Num país onde o futebol consegue ser mais importante para a sociedade do que certos problemas sociais, onde se agride e insulta pessoas por um “simples complexo” amor ao clube, há um clube com 112 anos de antiguidade que não tem a visibilidade que seria de esperar. Trata-se do Sport Clube Vianense, fundado em 1898.
Por Fábio Lima
Não é um clube que vence tudo o que há para vencer numa época, não é um clube que arraste consigo multidões, não enche estádios e muito menos atinge receitas na casa dos milhões. Mas é um clube histórico, 112 anos de existência, apenas coroados de uma história cheia de nada, um vazio de títulos que em nada se coaduna com a história e tradição que devia ter.
Fundado em 1898, o Sport Clube Vianense nasceu impulsionado por um grupo de personalidades vianenses que se juntou com o intuito de criar uma instituição que promovesse o desporto na cidade. A criação do Sport Clube Vianense «vai estabelecer nesta cidade um grémio para desenvolvimento daqueles e outros géneros de desporto (…) que, nos últimos tempos, têm tomado entre nós um verdadeiro entusiasmo», podia ler-se no primeiro manifesto do clube, no dia em que foi apresentado aos populares. Nesse primeiro acto, 75 sócios ficaram inscritos. As vertentes mais importantes na altura eram o desporto velocipédico e o náutico, este último intimamente ligado às raízes da cidade, uma cidade piscatória. Aliás, durante muitos anos no século XX, o clube era entendido como sendo «o clube dos pescadores», onde o bairrismo e a devoção ao clube eram reais.
Agora, em pleno século XXI, o clube está abandonado pelos seus e, por vezes, nem uma dezena de espectadores o Estádio Dr. José de Matos tem nos jogos caseiros. Durante os jogos, quer a equipa esteja a ganhar por 1-0 ou por 5-0 o aspecto é igual, um silêncio sepulcral. Não há vontade, nem sentimento para apoiar o clube, para gritar por um momento que seja “Vianense!”. Quem acompanha a carreira do clube, certamente se recorda da temporada de 2007/2008, quando o Sport Clube Vianense atingiu um lugar de subida à 2ª Divisão Nacional. Num cenário raro para o clube minhoto, mais de três centenas de pessoas estavam a assistir ao jogo e via-se ânimo e vontade de apoiar, mas para quê? Um ano depois, o estádio volta a estar vazio e os jogadores entregues aos seus próprios incentivos interiores. Se muitos vianenses soubessem que apenas três equipas da Liga Sagres (FC Porto, Naval 1º de Maio e Académica de Coimbra) são mais antigas que o clube da sua terra, talvez a situação fosse diferente?
Marco Alexandre, capitão da equipa sénior, é um dos jogadores em quem os – poucos – vianenses que vêm os jogos mais esperam que faça a diferença. O médio natural da cidade do Rio Lima, falou-nos do que sente em ser capitão do clube que da sua terra. «É um grande orgulho, é uma grande responsabilidade. Nasci aqui em Viana do Castelo e fiz a minha formação toda no Vianense e é com grande orgulho que estou a capitanear esta equipa». «Enquanto jogador também sinto esse orgulho. Quando comecei nos infantis, como todos os miúdos que começam a jogar futebol, o sonho é jogar pela equipa principal. Eu não fugi à regra e consegui esse objectivo. Depois entretanto tive umas saídas para outros clubes mas acabei por regressar e deve ser aqui que vou acabar a carreira», finaliza o jogador de 32 anos que já esteve vinculado ao Sporting de Braga.
Também Rogério Brito, ex-jogador do clube, agora treinador da formação minhota confirma-nos que o facto de treinar as cores da equipa que o viu nascer para o futebol é um marco muito importante. «Sinto muito orgulho em ser o treinador do Sport Clube Vianense porque foi uma casa onde eu cresci. Cheguei cá com oito anos, foi aqui que me formei enquanto jogador, e também foi aqui que além de ter tido a oportunidade de ser atleta de alta competição nos clubes onde passei, foi aqui também que tive oportunidade de ser treinador principal.»
O treinador de 33 anos, que chegou a alinhar nos primo-divisionários Estrela da Amadora e Belenenses garante que as metas para esta época estão bem alinhavadas, e o clube deve manter-se onde está. «Eu acho que o clube tem o que é preciso para subir mais alto, mas é uma tarefa muito difícil. Não é pelo orçamento em si, mas sim pela juventude que temos no plantel. E as equipas que estão neste campeonato são equipas muito experientes, equipas com orçamentos muito elevados, e consequentemente conseguem ter jogadores com outra maturidade, com outra matreirice. Jogadores que conhecem esta e outras divisões, e isso é um factor que joga contra nós. Apesar disso e apesar de alguns dos jogadores que aqui temos ainda estarem em período de formação, eles têm talento e isso pode-se comprovar na nossa classificação ao momento. Mas o principal objectivo visa garantir a manutenção.»
