Magia das luzes em Portimão

Por Joana Varela

Todos os anos, durante a época natalícia, várias cidades portuguesas embelezam as ruas com as decorações e apostam fortemente na iluminação, dando um brilho especial às noites de Inverno. A cidade de Portimão não foi excepção e os moradores da zona mostram-se orgulhosos perante estes investimentos decorativos, como é o caso de Maria da Conceição, que afirma que «cada ano que passa é melhor que o anterior em termos de decoração natalícia. As ruas estão muito bonitas, bastante iluminadas».

A Associação de Desenvolvimento Pró - Comércio de Portimão (UAC) foi a grande investidora, doando «cerca de 200 mil euros para esta iniciativa», segundo Paulo Cristóvão, morador de Portimão. «Foram colocadas luzes decorativas nas ruas principais e, na Alameda, um ringue de patinagem e uma árvore de natal de 30 metros. Além disso, todos os anos põem um cadeirão e uma passadeira vermelha para o Pai Natal receber as crianças», acrescentou.

Espectáculos Natalícios

Para além das decorações, Portimão é na época natalícia palco de vários espectáculos e atracções, como a animação «Cai Neve em Portimão», em que «uma máquina produz neve artificial deixando as ruas brancas», conta Rosa Lopes, actuações de ranchos folclóricos, entre muitas outras.

A população portimonense tem aderido ao espírito, como se pode constatar pelo ambiente em que se vive. Adriana Maia, uma jovem de 16 anos, observa que «Portimão está mesmo com o espírito natalício. Apesar da crise ainda conseguimos ver esta cidade sempre a inovar».

Por Ivan Cordeiro

A época natalícia paira no ar. É o tempo em que as ruas se enchem com luzes e decorações, pessoas, sacos correrias e espírito natalício, mesmo com o frio que marca a chegada do Inverno e a sua chuva. A Redacção 2.3 esteve em Vila Real de Santo António, antiga povoação de pescadores Santo António de Arenilha, para registar os hábitos e festividades vila-realenses.

Ainda a 27 de Novembro teve lugar a inauguração e iluminação da árvore de Natal com cerca de 30 metros de altura, na Praça Marquês de Pombal, bem como a abertura da pista de gelo e da tenda do Pai Natal. Nesta inauguração, que marcou o início das festividades, estiveram presentes muitos vila-realenses. A neve artificial, que, por mais um ano consecutivo, encheu o espaço com pequenos bagos de brancura, animou a multidão de crianças à espera do Pai Natal, que as recebeu de braços abertos dentro da sua tenda.

O centro da cidade possui diariamente várias actividades e iniciativas que contam com animação para os mais novos. Pelo que pudemos observar, a pista de gelo natural, com 200 m2, é a atracção mais procurada. Para além desta novidade, existem também outras animações, como insufláveis, carrosséis, música, ateliês infantis, karaoke e um comboio infantil que percorre várias ruas do centro urbano.
A cidade conta também com o presépio de Vila Real de Santo António que foi inaugurado no dia 6 de Dezembro e que permanece até dia de Reis. Situado no Centro Cultural António Aleixo, este presépio conta com cerca de 3500 figuras, algumas com movimentação, que sustentam a história e a tradição religiosa. Segundo responsáveis do Centro Cultural António Aleixo, no ano anterior recebera mais de 50 mil visitas.

Estas iniciativas são organizadas pela Câmara Municipal de Vila Real de Santo António em parceria com a Associação do Desenvolvimento da Baixa de Vila Real de Santo António.

Por Isa Mestre

«Afável, de trato fácil, calmo, decidido e sonhador», é assim que se caracteriza Rui Coimbra, atleta algarvio da selecção nacional de futebol de praia que recentemente arrecadou no Beach Soccer World Cup, no Dubai, um honroso terceiro lugar.

Nascido em Quarteira, no ano de 1986, Rui Coimbra estaria longe de imaginar que poderia vestir a camisola da equipa das “quinas”, sobretudo a jogar futebol de praia. É que antes de “pôr o pé na areia”, o jovem algarvio teve passagens por desportos tão diversos como o karting (onde chegou mesmo a sagrar-se campeão), a natação, o ténis ou a vela.

Em terra de pescadores, a paixão pelo futebol jogado na areia acabou mesmo por vencer. Rui Coimbra conta que «tudo começou em 2006, com um grupo de amigos» aquando da participação num torneio amador.

Na sequência desse torneio e dos jogos disputados como amador no ano 2008, viria a concretizar-se um dos maiores sonhos do jogador luso: a chamada à selecção nacional. Na altura, com apenas vinte e dois anos, Rui Coimbra afirmou-se como o primeiro algarvio no futebol de praia a experimentar tamanhos voos e tudo isso, diz, deve-o ao seleccionador Zé Miguel, que «considerou que eu tinha aptidões para integrar a selecção e começou a convocar-me para os estágios e treinos». Daí ao Dubai, o jogador garante ter sido «um pulinho», confessando que a convocatória para o campeonato do mundo foi «uma alegria enorme. Acho que é o sonho de qualquer jogador e eu não sou excepção. No fundo, ser convocado é como que uma recompensa por um ano de trabalho».

Quando questionado acerca da preparação para jogar futebol de praia num país como o nosso, Rui Coimbra desmistifica, afirmando que «ao contrário do que as pessoas pensam, que é só sol e praia, a preparação física é muito exigente e desgastante, em especial as pernas e os gémeos. Temos que treinar à chuva, ao frio, ao vento e nas condições mais adversas que se possa pensar.»

Em discurso franco e aberto, Rui Coimbra, confessa-se desiludido com a atenção prestada pelos governantes portugueses ao futebol de praia, afirmando que esta «está muito aquém daquilo que deveria ser», acreditando, no entanto, que «com o tempo o futebol de praia vai ter o reconhecimento que lhe é devido, como qualquer outra modalidade».

