades viradas para o futuro, a RUA FM pretende aumentar o volume e continuar a ser «Uma rádio de Grau Superior».