Opinião semelhante tem o Vice-Presidente do clube Pedro Xavier que afirma que «o Sport Clube Vianense na 2ª Divisão vai querer manter-se no final desta época. De qualquer das formas este é um projecto que tem vindo a ser cimentado desde há três anos, desde que esta direcção chegou a este clube, apanhamos o clube numa situação muito delicada em termos financeiros e desportivos. Recordo-me que a equipa de futebol Sénior estar a lutar para não descer aos Campeonatos Distritais, depois conseguimos encaminhar as coisas e manter uma posição na 3ª Divisão nacional durante as duas primeiras épocas e depois conseguimos alcançar a subida à 2ª Divisão. De qualquer das formas, é na 2ª Divisão que o Sport Clube Vianense se deve manter até porque a cidade não oferece mais garantias para que possamos sonhar com outros patamares. O grande objectivo passa por manter esta equipa durante bastantes anos na 2ª Divisão.»
No meio de tanta falta de história, o momento mais alto que o clube viveu foi em 1999, quando o Vianense foi campeão nacional da 3ª Divisão. Joaquim Lavarinhas, funcionário no clube há mais de 35 anos recorda-nos com emoção esses momentos, vividos na fila da frente, sempre a lutar pelo melhor para o clube. «Na Figueira da Foz houve uma coisa muito bonita, a cidade juntou-se com o clube, apoiando-o até ao último momento para sermos campeões da 3ª Divisão Nacional. Depois disso prometeu-se tudo e mais alguma coisa, mas essas promessas nunca foram cumpridas. Prometeram ajudar o Sport Clube Vianense e o Vianense continua a não ser ajudado por quem prometeu. Foi uma festa muito bonita, eu próprio estive envolvido na festa pois criei uma claque composta maioritariamente por jovens que foi até à Figueira da Foz para apoiar o Sport Clube Vianense. Foram muitos autocarros, muitos carros, tudo para festejar o grande dia do Sport Clube Vianense. Porque é mesmo um grande dia, foi a primeira vez em muitos anos em que o Vianense conquistou o título da 3ª Divisão Nacional. Recordo-me de estar na Praça da República a festejar a conquista, com muito fogo-de-artifício. Só que eu continuo a achar a mesma coisa ao fim de 35 anos: é muito bonito ver essas coisas todas, mas o apoio ao Sport Clube Vianense é muito fraquinho. Eu esperava que a nível de entidades fosse dado um apoio digno ao Vianense se querem, pelo menos, um Vianense na 2ª Divisão de Honra (Liga Vitalis).»
Uma das questões que se colocam mais quando se fala na falta de apoios e também na consequente pequena dimensão do clube prende-se com o baixo poder de compra dos cidadãos do distrito do Alto Minho. De acordo com os últimos dados fornecidos pelo INE em 2007, o distrito do Alto Minho possui apenas 1,688% da percentagem nacional de poder de compra, tendo menos de metade do poder de compra do distrito vizinho, do Baixo Cávado. Aliás, apenas Trás-os-Montes consegue atingir níveis mais baixos que os minhotos. É neste ponto que Pedro Xavier toca quando fala da falta de apoios do clube, apesar de considerar que a falta de interesse das pessoas em apoiar o clube também seja um dos entraves. «O problema de o clube não poder ambicionar a subida é a falta de apoios. Como se sabe, o distrito de Viana do Castelo é dos mais pobres do país, e além disso não há apoios suficientes. A Câmara Municipal não dá o apoio necessário, sabemos que são muitas colectividades mas temos que ter consciência que o Sport Clube Vianense já tem 112 anos e dessa forma pensamos que devia ser mais apoiado. Porque, como se sabe, o futebol é uma máquina que gera movimento, nomeadamente de gente, e a cidade precisa disso: gente, movimento... Para que possa crescer. E o Sport Clube Vianense devia ser uma rampa de lançamento para que esse movimento na cidade pudesse crescer, não acontece assim, a Camara não apoia, o povo não está muito interessado. E o facto de o poder de compra das pessoas ser muito baixo faz também com que o clube não possa ir mais além.»
«Lembro-me da primeira vez que cheguei ao balneário dos Seniores tive que me equipar à parte dos elementos mais velhos. Eu tinha apenas dezassete anos, na altura estávamos na 3ª Divisão, recordo-me que o treinador era o Mister Jorge Regadas, para esse treino fui eu e outros dois colegas. Quando chegamos ao balneário, batemos à porta, cumprimentamos os restantes e quando entramos lá para dentro, meteram-nos meia hora ali de pé à espera que eles se acabassem de equipar e depois fomos nós. Como miúdos tivemos que aceitar», é assim que Rogério Brito recorda um dos muitos momentos que viveu no Sport Clube Vianense, um clube que apesar de já ter conhecido 3 séculos, continua a ser uma incógnita, deixando ainda mais longe Viana do Castelo das demais capitais de distrito do Litoral. Em termos desportivos, a tendência tem-se alterado com a recente ascensão da formação da Juventude de Viana no Hóquei em Patins, mas o futebol é o desporto-rei e se as instituições tivessem os apoios mais sérios, talvez Viana do Castelo pudesse ter uma dimensão desportiva e mesmo social bem mais elevada da que se verifica neste momento.
Assiste-se no Distrito de Viana do Castelo ao desaparecimento progressivo de alguns clubes míticos, como é exemplo o Atlético de Valdevez, que após a falta de apoio tanto camarário como de entidades, acabou por cessar funções em Janeiro deste ano. É um cenário negro para um distrito que já respirou mais livremente em termos económicos.