No que toca ao seu próprio reconhecimento enquanto profissional, o jovem jogador admite que o Algarve, enquanto região, lhe tem retribuído o esforço sobretudo «pela boca do povo», pelo orgulho da sua presença junto de grandes vultos do futebol de praia, como é o caso de Madjer ou Alan, companheiros de selecção no caminho do algarvio, naquela que é já uma carreira de sucesso.

Por Fábio Lima

Joaquim Agostinho, Marco Chagas, Alves Barbosa e, mais recentemente, José Azevedo ou Sérgio Paulinho são nomes que marcam claramente o panorama velocipédico nacional. Mas nunca o ciclismo português esteve tão bem representado na alta-roda internacional. E a altura em que surgem estas novidades é ainda mais surpreendente, pois vem na ressaca de uma Volta a Portugal marcada por imensos casos de doping, que até retiraram a vitória a Nuno Ribeiro. Apesar de tudo isso, cinco ciclistas de nacionalidade portuguesa irão representar equipas de topo do ciclismo.

A equipa mais portuguesa do pelotão internacional é claramente a RadioShack, comandada pelo mítico Lance Armstrong. Nas estradas, Portugal terá Sérgio Paulinho e Tiago Machado. No comando da equipa estará um dos melhores gregários de Lance Armstrong, José Azevedo. E na parte técnica estará o mecânico Francisco Carvalho. A figura da equipa é sem dúvida o sete vezes vencedor do Tour de France, Lance Armstrong, que aos 39 anos faz questão de mostrar que a idade não o impede de trepar as montanhas mais difíceis do mundo. Ao lado do texano estarão muitos ciclistas que vieram consigo da Astana. Entre eles figuram Levi Leipheimer, Andreas Kloden, Yaroslav Popovic ou mesmo Sérgio Paulinho. O português Tiago Machado trocou a Madeinox Boavista pelo conjunto americano. A comandar esta verdadeira constelação de estrelas, estará Johan Bruyneel, director desportivo durante as sete vitórias de Lance no Tour. Esta nova equipa tem como principal objectivo levar ao mundo a mensagem da fundação de Lance Armstrong, LiveStrong.

Ainda a falar português, a Caisse D’Epargne tem nas suas fileiras uma das maiores surpresas da última época – Rui Costa. O ciclista natural da Póvoa de Varzim logrou vencer os 4 Dias de Dunkerque e ficar no 3.º lugar na Volta a Chihuahua. O ciclista nacional terá a companhia de David Arroyo, Luís León Sanchéz e o chefe de fila Alejandro Valverde.

Ainda no Pro Tour, Manuel Cardoso será o mais provável chefe de fila da Footon Servetto, antiga Saunier Duval. O estatuto do ex-ciclista da Liberty Seguros confirma-se pelo seu calendário, tendo o Tour de France como objectivo. Com uma formação composta com jovens talentos, na sua maioria ex-amadores, a equipa pretende demarcar-se do passado de casos de doping de Iban Mayo, Riccardo Riccó e Leonardo Piepoli.

Olhando para as restantes equipas, muitas mudanças ocorreram. Para começar na nomenclatura, um terço das equipas Pro Tour mudaram de nome, outras foram criadas de raiz. É o caso da Team Sky, que até agora confirmou a contratação de Sylvian Calzati (ex- Agritubel), Nicholas Portal (ex-Caisse d’Epargne), Mathew Hayman (ex-Ra¬bobank) e Kurt Asle Arvesen (ex-Saxo Bank).

Uma das principais novelas do mercado do ciclismo terminou com final feliz: Alberto Contador permanecerá na Astana, tendo agora como companheiros de equipa Óscar Pereiro e Alexandre Vinokourov. A equipa cazaque sofreu uma grande reforma no elenco, com a saída de Haimar Zubeldia, José Luis Rubiera, Andreas Kloden ou mesmo de Sérgio Paulinho. Prevê-se que, para 2010, a aposta seja em talentos provenientes do país.

As duas formações francesas da elite, AG2R La Mondiale e a Française de Jeux, arriscam claramente na prata da casa, com a aposta em Stephane Goubert no caso da AG2R e em Christophe Le Mevel e Sandy Casar na Française de Jeux.

Bradley Wiggins, uma das surpresas do Tour 2009, ainda não tem equipa certa, mas prevê-se que se mantenha na Garmin-Transitions (ex-Garmin Slipstream), juntamente com Tyler Farrar. Na mesma situação de Wiggins, Ivan Basso deve ficar na Liquigas-Domio, que conta com a presença de Daniele Benatti, Vincenzo Nibali, Franco Pellizotti ou Roman Kreuziger. Kreuziger, com a sua importância de certa forma ameaçada na formação italiana, poderá rumar à Omega Pharma-Lotto, que muito recentemente perdeu Cadel Evans para a BMC.

O inglês voador de 2009, Mark Cavendish, ficará na Team Columbia HTC, com a companhia de Tony Martin, mas já sem Kim Kirchen. O alemão optou por rumar à Team Katusha, que esta temporada contará com Filippo Po¬zatto, Serguei Ivanov, Vladimir Karpets e o recém adquirido Joaquim Rodríguez (ex-Caisse d’Epargne).

Sempre candidato a uma grande vitória em 2010, o ciclista da Saxobank Andy Schleck mantém-se envolto na mesma estrutura da temporada passada, com a presença do seu irmão Frank, do relógio suíço Fabian Cancellara e com a contratação de Sebastián Haedo. Óscar Freire e Dennis Menchov são as principais apostas de outra equipa ligada à banca, a Rabobank.

