«Caça-talentos» predominam no mundo virtual

São cada vez mais os programas virtuais em pleno século XXI. Portugal não é excepção
Reportagem por Ivan Cordeiro







O mundo virtual acolheu estes novos formatos de concursos que têm conseguido a adesão da população cibernauta portuguesa mais jovem. Os reality shows, programas televisivos baseados na vida real, estrearam-se na televisão portuguesa a partir do 2.º milénio. Programas como «Operação Triunfo», «Big Brother» e «Survivors» alimentaram audiências em todo o mundo, inspirando os cibernautas a realizar programas virtuais com base nesses reality shows.

Em Portugal, a maioria desses programas virtuais possui uma tendência musical, com o intuito de lançar ao
mundo do espectáculo cibernético vozes que se destaquem.

O primeiro concurso virtual em formato musical a estrear em solo


«luso-cibernético» foi a Operação Triunfo Virtual, produzida por Ricardo Ferreira, que contou com quatro edições. A primeira edição teve início em 2002 e contou com uma adesão favorável, não só pela divulgação em redes sociais, como também pelo facto de o concurso acompanhar o programa televisivo «Operação Triunfo» na RTP. Perante tamanha adesão, o concurso ganhou um pequeno espaço numa publicação da revista «TV 7 Dias».

«Encarei a minha participação como uma forma de me divertir e aprender com os outros», afirma Cheila Ferreira, vencedora da primeira edição da Operação Triunfo Virtual. A segunda edição, realizada em 2003, cresceu em termos de visitas cibernéticas,
tendo tido como vencedor o concorrente Frederico Teixeira. em 2004, a produção e os jurados decidiram juntar os finalistas da 2ª e 3ª edição para competirem por um lugar ao sol musical neste mundo virtual. Com as audiências virtuais sempre em crescimento, o vencedor da «Operação Triunfo Virtual novamente o jovem Francisco Teixeira.

A tendência de crescimento de audiências atingiu o seu pico com a quarta e última edição no ano seguinte, em que a qualidade do programa e a qualidade vocal se verificaram os mais conceituados. Sobre a sua participação, Catarina Ferreira, a vencedora, confessa: «Sinto-me lisonjeada por ter feito parte desta família. Conheci várias pessoas e foram vários os momentos, não só os musicais, mas os de convívio e alegria por que passámos. Uma experiência inovadora e criativa que ficará sempre guardada num cantinho próprio».

Entre os intervalos da «Operação Triunfo Virtual», Ricardo Ferreira foi produzindo outros concursos, tais como «Soul Survivors» (2004) e «Big Brother Revolutions» (2005), com a pareceria de Paulo Tavares neste último. «Para não saturar o público, decidi agarrar noutro tipo de formato. Agarrei a ideia do formato base do Big Brother da televisão, tentei modificar e acrescentar algumas regras base para que fosse mais apelativo e consistisse num desafio diferente», explica Ricardo.

Em 2006 e 2007 surgiram, respectivamente, outros dois importantes concursos virtuais: «Pulsações», com a produção de André Martins e Paulo Tavares e a «Casa 203», de Ricardo Ferreira. Este produtor virtual planeou outro projecto em Setembro do mesmo ano intitulado de «DreamStars», um concurso de novo virado para a música e desempenho vocal. O vencedor da primeira edição foi João Martins. Quanto ao arranque da segunda edição de «DreamStars», em Setembro de 2008, foi planeado por Paulo Tavares, acabando por obter a parceria de Ricardo Ferreira, no qual Joana Perez foi a voz vencedora. O «DreamStars»
registou perto de 40 mil acessos a ambos os seus sites, que contribuíram para os perto de 7 mil visitantes aos perfis do Youtube de ambas as edições».