Divulgação de número de desempregados no país relança no novo ano o debate acerca das medidas a serem tomadas
Por Vanessa Costa
Pouco passava das dezoito horas da tarde quando a primeira pessoa chegou. Aos poucos foram chegando mais algumas, apetrechadas de mantimentos, que acabaram por ocupar e passar a noite nos bancos situados em frente ao Instituto de Emprego e Formação Profissional (IEFP), em Albufeira. O motivo? Garantir a possibilidade de atendimento. E nem mesmo uma noite de espera o assegurou: «após ter passado uma noite ao relento, ainda assim não consegui ser atendida durante o dia», confessa uma das utentes. «Terei de passar cá a noite outra vez», revelou enquanto esperava que um dos seus filhos lhe trouxesse algo para comer.
Esta situação durou cerca de três dias, no início do mês de Novembro de 2009. Embora esta seja a altura do ano em que a maioria dos locais relacionados com a hotelaria e a restauração no Algarve encerra as suas actividades, o número de pessoas desempregadas tem aumentado drasticamente não apenas nesta região mas em todo o país, afectando praticamente todas as profissões.
Record batido em 2009
Desempregado, Carlos Fradinho considera a possibilidade de vender os seus trabalhos artísticos para amenizar as dificuldades a nível financeiro.Em Portugal, o desemprego mostra-se imparável e Carlos Fradinho, 42 anos de idade e residente em Albufeira, não escapou à onda de despedimentos que se alastra pelo território português. Desempregado há três meses, Carlos faz parte das cerca de 564 mil pessoas desempregadas no país, número atingido em Novembro de 2009 (mais 129 mil que no ano anterior). Este é o valor mais elevado desde 1983, desde que começaram os registos.
Um recente relatório da Eurostat revelou que a taxa de desemprego se situou nos 10,3% no décimo primeiro mês do ano passado, contra 10% na Zona Euro e nos EUA. Esta estimativa teve em conta os dados do Instituto Nacional de Estatística que aponta uma taxa de desemprego de 9,8% no terceiro trimestre de 2009, e os dados do IEFP que, ao longo do mês de Novembro, registou a inscrição de mais de 61 mil novos desempregados.
O presidente do IEFP, Francisco Madelino, admitiu que é provável que esta taxa não desça antes de meados de 2010. Ainda menos positiva é a posição da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico que prevê que o desemprego possa atingir os 11,7% (650 mil pessoas) no final de 2010.
É a «primeira vez que me encontro no desemprego, desde que comecei a minha vida profissional há cerca de 25 anos», numa carreira construída essencialmente como cozinheiro, revela Carlos. Considera que a situação do desemprego a nível nacional «não verá melhoras nos próximos tempos» e, na sua opinião, «vai acontecer o que aconteceu na Grécia, onde o estado entrou em falência e agora está dependente das ajudas técnicas do Fundo Monetário Internacional [FMI]».
Recorde-se que a situação financeira da Grécia, que se apresenta como a pior dos 27 países da União Europeia e cujo défice orçamental se situava em 12,7% do PIB em 2009, está a gerar preocupação nos restantes Estados-membros da União Europeia relativamente ao agravamento da crise na Zona Euro. Uma equipa do FMI foi enviada ao sul da península balcânica no dia 13 de Janeiro para examinar a eventualidade de assistência ao Governo grego na reforma da segurança social, política fiscal, administração fiscal e gestão do orçamento.
O Eurostat estimou ainda a existência de 89 mil desempregados com menos de 25 anos em Portugal. O secretário de Estado do Emprego Valter Lemos salientou o facto da taxa de desemprego jovem se situar nos 18,8%, abaixo da média da Zona Euro (21%) ou da UE (21,4%), facto que atribui às iniciativas de apoio ao emprego.
Valter Lemos lamentou ainda que o desemprego em Portugal tenha atingido um novo máximo no mês de Novembro, mas ressalvou a descida no ranking em relação à média dos países europeus. Portugal desceu do quinto para o sexto país entre os 27 da UE com mais desemprego. As taxas de desemprego da Letónia (22,3%), Espanha (19,4%), Irlanda (12,9%), Eslováquia (13,6%) e Hungria (10,8%) superam a taxa portuguesa.
Hoje, há quase 22,9 milhões de desempregados na UE, sendo 15,7 milhões deles apenas na Zona Euro, valor mais elevado de desemprego na Europa desde Janeiro de 2000. A CGTP chamou também a atenção para o facto da taxa de desemprego das mulheres (11%) estar acima da dos homens (9,7%) e da média feminina da UE (9,2%). Em Portugal, existem actualmente 170 mil desempregados que não recebem qualquer subsídio.
«Iniciativa Emprego 2010»
Apontando a «crise económica» e a «pouca flexibilidade nas empresas» como as principais razões para a crescente taxa de desemprego em Portugal, Carlos Fradinho refere que o «Estado não tem feito tudo ao seu alcance para tentar combater esta situação» e «que deveria apostar em ajudas técnicas às empresas».
O Governo decidiu, a 14 de Janeiro, aprovar algumas medidas de apoio aos desempregados. Neste sentido, o Conselho de Ministros aprovou a «Iniciativa Emprego 2010», que deverá abranger 760 mil pessoas e representará um custo de 500 milhões de euros, envolvendo 17 medidas que visam assegurar a manutenção de postos de trabalho, incentivar a inserção de jovens no mercado de trabalho, criar emprego e combater o desemprego.