Uma habitué no pelotão internacional, a Euskatel Euskadi continua fiel à sua vocação de sempre: tacar forte a montanha. Igor Sanchéz Galdeano, Samuel Sanchéz, Igor Anton e Romain Sicar (campeonato mundial de sub-23) são as apostas da formação basca. Por sua vez, a equipa Quick-Step conta com Sylvian Chavanel e Tom Boonen e com um trunfo importante: uma ligação à Eddie Mercx Cycles que permitirá acesso a material de topo.

Quanto ao segundo escalão do ciclismo mundial,Continental Professional, destaque para a presença de grandes nomes do ciclismo. Cadel Evans (ex-Omega Pharma-Lotto), George Hincapie (ex-Team-Columbia), Alessandro Ballan (ex-Lampre) e Arcus Burghart (ex-Team-Columbia) irão ser os grandes nomes da recém criada BMC Racing Team.

Outra equipa de segundo patamar com grandes nomes é a Cervelo Test Team, que conta com o vencedor do Tour 2008 Carlos Sastre, Xavier Tondo (ex-Andalucía-Cajasur), Thor Hushovd e Heinrich Haussler.

Ainda olhando para a lista de 19 equipas admitidas para Continental, de realçar a presença da brasileira Scott – Marcondes César São José dos Campos, que pretende lançar o nome do Brasil na alta-roda do ciclismo. «Temos atletas estrangeiros na equipa, mas a prioridade são os ciclistas do Brasil. Queremos dar a oportunidade para nossos ciclistas, agregando a experiência de corredores estrangeiros e, assim, formar ciclistas brasileiros de alto nível, numa equipa brasileira», refere José Carlos Monteiro, o director-desportivo da formação.

Por fim, e após uma decisão polémica, ficou-se a saber que Nelsón Oliveira,vice-campeão mundial de sub-23, não irá competir ao mais alto nível devido a uma questão burocrática que retirou a licença de Continental à Xacobeo Galicia.

Por David Marques

Mais do que uma palestra sobre jazz, o evento realizado a 10 de Dezembro na Universidade do Algarve serviu, acima de tudo, para homenagear o «homem dos cinco minutos». José Duarte foi um dos principais impulsionadores do jazz em Portugal. Já passou meio século desde que começou.

Cerca de 60 pessoas assistiram à homenagem a José Duarte, que se revelou surpreendido com a sala bem composta: «Já fiz sessões para uma só pessoa, há uns anos em Estremoz», afirmou bem-disposto. A sessão solene, aberta por Vítor Reia-Baptista, contou com a intervenção de João Guerreiro, Reitor da Universidade do Algarve, Zé Eduardo, presidente da Associação Grémio das Músicas, e ainda com a presença de Luís Oliveira, subdirector da Faculdade de Ciências Humanas e Sociais, e Mirian Tavares, coordenadora do Centro de Investigação em Artes e Comunicação (CIAC).

Radialista por excelência, José Duarte iniciou o seu já longo casamento com a música jazz em 1958, ano em que, com Raul Calado, fundou o Clube Universitário de Jazz. «Era um local de luta contra o Hot Clube de Portugal [o primeiro clube de jazz do país, que não permitia, porém, mais de 100 sócios inscritos em simultâneo]. Foi selado pela polícia três anos depois, porque iam lá muitos homens de esquerda, os futuros dirigentes dos movimentos de libertação das colónia e até o Jorge Sampaio», recordou o apresentador da Antena 2 que conduz, de segunda a sexta, o programa «Jazz com brancas».

Celebrizado pelo programa de rádio «5 minutos de jazz», numa época em que os swings da música afro-americana não eram vistos com bons olhos pela sociedade portuguesa e pelo antigo regime, José Duarte destacou-se por inúmeros outros trabalhos empreendidos sempre com o objectivo de divulgar o jazz em Portugal, organizando, inclusive, concertos de respeitados saxofonistas norte-americanos como Steve Lacy e Frank Wright, em 1972 e 1973, respectivamente.

Admirador de jazz como poucos, José Duarte torce o nariz à música actual. «Com a tecnologia moderna constroem-se solos que os músicos nunca tocaram», diz, sem se esquecer, no entanto, de indicar a grande virtude do movimento artístico-cultural: «O Jazz é uma música de improviso».

Como é ser Jornalista?

Por Marta Miranda e Raquel Rodrigues

O quê? Quem? Onde? Quando? Como? Porquê? São as questões que envolvem a vida diária de um jornalista, em busca da novidade, do interessante, das notícias que fazem o nosso dia-a-dia. Três jornalistas contam à Redacção 2.3 como lidam com a missão de informar os públicos e lhes oferecer todo o conhecimento que conseguem transportar para os vários meios de comunicação.

«Fazer jornalismo não é ser estrela de televisão, isso é o que menos interessa. Ser jornalista é colocar as pessoas em lugares onde não é possível estarem na realidade.» João Tiago

João Tiago, jornalista da SIC, do Jornal Barlavento e da Agência LUSA seguiu os seus instintos ao entrar para o curso de Ciências da Comunicação na UAlg, na expectativa de ingressar na área de Marketing. Com o passar dos anos descobriu o prazer de dar a notícia. «Os professores que tive, o incentivo e a maneira de ensinar despertou em mim a vontade do jornalismo», afirma.

«Não acho que a UAlg dê menos oportunidades aos alunos, comparando com as outras. É verdade que lá em cima há mais oferta, mas também mais procura e concorrência. Eu estou feliz com as oportunidades que me surgiram, e não o seria se não estivesse no Algarve”, confessa o jornalista.

Com uma vida agitada e imprevisível, João Tiago conta-nos um pouco como é o seu dia-a-dia: «A vida de um jornalista é comandada pelo telemóvel. Nunca se pode dizer que o dia é estipulado de uma certa maneira, porque é sempre imprevisível. Estamos sempre em cima da notícia e sempre dependentes disso.»

Trabalhador, ocupado e com gosto pelo que faz, o jornalista incentiva os alunos que frequentam o curso de Ciências da Comunicação na UAlg a «ter vontade de aprender, trabalhar e empreender», sublinhando que estas são as qualidades de um bom profissional.