De regresso às produções virtuais, 2009 trouxe consigo o concurso «Live Idols», no momento em que a segunda edição do programa «Ídolos» da SIC se encontrava em fase de castings. Apareceram então novos nomes nesta nova produção, João Gomes e Martinho Ferreira. «... conheci o Martinho Ferreira (actual co-produtor, jurado e apresentador) e descobri o seu interesse pelos concursos online. Ele já tinha participado em alguns, mas de língua espanhola. A certa altura apresentou-me um concurso espanhol chamado «Operación Triunfo Virtual» e eu, apaixonado pela música, pensei que um formato daquele género seria algo a que o nosso país pudesse achar algum interesse. Até porque 2009 foi um ano recheado de música em termos de Televisão», explica João Gomes, cujo balanço da primeira edição considera positivo. «Tivemos uns concorrentes excelentes e com grandes talentos para mostrar. Conseguimos mesmo um prémio de «Melhor Casting» pela revista espanhola «Sálvame», acrescenta. O vencedor desta primeira edição do «Live Idols», Diogo Pinto, irá lançar um single com o apoio do programa.

João Gomes e Martinho Ferreira pretendem continuar a investir neste tipo de formatos com a segunda e recente edição. «Neste momento estamos em fase de castings e já ultrapassámos o número de candidatos da primeira edição, o que é muito bom sinal. Também renovámos a nossa imagem, vamos fazer novas regras para que seja tudo mais justo e esperamos que corra tudo tão bem ou melhor que a edição passada, que já deixa saudades». Acrescenta igualmente que o «Live Idols» já tem pedidos de «nuestros hermanos» para concorrer a esta edição que se avizinha já este ano.

Todo este ciclo vicioso que continua a percorrer o seu caminho em formato musical, não deixa margem para dúvidas. Uma grande aposta em território virtual português.

Ricardo Ferreira, produtor e jurado: «Os formatos musicais não são mais que uma adaptação dos concursos existentes na televisão»

Redacção 2.3: Quando é que nasceu o interesse e empenho referente a este tipo de projectos?

Ricardo Ferreira: Acho que sempre gostei deste tipo de projectos. Lembro-me que na altura do «Big Brother Virtual» do Brasil, do qual fui participante, delirei com a ideia. Pouco depois surgiu em Portugal o «Irmãozão», um formato autenticamente «BB» muito mais sofisticado e tornei a adorar a ideia. Tudo isto foi logo desde o ano 2000. Em 2001 comecei a produzir. Penso que os talk shows que têm passado pela TV têm sido importantes, no sentido em que nos despertam interesse para os relançar também neste nosso cantinho. Os formatos musicais têm sido de longe os mais interessantes.

Redacção 2.3: Como funcionam propriamente estes formatos musicais?

Ricardo Ferreira: Os formatos musicais não são mais que uma adaptação dos concursos existentes na televisão («Ídolos», «Operação Triunfo», «Academia de Estrelas», ...) ao mundo virtual. Partindo dessa adaptação, moldámos o formato consoante os mais diversos factores, que passam obviamente pela disposição de alguns hardwares que são indispensáveis para uma devida e activa intervenção nos programas, nomeadamente possuir microfones, webcam's e alguma disponibilidade. Quer na «OTV», quer posteriormente no «DreamStars», o fundamento passava pela distribuição de músicas semanalmente, por cada concorrente, que viriam a consistir em galas, geralmente temáticas (música portuguesa, bandas sonoras, rock/pop, Disney...). Tal como nos formatos originais, um elenco de jurados, previamente seleccionado, atribuía notas consoante as interpretações e desempenhos. Os prazos de entrega das músicas eram previamente estipulados e caso não fossem respeitados seriam fortemente sancionados. Os menos «notados» pelos jurados eram nomeados e ao público cabia o direito de salvar o seu preferido dos nomeados. Todas as semanas, um concorrente saía até se encontrar um vencedor. Este foi o processo imposto desde o princípio, ao qual, obviamente, tive de efectuar algumas mudanças no decorrer das edições (as 4 da «OTV» e as 2 do «DS»), não só para aguçar o gosto pelo formato da parte de quem o seguia e acompanhava fielmente, como para trazer alguma inovação e factores atractivos também aos que neles participavam.

João Gomes, produtor, jurado e web designer: «Ver a pessoa a actuar»

Redacção 2.3: Como surgiu este projecto?