Este pacote de medidas de apoio à criação de emprego inclui incentivos como um programa de estágios para desempregados não subsidiados com comparticipações reforçadas e o pagamento directo de 2500 euros às empresas que os contratarem. No entanto, este programa destina-se apenas a desempregados não subsidiados acima de 35 anos, que tenham concluído o ensino básico ou secundário por via das Novas Oportunidades ou que sejam licenciados.
Também consta da «Iniciativa Emprego 2010» a criação do novo programa de estágios e de apoios à contratação para jovens de cursos profissionais ou tecnológicos, a oferta de apoios financeiros e isenção na taxa de Segurança Social, e aprovação de um Decreto-Lei que alarga «por um período de seis meses, a atribuição do subsídio social de desemprego inicial ou subsequente ao subsídio de desemprego que cesse no decurso do ano de 2010».
No final de Setembro do ano passado, os dados sobre o cumprimento da «Iniciativa Emprego 2009» mostraram que os apoios à contratação sem termo e à redução da precariedade entre adultos e grupos específicos abrangeram apenas 644 pessoas, em vez das 12 mil previstas. Já os apoios aos jovens abrangeram 5.500 pessoas, face às 20 mil prenunciadas.
O presidente da Cáritas Portuguesa, Eugénio da Fonseca, defendeu que o futuro Orçamento do Estado (OE) tem também de ser uma arma para vencer o «grande gigante que se apoderou da nossa sociedade que é o desemprego», considerando que «o objectivo principal e primeiro e para já é criar as condições para vencermos o desemprego gerando novos postos de trabalho».
Licenciados não são excepção
Segundo dados do IEFP, Portugal tinha 42.800 licenciados no desemprego no final do segundo semestre de 2009, registando um aumento de 14% em relação ao ano anterior. Os cursos com mais alunos inscritos como Gestão, Direito ou Psicologia são os que apresentam as maiores taxas de desemprego. Um cruzamento dos dados do Ministério do Ensino Superior e do IEFP concluiu que oito dos quinze cursos mais frequentados em Portugal patenteiam os índices mais elevados de desemprego. Segundo os dados de Junho de 2009 do IEFP, as Ciências Empresariais apresentam-se como a área profissional com a mais alta taxa de desemprego (19,9%). O último relatório semestral do IEFP revela no 1.º semestre de 2009 os centros de emprego colocaram 1418 desempregados com o ensino superior, ou seja, 236 por mês.
Muitos são também aqueles que, ao verem a procura por um emprego relacionado com os seus cursos superiores revelar-se um insucesso, têm de aceitar empregos fora das suas áreas de formação. Este é também o caso de Carla Pinto, 30 anos e residente no Porto. Licenciada em Engenharia Alimentar há 7 anos, até hoje apenas conseguiu trabalhar na sua área «durante cerca de quatro anos». Actualmente trabalha como assistente no stand de automóveis administrado pelo pai, pois não consegue «arranjar trabalho na área da Engenharia Alimentar». «Claro que preferia ter um emprego na área em que me formei, mas também não posso ficar parada. As facturas para pagar também não param de chegar ao fim do mês…», revela Carla.
Salientando que «o “canudo” não é sinónimo de garantia de emprego», o discurso de Carla mostra que, hoje em dia, há cada vez mais um dilema entre a vocação e a estabilidade financeira.
A escassez de oportunidades leva também a que muitos dos jovens portugueses partam para outros países em busca de emprego.
Angola: Uma solução?
Hoje, os dias de Carlos Fradinho são divididos entre os trabalhos artísticos que faz como hobby e a procura de emprego. Embora admita que nesta procura se tem cingido à sua área, confessa também que não põe de parte a possibilidade de tentar arranjar emprego noutra região ou país.
«Principalmente no estrangeiro, Angola. Apresenta boas oportunidades profissionais e financeiras», refere.
A verdade é que nos últimos anos, com o desemprego a aumentar em Portugal, muitos são os portugueses que decidem ir ou retornar a Angola, tentando alcançar a estabilidade financeira que aqui lhes foge das mãos.
« [Angola] está no princípio do seu desenvolvimento», refere Belmiro de Azevedo.Belmiro de Azevedo é um dos que defende a importância de Angola para o combate ao desemprego em Portugal como destino de emigração, opinando que este é «seguramente um país que pode atrair muitas pessoas. Está no princípio do seu desenvolvimento e como tal dispõe de muitos empregos e não precisa de trabalho muito qualificado».
Ainda que Daniel Bessa, ex-ministro de António Guterres, partilhe a mesma opinião, este lembra ainda que Angola é apesar de tudo «um lugar de risco».Muitos são também aqueles que, ao verem a procura por um emprego relacionado com os seus cursos superiores revelar-se um insucesso, têm de aceitar empregos fora das suas áreas de formação. Este é também o caso de Carla Pinto, 30 anos e residente no Porto. Licenciada em Engenharia Alimentar há 7 anos, até hoje apenas conseguiu trabalhar na sua área «durante cerca de quatro anos». Actualmente trabalha como assistente no stand de automóveis administrado pelo pai, pois não consegue «arranjar trabalho na área da Engenharia Alimentar». «Claro que preferia ter um emprego na área em que me formei, mas também não posso ficar parada. As facturas para pagar também não param de chegar ao fim do mês…», revela Carla.