«Em qualquer actividade o importante é sempre acreditar, saber o que se quer e ter objectivos definidos. Criar uma atitude pró-activa, cometer erros e aprender com eles. Ser respeitosamente persistentes.» Paulo Baptista

Paulo Baptista, animador/locutor da Cidade FM Algarve, apaixonou-se por outro lado do jornalismo. «Personalidade, criatividade e liberdade», são as palavras que, na opinião do locutor, desmistificam um pouco o que é a rádio.

Inserido no mundo do som, onde a notícia é falada e não escrita, assume que a comunicação sempre foi um objectivo desejado. «Fui muito influenciado por uma professora que me marcou muito, e que me fez ver a área que queria seguir», conta.

O ex-aluno da UAlg é um apaixonado pelo seu trabalho, numa das rádios mais ouvidas pelos adolescentes, chegando mesmo a afirmar que no seu trabalho gosta de tudo: «Tento divertir-me quando estou no ar e passar a minha personalidade para o outro lado, ser genuíno. Se conseguir tirar um sorriso de um ouvinte, fico muito contente.»

Está agora na rádio, mas em tempos já experimentou a imprensa escrita, onde as situações mais caricatas lhe passaram entre mãos. «Quando frequentava o curso tecnológico de comunicação, escrevi uma notícia sobre o 25 de Abril, publicada no Diário de Notícias. O Dr. Alberto João Jardim não gostou muito e deu barraca no parlamento regional, foi geradora de mais notícias durante uma semana nos vários meios de comunicação. É o que dá parecer ser do contra mesmo que tenhas 16 anos. Os meus amigos dizem a brincar que vim para o continente repatriado.»

Paulo Baptista acredita na máxima «Se plantares sementes e cuidares bem delas os frutos vão acabar por aparecer». E desafia os jovens que querem seguir esta profissão a serem pró-activos. Só assim conseguirão alcançar o que desejam.

«É bom que saibamos um bocadinho de cada área, para não sermos ignorantes e conseguirmos ter uma conversa com o entrevistado que vai para além da pergunta -resposta.» Marisa Rodrigues

Marisa Rodrigues, jornalista da TVI e correspondente do Jornal de Notícias no Algarve, licenciou-se há 6 anos em Ciências da Comunicação na UAlg. Gosta de informar, é da opinião de que a televisão é muito mais completa, mas que a imprensa escrita lhe dá mais liberdade. «Em televisão temos menos tempo para escrever embora no jornal também tenhamos o espaço limitado pelos caracteres mas é um desafio maior, especialmente quando não temos fotografia e mesmo quando temos, o único suporte é de facto a nossa palavra. Quando se faz jornalismo escrito as palavras têm que ter mais cor do que em televisão porque é só isso que sustenta o nosso trabalho», diz-nos.
«Não consigo é não fazer as duas coisas. Muitas vezes chego à redacção e tenho uma peça de 1minuto e meio para fazer e sinto que a informação que estou a dar é muito incompleta, mas fico descansada porque sei que tudo aquilo que não usei mas que recolhi, vou poder usar no jornal. No meu caso, uma complementa a outra. Já trabalho assim há algum tempo e não me vejo a fazer uma coisa só», conta a jornalista.

Satisfeita com a oportunidade, assumiu que as disciplinas práticas que teve durante o curso lhe abriram os olhos, na medida em que pôde experimentar um pouco de todas as áreas, e mesmo que seja apaixonada pela televisão e pela escrita, não se sente ignorante noutros registos. Enquanto estudante, participou no PERU (Projecto experimental da rádio universitária), onde exercia a função de repórter de rua.

Descreve-nos o seu dia como imprevisível. Dependente do que acontece, do que lhe comunicam, da noticia, do momento. E acrescenta que como a TVI Algarve faz a cobertura de todo o Algarve, Baixo Alentejo e Andaluzia pode nem ter tempo para dormir em casa. «Podemos vir trabalhar para Faro de manhã e arriscamo-nos a ir para Espanha e a ter de passar lá a noite, já aconteceu.»

Humildade, polivalência, não ter medo, ser activo, trabalhador, interessado e estar atento a tudo o que acontece são os conselhos que Marisa dá a todos os que querem ingressar nesta área.
“Pegar numa câmara, tirar uma foto, num gravador e fazer o trabalho. Actualmente a qualidade não tem sido muito premiada. É mais a polivalência.»

Festival da Batata Doce de Aljezur

Por Daniel Lopes, Ivan Cordeiro e Tiago Francisco

A vila algarvia promoveu um fim-de-semana de festa e convívio dedicados aos sabores regionais

Mesmo sem o fervor de outros anos, o Pavilhão das Feiras em Aljezur encheu-se de gente e acolheu, de 4 a 6 de Dezembro, o 12.º Festival da Batata Doce. Este ano ficou especialmente marcado pela classificação da batata doce de Aljezur como Indicação Geográfica Protegida (IGP) pela Comissão Europeia. A organização foi responsabilidade da Câmara Municipal de Aljezur e da Associação de Produtores de Batata Doce de Aljezur.

Durante os três dias do festival, o espaço recebeu a visita de milhares de aljezurenses e curiosos que se deslocaram à vila algarvia para provar as delícias feitas à base da tradicional batata doce.
Sem direito a animações musicais ou demais espectáculos, o Festival dedicou-se por inteiro à gastronomia da raiz tuberculosa. E a noite mais animada parece ter sido mesmo a da abertura, marcada pela presença de José Amarelinho, Presidente da Câmara Municipal de Aljezur (na foto), dos vereadores de Aljezur e de municípios vizinhos, presidentes de junta, e de Isilda Gomes, Governadora Civil de Faro.