João Gomes: Tudo começou quando conheci o Martinho Ferreira (actual co-produtor, jurado e apresentador) e descobri o seu interesse pelos concursos online. Ele já tinha participado em alguns, mas de língua espanhola. A certa altura apresentou-me um concurso espanhol chamado «Operación Triunfo Virtual» e eu, apaixonado pela música, pensei que um formato daquele género seria algo a que o nosso país pudesse achar algum interesse. Até porque 2009 foi um ano recheado de música em termos de televisão.

Esse concurso era algo do estilo em que as pessoas tinham que cantar músicas de acordo com temas e iam sendo expulsas com o tempo.
Comecei então à procura de alguma concorrência que pudesse haver e, além da famosa competição «DreamStars», que já havia terminado, não existia nada que pudesse ser um obstáculo.

Falei com o Martinho sobre a ideia, ficámos ambos bastante entusiasmados e passado algum
tempo estava a construir o site e a promover, nas redes sociais, aquele que viria a ser o mais recente concurso online de «caça-talentos» português.
Obviamente que nos baseámos noutras ideias já existentes, mas adicionámos uma coisa nova que tem sido tão explorada ultimamente, por exemplo, no «Youtube» - o vídeo. Ver a pessoa a actuar. Daí o nome «Live» (ao vivo) «Idols» (ídolos).

Redacção 2.3: Que balanço faz, após a primeira edição do concurso?

João Gomes: A primeira edição foi algo de novo, tanto para muitos portugueses, como para os concorrentes, como para nós. Por isso foi uma espécie de experiência. Estávamos sempre a pensar nos problemas que poderíamos ter se actuássemos de determinada forma, visto que temos que ter em conta que os portugueses são pessoas muito exigentes, mas também pessoas muito indecisas. Mas correu tudo óptimo. Tivemos uns concorrentes excelentes e com grandes talentos para mostrar. Conseguimos mesmo um prémio de «Melhor Casting» pela revista espanhola «Sálvame». Mas também tivemos alguns problemas. Existiram diversas discussões entre apoiantes que se tornaram desagradáveis e, também a pedido dos próprios concorrentes, tivemos que tomar medidas para os proteger. Felizmente controlámos todas as situações e conseguimos chegar ao 100.º dia, anunciando o vencedor do concurso, que está agora muito mais motivado a trabalhar no seu primeiro single, que vai lançar brevemente online com o apoio do «Live Idols».

Redacção 2.3: Quais as expectativas face à segunda edição?

João Gomes: Quando começámos com o «Live Idols», pensámos logo numa 2ª edição, até numa 3ª ou 4ª, mas, nessa altura, o que havia eram só expectativas. Eu, como produtor, editor, grafista e júri, tenho que gastar muito do meu tempo com o concurso, e afinal ainda sou um mero estudante. Por isso, como talvez eu seja aquele que mantém uma ligação maior ao programa, e de momento tenho uma carga horária lectiva muito grande, estivemos mesmo para não fazer esta 2ª edição. Mas depois de ver a adesão que «Live Idols» teve, e mesmo as pessoas que se propuseram a ajudar, decidi dar mais uma hipótese ao concurso. Neste momento estamos em fase de castings e já ultrapassámos o número de candidatos da primeira edição, o que é muito bom sinal.
Também renovámos a nossa imagem, vamos fazer novas regras para que seja tudo mais justo e esperamos que corra tudo tão bem ou melhor que a edição passada, que já deixa saudades.
Talvez seja importante referir que não somos apenas uma equipa que está aqui para fazer disto um hobbie. Penso que quando se inicia um projecto desta grandeza, com esta exposição, especialmente num país que não está habituado, é necessário haver dedicação, predisposição e gosto no que se faz, tentando promover o programa e explicando que não existe qualquer forma de timidez ou medo de participar. Nesta edição já houve espanhóis a virem falar comigo pedindo para concorrer, afirmando que em Espanha as pessoas são muito tímidas para se mostrarem em vídeo. É, de certa forma, esses medos que queremos retirar dos portugueses.
Estamos obviamente aqui para fazermos o que gostamos e agradar a um público português que, aos poucos, está a aderir cada vez mais.

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