Salientando que «o “canudo” não é sinónimo de garantia de emprego», o discurso de Carla mostra que, hoje em dia, há cada vez mais um dilema entre a vocação e a estabilidade financeira.
A escassez de oportunidades leva também a que muitos dos jovens portugueses partam para outros países em busca de emprego.
Angola: Uma solução?
Hoje, os dias de Carlos Fradinho são divididos entre os trabalhos artísticos que faz como hobby e a procura de emprego. Embora admita que nesta procura se tem cingido à sua área, confessa também que não põe de parte a possibilidade de tentar arranjar emprego noutra região ou país.
«Principalmente no estrangeiro, Angola. Apresenta boas oportunidades profissionais e financeiras», refere.
A verdade é que nos últimos anos, com o desemprego a aumentar em Portugal, muitos são os portugueses que decidem ir ou retornar a Angola, tentando alcançar a estabilidade financeira que aqui lhes foge das mãos.
« [Angola] está no princípio do seu desenvolvimento», refere Belmiro de Azevedo.Belmiro de Azevedo é um dos que defende a importância de Angola para o combate ao desemprego em Portugal como destino de emigração, opinando que este é «seguramente um país que pode atrair muitas pessoas. Está no princípio do seu desenvolvimento e como tal dispõe de muitos empregos e não precisa de trabalho muito qualificado».
Ainda que Daniel Bessa, ex-ministro de António Guterres, partilhe a mesma opinião, este lembra ainda que Angola é apesar de tudo «um lugar de risco».
São cada vez mais os programas virtuais em pleno século XXI. Portugal não é excepção
Reportagem por Ivan Cordeiro
Por Joana Perez
É um assunto polémico, mas que poucos conhecem verdadeiramente. "Maria Monteiro", professora há mais de trinta anos e a leccionar, actualmente, as disciplinas de Português e Inglês ao 5.º ano, explica à Redacção 2.3 as diferentes razões em torno do novo Acordo Ortográfico.
Redacção 2.3: Suponho que esteja a par do Novo Acordo Ortográfico?
Maria Monteiro: Conheço a versão do documento apresentada em 1990 e aprovada pelo governo português em 1995. Este documento gerou muita polémica e houve uma publicação da Dra. Edite Estrela «A questão do acordo» que veio semear muita controvérsia.
R2.3: E a versão actual?
MM: Bem, não quero aprofundar a questão sem antes esclarecer alguns pontos, para que melhor se entenda o que causa tanta polémica. Com a independência de Timor Leste e a decisão de adoptar a Língua Portuguesa como língua oficial, houve necessidade de rever o protocolo existente entre os países que adoptaram como língua oficial a Língua Portuguesa. Com a aprovação do Segundo Protocolo Modificativo ao Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa, em 2004, ficou determinado que bastava a ratificação de três membros para o acordo entrar em vigor. No mesmo ano, o Brasil ratifica o acordo e, mais tarde, o mesmo é ratificado por S. Tomé e Príncipe e Cabo verde, possibilitando assim a entrada em vigor do acordo. Em 2008 Portugal aprova o acordo e, concordemos ou não, ele já está em vigor.
R2.3: Então, visto que já entrou em vigor, este acordo vai obrigar todos os falantes a reverem a forma como escrevem?
MM: O maior problema está nos falantes do Português de Portugal, já que nos outros países onde se fala Português, o acordo veio ao encontro das suas dificuldades e necessidades, porque o Português aprendido nas ex-colónias usava vocabulário já há muito em desuso em Portugal. Além disso, a existência de duas línguas oficiais (O Português de Portugal e o Português do Brasil) obrigava a traduções diferentes de um mesmo livro, documento, etc.
R2.3: Então acha que o acordo tem mais vantagens do que desvantagens?
MM: Preferia não falar em vantagens ou desvantagens, mas sim em facilitar a comunicação entre os vários falantes de uma língua. Mas, claro, se me perguntar qual é a minha opinião, não consigo ter uma posição fria em relação ao assunto, isto é, não consigo ser a favor nem consigo estar contra.
R2.3: Como assim?
MM: Como professora, sei da dificuldade que os alunos encontram em escrever e, de um momento para o outro, dizer aos alunos que uma determinada palavra já não se escreve dessa maneira pode trazer muita discussão e gerar algumas dificuldades. Eu própria me recordo dos tempos de escola em que escrevia certas palavras com ph, que hoje se escrevem com f e esta mudança custou um pouco a entender. Também ensinei Português a luso-descendentes, nascidos na América do Norte, que falavam a língua, mas não conheciam o Português escrito, e verifiquei a sua dificuldade em acentuar as palavras. Por este tipo de dificuldades, pode entender que não posso assumir uma posição pró ou contra.
R2.3: Essa dificuldade é compreensível pelo facto de não existirem acentos na Língua Inglesa.
MM: Nós, professores, entendemos isso, mas torna-se difícil corrigir um texto escrito que sem acentos fica quase incompreensível. No meu caso pessoal, compreendo pelo sentido da frase, se estiver bem estruturada. Há, contudo, o problema do conhecimento do vocabulário. O próprio acordo remete para a consulta do Vocabulário ortográfico da língua portuguesa.