Jorge Pacheco, bombeiro da corporação de Aljezur, garante que «o Festival perdeu força quando deixou de ter o perceve». Tudo mudou em 2006. Até então, o Festival era dedicado à Batata Doce e ao Perceve, porém, com os despachos da Portaria nº385/2006, e os que se seguiram, o crustáceo foi retirado do Festival. Apesar dos restaurantes presentes ainda aludirem a um dos ex-libris de Aljezur, o Ministério da Agricultura, do Desenvolvimento Rural e das Pescas dificulta a vida aos mariscadores e promove uma época de defeso do perceve que dura entre Setembro e Dezembro, altura em que a batata doce abunda. Consequência directa ou não da decisão, o facto é que em quatro anos o espaço diminuiu e cada vez tem menos barracas destinadas ao comércio local, menos animação, concursos e jogos. «Já não há tantos esforços por parte da Câmara e depois também se começa a notar que há menos visitantes. Antes havia espectáculos à noite e a entrada era paga. Agora é grátis e mais parece uma feira local», nota Jorge Pacheco.

Estes despachos servem, nas palavras do Ministério, para evitar a mariscagem desenfreada e sem regras que ameaçava o seu desaparecimento. Arlindo Serafim, dono de um restaurante em Aljezur, disse à Redacção2.3 que deixou «de ir ao mar por causa do Ministério».
À pergunta sobre se é mariscador, responde «antes de haver esses despachos, era um mariscador lúdico, fazia daquilo o meu hobby. Mas agora, tive que deixar esse passatempo. Não fui o único a que se viu nesta situação».

Ainda assim, António Henrique, Presidente da Associação de Produtores de Batata Doce de Aljezur há largos anos, afasta qualquer decréscimo na fama e sucesso do Festival, afirmando que «o Festival não perdeu em nada com a separação do perceve. É certo que pode ter sido abalado no início, mas agora já ninguém se lembra do Festival conjunto. O mais importante é a batata doce e este ano assistimos a uma excelente qualidade de produção. Aliás, as vendas estão a correr bastante bem».

Apesar das opiniões se dividirem entre um sucesso e um fracasso, a organização afirma não ter dúvidas de que os principais objectivos foram alcançados, divulgar a batata doce e dinamizar a economia local. Não é certo que a próxima edição traga de volta a animação e os espectáculos, mas a batata doce estará com certeza de volta a este ex-líbris de Aljezur e um dos mais conhecidos certames do Algarve.

Por: Grethel Ceballos, Sofia Trindade e Vanessa Costa

EUROPEUS SENTEM-SE DISCRIMINADOS


O EUROBARÓMETRO DE 2009 REVELA QUE UMA EM CADA SEIS PESSOAS NA EUROPA AFIRMA TER SIDO VÍTIMA DE DISCRIMINAÇÃO


Tatyana (nome fictício) destaca-se pelo tom de pele, muito branco, pelos olhos verdes e pela sua peculiar pronúncia. Chegou a Portugal em 2000, vinda de leste. Abandonou a pátria e há 6 anos que trabalha em Faro, onde vive com o marido e a filha.


A vitória de Tatyana não foi só chegar ao nosso país, mas também arranjar trabalho. «Há muito preconceito» diz a emigrante, acrescentando que o factor da idade, ou seja, os seus 46 anos, foi causa de discriminação ao conseguir emprego.


A ex-professora é hoje em dia funcionária de limpeza. Depois de muitos «não», está empregada, mas sublinha que apesar de discriminada pela nacionalidade e idade estes trabalhos são dados a pessoas nas mesmas condições que ela, que muitas vezes se subjugam a salários mais baixos, horários maiores e tarefas mais difíceis. «Tenho muitas amigas [de leste] a trabalhar como eu, a fazer o mesmo».


«Tatyana» não dá o nome, não se trata de nome. Trata-se de caras, de histórias e ela partilhou a sua connosco. Um exemplo dos muitos casos de discriminação que ilustra a realidade comprovada pelo último estudo europeu neste âmbito.



EUROBARÓMETRO MEDE DISCRIMINAÇÃO


A discriminação baseada na idade é um problema crescente, segundo a maioria dos europeus.

A UE começou a sondar a opinião pública sobre esta problemática em 2006 como parte de uma campanha para sensibilizar as pessoas para os seus direitos.


Três anos depois, no mês de Novembro, revelou os resultados do Eurobarómetro sobre «Discriminação na União Europeia».


O inquérito efectuou-se durante os meses de Maio e Junho. Ao todo foram inquiridas mais de 27 000 pessoas nos 27 países da UE e em três países candidatos (Croácia, Antiga República Jugoslava da Macedónia e Turquia).


Um em cada seis (16%) europeus afirmou ter sido vítima de discriminação (com base na idade, etnia, religião, sexo, e na orientação sexual). A percentagem manteve-se em grande medida inalterada em relação aos valores obtidos em 2008.


«A discriminação continua a ser um problema na Europa e a percepção deste fenómeno pelas pessoas manteve-se estável em comparação com o ano anterior», aclarou Vladimír Špidla, o Comissário Europeu responsável pela Igualdade de Oportunidades. «É, nomeadamente, preocupante que a percepção da discriminação baseada na idade esteja a aumentar em consequência da recessão. Estes resultados revelam que, apesar dos progressos alcançados, temos ainda um longo caminho a percorrer se pretendemos sensibilizar as pessoas para os seus direitos em matéria de igualdade de tratamento, em particular a nível nacional, e garantir que a igualdade não seja apenas uma frase vazia, mas possa tornar-se uma realidade», acrescentou.
A discriminação contra grupos étnicos é ainda considerada o maior problema, com 61% dos inquiridos a considerá-la comum no seu próprio país.


No entanto, surge neste domínio uma preocupação acrescida com o factor idade. 58% dos europeus apontam que este tipo de está generalizada no seu país. Para 64% dos europeus, a actual recessão poderá agravar a discriminação com base na idade que se verifica no mercado de trabalho.


Esta preocupação pode ser consequência da situação económica que muitos países europeus vivem, em consequência do abrandamento financeiro. Também pode ser sinal de uma maior consciencialização por parte das pessoas relativamente a esta forma de discriminação.
Para denunciar os casos de discriminação, a maioria dos europeus prefere contactar primeiro a polícia (55%), ao passo que 35% optam por recorrer ao organismo nacional competente em matéria de igualdade e 27% a um sindicato. A confiança nas diversas organizações que intervêm na luta contra a discriminação varia fortemente de país para país.



PORTUGUESES QUEIXAM-SE DE DISCRIMINAÇÃO SEXUAL



Por terras lusas a orientação sexual é apontada como o principal factor de discriminação no país, à frente da origem étnica e da deficiência.


Em Portugal foram entrevistadas pela TNS Euroteste 1.020 pessoas. Os dados divulgados pelo Eurobarómetro revelaram que 58% dos portugueses consideram comum a discriminação em função da orientação sexual, enquanto, que em média, os europeus apontaram-na apenas como o quarto tipo mais comum de discriminação.


A discriminação devido à origem étnica e a deficiência foram também consideradas habituais pela maioria dos inquiridos, surgindo como os mais importantes tipos de discriminação em Portugal imediatamente a seguir à orientação sexual (57% em ambos os casos).


Apenas um em cada quatro portugueses (24%) admite conhecer os seus direitos se for vítima de discriminação ou assédio, sendo este o terceiro valor mais baixo da UE (a par da Polónia e apenas à frente da Bulgária e Áustria), numa média comunitária de 33%.


Vladimir Spidla, afirmou ainda que «apesar dos progressos alcançados», ainda existe «um longo caminho a percorrer", sobretudo no sentido de "sensibilizar as pessoas para seus direitos em matéria de igualdade de tratamento, em particular em nível nacional, e garantir que a igualdade não seja apenas uma frase vazia, mas possa se tornar uma realidade».



MUITAS ORGANIZAÇÕES E UM ÚNICO OBJECTIVO


Os resultados deste último inquérito Eurobarómetro precederam a realização da Cimeira Europeia da Igualdade deste ano. Foi nos dias 16 e 17 de Novembro que se realizou em Estocolmo a III Cimeira Europeia da Igualdade. Organizado em conjunto pela Presidência Sueca da União Europeia e a Comissão Europeia, este evento anual visou eleger a discriminação e a diversidade como questões prioritárias, ao mais alto nível das agendas políticas da UE e dos governos nacionais, e possibilitar uma partilha de conhecimentos e experiências, tendo em vista a determinação de abordagens mais eficazes para combater todas as formas de discriminação.

Esta Cimeira representou apenas um dos esforços realizados na UE no sentido de ajuda a combater a discriminação em relação à religião, idade, deficiência ou orientação sexual.

Ainda este ano a campanha «Pela diversidade. Contra a discriminação.» organizou, pela primeira vez, uma série de Dias da Diversidade que tiveram lugar no Chipre, no Luxemburgo, na Suécia e em Portugal.


Em Portugal, os Dias da Diversidade decorreram durante quatro dias (15 a 18 de Outubro) no Centro Comercial Colombo em Lisboa, onde foram organizadas actividades para avivar o tema da identidade e da diversidade.


Para demonstrar o seu apoio à diversidade e fomentar a sensibilização para a discriminação, entre 2004 e 2005 milhares de pessoas também participaram em maratonas e corridas em cidades da Europa como Roma e Roterdão vestindo as camisolas amarelas da campanha «Pela diversidade. Contra a discriminação.».


Presentemente, existem vários organismos nacionais de promoção da igualdade na grande maioria dos Estados-Membros da UE. Estas organizações aconselham pessoas que foram discriminadas e explicam-lhes os seus direitos e a forma como devem apresentar queixa, realizam estudos sobre a discriminação e publicam relatórios sobre o tema, de forma a ajudar a melhorar o conhecimento do problema e contribuir para encontrar soluções.


Também existem organizações não governamentais (ONG) activas no campo da discriminação e da diversidade em toda a Europa. Estas ONG promovem a sensibilização para a discriminação.
Entre as várias organizações europeias que se debruçam sobre a problemática da discriminação, poderão ser realçadas a YFJ que promove os direitos dos jovens; a ILGA que promove os direitos dos gays, lésbicas, bissexuais e trangéneros; a AGE que promove os direitos das pessoas idosas; a EDF que promove os direitos das pessoas com deficiência e a ENAR que promove os direitos das pessoas pertencentes a minorias raciais, étnicas ou religiosas.


É encorajador verificar que, segundo os dados do Eurobarómetro, distintos mecanismos sociais permitem ultrapassar situações de discriminação. O relatório mostra que os círculos sociais, os esforços realizados a nível da educação e as campanhas de sensibilização estão a contribuir para uma maior aceitação da diversidade. As iniciativas e medidas políticas que procurem basear-se nesta realidade poderão ajudar a combater a discriminação e a promover a diversidade.

«Mensageiros de volta» na UAlg

Por Ângela Gago, Lénia Maria, Isa Mestre, Fábio Lima e David Marques

O motivo da sessão era, nas palavras de Vítor Reia-Baptista, professor da Universidade do Algarve, contactar com «um dos maiores factores de Literacia dos Media: a figura do provedor». Foi precisamente nesse sentido que Paquete de Oliveira, Adelino Gomes e Joaquim Vieira, provedores da RTP, RDP e Público, se deslocaram à academia no passado dia 26.

Nesta aula aberta que contou com a presença de aproximadamente meia centena de alunos e professores, coube ao presidente do Conselho Executivo da Escola Superior de Educação e Comunicação abrir a sessão. Jorge Santos agradeceu a presença dos convidados e realçou a importância deste tipo de iniciativas para a Universidade.