R2.3: Na sua opinião, o que deveria ser feito para que o acordo funcionasse?
MM: Existem mais de 230 milhões de falantes da Língua Portuguesa e, como é sabido, em Portugal somos apenas 12 milhões. Como minoria, pouco peso temos. Mas sendo Portugal o país que colonizou e deixou marcas por todo o mundo, pergunto-me se não devia impor a sua soberania. Para mim a língua é um dos símbolos mais importantes que contribui para a identidade de um povo. Não vamos deixar de falar Português, mas há marcas da língua que são únicas e têm origem em étimos que nada têm a ver com as ex-colónias.
R2.3: Considera, então, que o Governo português não tomou posição face às desigualdades do acordo?
MM: Não sei o que está na base dos sucessivos protocolos, mas sei que podia ter havido uma maior aposta no apoio ao ensino da língua. Há pouco, para não dizer quase nenhum, apoio ao ensino português nos países falantes e nos países em que a população de origem portuguesa tem já uma grande representação. Se o português é conhecido, em parte deve-se ao português do Brasil, porque em Portugal não há interesse na divulgação e a literacia acaba por ser pobre. Os livros são caros e quando traduzidos ainda mais, mas não necessariamente bons, isto é, boas traduções. Hoje em dia o português não é conhecido por quem fala a língua e defendem-se mais os estrangeirismos do que a manutenção da expressão ou da palavra em Português.
R2.3: Não estará relacionado com o facto de todos terem maior acesso a uma linguagem mais técnica?
MM: Está relacionado, mas há pouca preocupação em defender o que é português e não me refiro apenas à língua.
R2.3: Compreendo. Muito obrigada, Dra. Maria Monteiro por responder a estas perguntas.
MM: Eu também agradeço a oportunidade de poder falar sobre o assunto e alerto para que todos se informem do que é, de facto, o Novo Acordo Ortográfico, para poderem estar mais actualizados.
Por Inês Calhias, Joana Sousa, Joana Varela, Mafalda Ferreira
Licenciado em Ciências da Comunicação pela Universidade do Algarve, Fábio Ventura, autor de “Orbias - As Guerreiras da Deusa”, deu a conhecer à Redacção 2.3 o lado mais pessoal da criação desta recente obra.
Redacção 2.3: O seu percurso académico inspirou-o na criação do livro e incentivou-o à descoberta do mundo da literatura?
Fábio Ventura: Não. Antes de ingressar no curso de Ciências da Comunicação, o “bichinho” da literatura já cá estava. Apesar de ser um curso que exige que se leia muito, não incentiva propriamente a descoberta da literatura como forma de entretenimento. Mas posso afirmar sem reservas que o curso foi muito importante para melhorar e amadurecer a minha escrita. O curso requer que se escreva muito e bem e, apesar de ser numa perspectiva mais prática ligada à Comunicação, inevitavelmente acaba por incentivar à escrita de ficção.
R2.3: Quando é que começou a pensar na criação do “Orbias”?
F.V.: Comecei a pensar neste projecto no meu 2.º ano de faculdade (finais de 2005). A ideia de criar uma história foi amadurecendo e, em Fevereiro de 2006, comecei a escrever o livro. Escrevi-o em 2 meses. Enviei o manuscrito para algumas editoras, mas como não obtive qualquer resposta, deixei o livro na gaveta. Cerca de dois anos depois, em 2008, terminei o curso e decidi pegar no livro de novo. Reescrevi-o completamente e ao enviá-lo para as várias editoras, obtive uma resposta positiva da Casa das Letras (Grupo Leya).
R2.3: A redacção do livro demorou muito tempo ou já tinha a história pensada quando começou a escrever o livro?
F.V.: Demorou muito pouco tempo. A redacção propriamente dita demorou creio que 2 meses e meio. A nova versão do livro, a que foi editada, também demorou cerca de 2 meses. Antes de escrevê-lo, não pensei muito sobre a história e personagens em si. Como tenho uma escrita muito intuitiva, tudo vai fluindo naturalmente.
R2.3: O mundo do “Orbias” é totalmente imaginário. Onde se inspirou para criar um livro do género fantástico? Cada personagem retrata/representa pessoas da sua vida ou criou-as originalmente?
F.V.: Não posso afirmar que o mundo de “Orbias” seja totalmente imaginário. Em todo o livro tentei estabelecer um certo equilíbrio entre elementos reais, que existem no mundo moderno actual, e elementos de fantasia. Eu inspirei-me em muitas coisas mesmo e que aproveito sempre que escrevo: filmes, videojogos, séries de televisão, arte, literatura, música, etc. Acredito numa convergência de meios artísticos que se entrelaçam. Vários elementos desses objectos culturais servem de inspiração para a minha escrita. Por exemplo, a partir de uma pintura ou de uma música, consigo escrever um capítulo inteiro pelas emoções e pelas imagens que essas obras me provocam. Mas diria que não há uma coisa específica em que me inspire. Tento ser o mais original possível e, portanto, vem tudo da minha imaginação. Quanto às personagens, todas elas têm um traço da minha personalidade, como se fossem minhas filhas. Há outras que representam arquétipos de personagens neste tipo de ficção fantástica. Não me inspiro em pessoas que conheço, mas é curioso que no produto final acabou por haver personagens que ficaram parecidas a amigos meus.