«OMBUDSMAN» era a palavra sueca projectada atrás dos oradores da palestra. No seu sentido literal significa «mensageiro de volta, ou seja, que traz de volta a mensagem», explicou o Prof. Vítor Reia - Baptista. No âmbito do tema desenvolvido ao longo da palestra, Vítor Reia-Baptista, o anfitrião do evento, destacou a importância dos três C’s na literacia dos media. «A literacia é um conjunto de três dimensões: cultural, crítica e criativa», explicitou o professor do curso de Ciências da Comunicação.

Em jeito de abertura, os três mensageiros optaram por partilhar com os alunos a sua experiência enquanto provedores dos três meios em que trabalham, realçando as diferenças no exercício das suas funções em rádio, televisão e imprensa.

Adelino Gomes, provedor da Rádio Difusão Portuguesa, foi o primeiro a caracterizar o seu papel no mundo dos media: «Ser provedor implica uma dupla função, implica dar voz às críticas, mas por outro lado implica que o provedor tem de ouvir o jornalista».

Já Joaquim Vieira, provedor do jornal Público, encara a profissão de um modo um pouco diferente, considerando que «o provedor é o “grilo do Pinóquio”, uma espécie de voz da consciência que alerta os jornalistas para situações erradas».

Por sua vez, Paquete de Oliveira, da televisão pública, procura «desempenhar esta função como mediador entre quem faz televisão e quem vê televisão, provocando uma interactividade forte entre os telespectadores». Ainda assim, no universo da provedoria, «o papel de mediador nem sempre é fácil» pois «os jornalistas não gostam de alguém a ‘olhar por cima do ombro’, a criticar o que eles produzem», opinou Joaquim Vieira.

Aproximando-se o final da palestra, abriu-se espaço para um debate aceso onde tanto docentes como alunos assumiram o papel de “telespectadores” e onde os oradores desempenharam o papel de «verdadeiros ´fios do back’ dos processos de comunicação dos media», como rematara Vítor Reia-Baptista, brincando com as palavras.

A discussão abrangeu temas dos vários domínios da comunicação, entre os quais a separação entre as notícias e a publicidade. «Devia existir uma divisão entre a publicidade e os conteúdos editoriais. É como haver separação entre a Igreja e o Estado», opinou Joaquim Vieira.

Na hora de fazer um balanço da sua actividade, os provedores foram unânimes: «as pessoas que estão satisfeitas escrevem aos directores e escrevem aos provedores as que querem reclamar, criticar e não aplaudir. É positivo pois consideram o provedor o seu porta-voz», conclui Paquete de Oliveira. «Sinto o feedback dos leitores pelo meu trabalho, penso que isso é positivo», concorda Joaquim Vieira.

Por Isa Mestre



Quando o leu pela primeira vez Saramago disse ter tido a clara sensação de «estar a assistir a um novo parto da Língua Portuguesa». valter hugo mãe, vencedor do Prémio Saramago em 2007, nascera trinta e cinco anos antes da distinção, na humilde cidade de Saurimo, em Angola. Hoje, em entrevista, o escritor que agitou os sismógrafos da literatura portuguesa abre-nos a porta dos seus pensamentos e deixa-nos antever uma nesga dos projectos futuros. Paciente, simples e profundo, o escritor português diz buscar apenas «tudo quanto existe dentro de si e dos outros». Rejeita a palavra triunfo e encara a sua afirmação no panorama literário português com a única tradução da palavra sucesso em que acredita: gratidão.

Redacção 2.3: Conte-nos um pouco acerca do seu percurso literário… Que dificuldades enfrentou? Como conseguiu triunfar no mundo da literatura nacional? O que sentiu ao ver um livro seu publicado pela primeira vez?

vhm: Não gosto da palavra triunfo, parece que estou em alguma corrida ou concurso. Parece que para eu ganhar alguém teria de perder. Não vejo as coisas assim, trabalho no que sempre quis, escrevo com a convicção de que é o melhor que posso dar aos outros. Se acontece de os meus livros serem cada vez mais lidos, talvez seja da natureza do tempo, da natureza dos que persistem e acreditam em algo.

R2.3: A ausência de maiúsculas é uma das características da sua escrita. É um modo de criar um estilo próprio ou apenas uma preferência ao nível literário?

vhm: Tem que ver com muita coisa. Com a aceleração do texto, a mesma dignificação das palavras, a limpeza formal e o desafio literário que me coloca.

R2.3: Foi vencedor de dois dos prémios mais conceituados em Portugal: o Prémio de Poesia Almeida Garrett e o Prémio Saramago. Sente de alguma forma o peso do seu sucesso?

vhm: Sinto-me grato. Talvez essa possa ser uma tradução da palavra sucesso em que acredito: a gratidão.

R2.3: Como caracterizaria o valter hugo mãe que encontra quando escreve?

vhm: Um rapaz com uma necessidade profunda de encontrar tudo quanto existe dentro de si e dos outros. Muito ansioso no acto da escrita, muito paciente e calmo para a vida dos livros.

R2.3: Como é ser escritor no século XXI?

vhm: Talvez usar de uma maior rapidez. Não sei. O Camilo escreveu como um escravo, foi rápido, sem dúvida. Não sei. Mas acho que, no que me diz respeito, sinto o nosso mundo como profundamente acelerado em relação ao que terá sido até décadas atrás. Na torrente, escrever neste tempo é estar sujeito (ou poder estar) a uma vertigem que traz novos ritmos para a escrita e para a leitura.

R2.3: Em duas palavras, como caracterizaria a literatura portuguesa?
vhm: Muito boa.

R2.3: José Saramago afirmou, em 2006, que o seu romance remorso de baltazar serapião se tratava de uma revolução. O Nobel diz ter tido a sensação de estar a assistir a um novo parto da Língua Portuguesa. Considera-se rebento de uma nova geração de talentos?

vhm: Hummm. Faço parte de uma geração, mas já não acho que seja mesmo a nova. Estou com 37 anos e careca. Isso de dizerem que sou um jovem escritor é só porque há gente mais velha. Mas a nova geração de escritores já são outros. Eu talvez faça parte de uma geração que, subitamente, se demarca. Também tem que ver com o tempo. É o tempo de o público descobrir o nosso trabalho. Tarda nada, viramos clássicos (se tivermos mesmo sorte) e depois o público vai querer saber de gente que já nasceu depois de nós. É natural.

R2.3: A sua poesia está traduzida em países como Espanha, Brasil, República Checa, Tunísia, Israel e até mesmo Estados Unidos. Qual a sensação de ser lido um pouco por todo o mundo?

vhm: É bom, isso de podermos comunicar com um público tão lato que ultrapassa já fronteiras e línguas. No entanto, cria também algumas angústias. O processo de tradução revela sempre algumas dificuldades em reproduzir o mesmo efeito numa língua diferente. Mas vamo-nos habituando. Faz parte.

R2.3: Qual a mensagem que pretende passar ao mundo com a sua escrita?

vhm:
Muitas. Talvez a mais permanente é a de que considero que devemos acreditar e exigir mais da humanidade, em detrimento de ilusões religiosas e políticas de ego.

R2.3: Que projectos podemos esperar para o futuro? Está para breve o lançamento de um novo livro?

vhm: Estou a escrever o meu novo romance (ainda sem título). Deverá sair apenas em 2010. Entretanto foram publicados pela Booklândia dois livros meus para crianças, «A verdadeira história dos pássaros» e «A história do homem calado». Estou muito entusiasmado com estes livros e quero seguir a colecção com novos títulos. Sempre quis escrever para os mais novos, agora sinto que chegou o tempo de o fazer.

Por Grethel Ceballos

Uma aldeia solar experimental, construída em pleno Alentejo, está a ser testada por uma eco-comunidade. O projecto recorre a vários protótipos tecnológicos para tornar uma comunidade de 50 pessoas auto-suficiente a nível energético.

Autonomia energética

Quem avança alguns quilómetros por uma estrada de terra batida, próxima de Colos, em Odemira, depara-se com um cenário diferente ao esperado. A inovação tecnológica imiscui-se com a paisagem campestre. Numa área com mais de 150 hectares, em Tamera, encontra-se o campo de testes de uma Aldeia Solar.

O projecto iniciou-se no mês de Outubro e terá a duração de um ano. A responsabilidade é da eco-comunidade de Tamera, que pretende demonstrar que, sem a utilização de combustíveis fósseis ou poluentes, é possível efectuar variadas tarefas domésticas, tais como «bombear água, produzir e cozinhar alimentos, aquecer e iluminar as casas».

A aldeia solar é um modelo alternativo para uma futura comunidade ou aldeia da paz, que pode ser generalizado e erigido em qualquer lugar na Terra que tenha uma quantidade de luz solar razoável. O motivo da escolha da região alentejana é evidente: está privilegiada em exposição solar.

«A ideia é viver um ano inteiro com esta tecnologia, ver como funciona e encontrar os pontos fracos e fortes, para poder projectar um modelo para a Tamera inteira», onde vivem mais de 150 pessoas, explicou à Agência Lusa Barbara Kovats, coordenadora da Aldeia Solar.

Protótipos tecnológicos

A aldeia solar experimental, que visa a auto-suficiência energética de 50 pessoas, conta, por exemplo, com uma estufa multifuncional que possibilita o cultivo de alimentos com pouco consumo de água. Ainda, aquece óleo vegetal que é acumulado num receptáculo.
Junto da cozinha, construída no âmbito do projecto, um espelho, com cerca de dois metros de diâmetro, desperta a curiosidade: «É um espelho de foco fixo, que vai reflectir o Sol para um tacho próprio, que aquece água em cerca de 30 minutos», explica Fabian Deppner, também membro da Tamera e colaborador no projecto. Outro protótipo em testes no Alentejo é a bomba de água, que trabalha, à semelhança dos restantes sistemas, apenas com energia solar termal.

Eco-aldeias

Uma eco-aldeia, pequena comunidade de indivíduos numa estrutura social coesa, está sedimentada em três dimensões: comunidade, ecologia e espiritualidade. O objectivo é promover um estilo de vida aos seus membros em harmonia com a Natureza.

Apesar da propagação do conceito nos últimos anos, as comunidades humanas sustentáveis ainda dão passos tímidos em Portugal, e a maioria das pessoas parece não estar preparada para abdicar do seu estilo de vida actual.

Porém, já está em fase de formação a Rede Portuguesa de Eco-aldeias e Comunidades Sustentáveis, a cargo da organização Global Ecovillage Network. O objectivo é «promover o desenvolvimento de comunidades humanas sustentáveis em território Nacional, facilitar a troca de informações e a colaboração entre todos os membros portugueses pertencentes à rede mundial, e disseminar o conceito de eco-aldeia, práticas e centros de demonstração». Esta rede pretende «encorajar sistemas que integrem ecologia, educação, mecanismos de participação em decisões, espiritualidade, bem como tecnologias e negócios ecológicos».

Até ao momento, em Tamera utilizam-se energias à base de combustíveis fósseis. A próxima etapa do projecto será granjear patrocinadores, para desenvolver a tecnologia e planejar sua proliferação.

E no seu caso, se comprovada a viabilidade do projecto, será capaz de abandonar a sua vida actual e aderir a uma eco-comunidade?

As tecnologias utilizadas na Aldeia Solar foram na sua maioria inventadas pelo alemão Jürgen Kleinwächter, que colabora com esta comunidade residente no Alentejo, que acaba por ser o seu «campo de ensaio».