R2.3: Qual o feedback obtido até agora com a venda do livro? O lançamento do livro superou as tuas expectativas?
F.V.: Até agora não tenho dados concretos sobre a venda dos livros por parte da editora. Apenas fui informado de que, para um novo autor português, o livro não estava a sair mal. Porém, o livro superou, e muito, as minhas expectativas. Uma vez que durante o curso ganhei hábitos de comunicação e divulgação, eu próprio decidi tratar da divulgação do meu livro, paralelamente à editora. O meu público-alvo são os jovens e jovens adultos, pelo que sabendo que este público é muito susceptível às redes sociais, criei Facebook, Hi5, blogue, Twitter, mail no sentido de promover o “Orbias”. Graças a isso, e obviamente à ajuda da editora, consegui gerar uma grande expectativa em torno da obra e cujo resultado tem sido muito positivo. Diariamente recebo mails, comentários e contactos de leitores muito felizes com o livro e ansiosos pela publicação da segunda parte. Em adição, tenho recebido muitos contactos de jovens aspirantes a escritores que vêem em mim um modelo (por ser tão jovem) e que me pedem conselhos, ajuda e opiniões.
R2.3: “Orbias” representa um trabalho que marca a conclusão do seu percurso académico ou um trabalho que marca o início de uma carreira?
F.V.: Não, este primeiro livro em nada teve a ver com o meu percurso académico. Terminei o curso, mas não teve inevitavelmente relacionado com a publicação desta obra. São aspectos diferentes, até porque o ofício da escrita não está directamente relacionado com a área do curso ou com as suas saídas profissionais. Este primeiro trabalho simboliza, sem dúvida, o início de uma carreira que espero que dure muitos e muitos anos porque é algo que adoro fazer. No entanto, não será a minha única carreira. Infelizmente, em Portugal ser escritor não é uma profissão e o pagamento que recebemos pela venda dos livros não garantem sustentabilidade de vida. Espero conseguir fazer carreira na minha área, da Comunicação, ou talvez experimentar algo novo que me preencha e me proporcione boas condições de vida.
Por Inês Calhias, Joana Sousa, Joana Varela e Mafalda Ferreira
Aclamada como a «rainha portuguesa do fado», Mariza, uma das mais conceituadas fadistas portuguesas, tem prestado o seu contributo para manter Portugal nos maiores palcos do mundo. Ainda assim, nas mais variadas ocasiões, não deixa de mostrar a sua humildade, tendo chegado a dizer que não é nada mais do que uma «cantadeira de fados».
Mulher de figura esguia, franzina, de olhos grandes e vestidos armados, muitos a conhecem pela força que a sua voz tem: através da sua música domina uma sala de espectáculos. Mariza nasceu em Moçambique e foi o seu pai que determinou o seu gosto pelo fado. A sua primeira actuação foi aos 5 anos, mas só a partir da adolescência é que a sua música começou a ser reconhecida. Começou por cantar géneros musicais como Pop, Gospel e Jazz, chegando a integrar bandas que actuavam em bares da capital. Contudo, a sua paixão era o Fado, ao qual se dedicou por completo.
Fado música do mundo
O nome Mariza deixou de soar, há muito tempo, apenas por terras portuguesas. A cantora internacionalizou-se, chegando a sua música a países como Alemanha, Bélgica, EUA (onde o seu primeiro álbum chegou ao sexto lugar dos mais vendidos na área de World Music), Reino Unido, Finlândia, entre muitos outros. É de salientar também que a fadista já fez várias digressões. Mariza pisou palcos como o New Jersey Performing Arts Center e o Hollywood Bowl. Participou também em programas, nomeadamente da BBC, programas franceses, e foi até capa da revista Folk Roots. Já em Londres esgotou, com dois meses de antecedência, o Purcell Room do The Royal Festival Hall, onde actuou no Festival Atlantic Waves. Actuou, também, na Ópera em Frankfurt, entre muitos outros sítios.
Gravações de uma carreira
O primeiro disco, Fado em Mim, foi editado em 32 países. Mariza não conseguiu contrato de nenhuma editora discográfica portuguesa, no entanto, uma editora holandesa, a World Connection, decidiu apostar na fadista lançando o seu primeiro disco em vários países. Os seus principais concertos foram o concerto em Lisboa, nos jardins da Torre de Belém, do qual surgiu um álbum, que recebeu uma nomeação para um Grammy Latino, e o concerto no Pavilhão Atlântico com convidados especiais.
Com este CD conseguiu várias nomeações e prémios. Uma das músicas que obteve melhor repercussão foi Chuva. O CD vendeu muito em Portugal, liderando os tops portugueses. Os álbuns seguintes também foram muito bem aceites pelos ouvintes.
Para além dos CD, a cantora também gravou um DVD, após um momento alto da sua carreira, o concerto em Londres. O DVD intitula-se Mariza Live in London. O seu segundo disco intitulado Fado Curvo também teve uma grande notoriedade ao ponto de obter a quádrupla platina novamente. A música com maior destaque neste álbum foi Primavera.
O terceiro disco intitula-se Transparente, em homenagem a sua avó africana, sendo nesse CD misturadas novas sonoridades ao fado. Terra é o nome do quarto álbum e já foi apresentado em mais de 100 palcos de 20 países. O disco baseia-se nas várias digressões realizadas por Mariza e inclui alguns fados clássicos, como Alfama e Rosa Branca. Os quatro concertos nos coliseus de Lisboa e do Porto esgotaram na apresentação deste CD.
Valor reconhecido
Com uma carreira consolidada e amplamente reconhecida, Mariza é considerada uma grande cantora a nível nacional e internacional. Para além da sua grande voz, tem uma imagem sofisticada que tem impressionado o público e crítica especializada. Jornais como The Guardian distinguem o seu valor, caracterizando-a como “ a jovem diva teatral portuguesa”.
Recentemente, o objectivo assumido da cantora de levar Portugal ao Mundo, através do seu talento, valeu-lhe a nomeação de Embaixadora do Instituto de Turismo de Portugal.
Mariza foi a celebridade escolhida para ser entrevistada por Francisco Pinto Balsemão na comemoração dos 25 anos da revista Blitz, o que demonstra a importância desta artista para o país e no panorama internacional.
Quando o ritmo e o sentimento das pessoas do Alentejo se encontra com os motivos de Dezembro há lugar para a festa, para o conto, para o canto e para alegria
Por Daniel Lopes
Da azáfama do dia 24 de Dezembro à tranquilidade do dia 25, a quadra natalícia é comemorada na vila de Aljustrel entre a tradição da lareira e da reunião familiar, o convívio de amigos e reencontros nos cafés e ruas da localidade alentejana.
Na véspera de Natal o céu carrega-se de cinzento, ameaçando, com chuva, cobrir a noite que se avizinha. Anda muita gente na rua, conversando, sorrindo, nas compras, em trabalho. Um camião cheio de pregagens recorda-nos a alma industrial da vila. Nesta quadra, Aljustrel vestiu-se de luzes, decorou as suas esquinas, encheu-se de enfeites nas montras e até mesmo durante a tarde havia música de natal projectada para as ruas, para quém quisesse e quem não a quisesse ouvir. A cor partidária mudou e isso nota-se tanto nas ruas como nas pessoas, e no reflexo desta data, neste sítio. Mas não importa, apesar do burburinho político que ainda se faz sentir, as gentes esquecem-se das suas diferenças e relaxam ansiando a refeição demorada da noite de Natal e os copinhos brindando ao menino Jesus. Assim se passa de uma tarde envolta num cinzento pálido, onde reina o cheiro a castanhas assadas, a terra molhada, atravessada pelo vento norte, para o frio da noite que antecede o dia de Natal. Agora as ruas esvaziaram-se, os cafés e lojas fecharam portas, a música cessou, no ar paira o fumo a lenha das chaminés, todas as casas acendem as suas luzes, todos se resguardam no conforto da família: eis o seu significado.
Bacalhau, pato, marisco, porco, peru, doces, vinho, medronho, a noite vai-se compondo enquanto cada presente se abre, cada sorriso se revela, e as conversas caem na descontracção. Famílias visitam famílias, filhos regressam à terra, crianças brincam com presentes, adultos cantam alegremente uma moda afinada. O 24 dá lugar ao 25 numa grande confraternização. A vila recebe o seu melhor presente: a vida que as pessoas lhe dão.
A noite alonga-se então de novo pelas ruas, quem está bem em casa fica em casa, de roda da lareira, quem quer sair e rever os amigos, sai, o que importa é que a festividade continua, o espírito continua. Alguns bares abrem portas, contam-se histórias, toda a gente tem sempre muitas histórias, há muito que dizer. Quase todos conhecem todos, a conversa flui em cada recanto onde se vai, e o que é um facto é que numa terra no meio do Alentejo profundo é como se o tempo parasse. Não se fala muito do Natal, mas o que é certo é que pelo menos naqueles dias alguma coisa nos faz ficar.
Por Inês Calhias
Por Mafalda Ferreira
Por Sofia Trindade
Por mais que mande a traição, que Baltazar traga incenso, Belchior ofereça ouro e Gaspar presenteei com mirra há que inovar antes que cheguem os Reis Magos em Janeiro. Elevar a arte e o espírito natalício, não quebrando a rotina da quadra, foi o desafio lançado pelo Concelho de Lagoa.
Desde que me lembro que as ruas de Lagoa eram invadidas por pequenas colunas que propagavam hertz natalícios pelas calçadas mais velhas da cidade, assim como as músicas já gastas, de tanto passarem toda a quadra, de tantas quadras passarem.
Este ano, o Natal em Lagoa foi ouvido com mais gosto, pelo menos da minha parte. Num reflexo de uma multiplicidade cultural do concelho foi dado protagonismo aos aprendizes do Conservatório de Música de Lagoa, aos alunos do curso profissional de música da Escola Secundária de Lagoa e aos alunos das Escolas Básicas do Concelho, que frequentam actividades de enriquecimento curricular na área da Musica. E porque a música quebra as barreiras da idade e das crenças, os coros das igrejas das freguesias do Concelho também se fizeram ouvir durante o programa festivo e cultural «Tocar a Natal».
Cá em casa persiste-se em colocar música durante a consoada embora o ritmo e o volume das conversas cruzadas a ocultem por completo…