«PROCURA-SE EMPREGO»

Divulgação de número de desempregados no país relança no novo ano o debate acerca das medidas a serem tomadas
Por Vanessa Costa

Pouco passava das dezoito horas da tarde quando a primeira pessoa chegou. Aos poucos foram chegando mais algumas, apetrechadas de mantimentos, que acabaram por ocupar e passar a noite nos bancos situados em frente ao Instituto de Emprego e Formação Profissional (IEFP), em Albufeira. O motivo? Garantir a possibilidade de atendimento. E nem mesmo uma noite de espera o assegurou: «após ter passado uma noite ao relento, ainda assim não consegui ser atendida durante o dia», confessa uma das utentes. «Terei de passar cá a noite outra vez», revelou enquanto esperava que um dos seus filhos lhe trouxesse algo para comer.

Esta situação durou cerca de três dias, no início do mês de Novembro de 2009. Embora esta seja a altura do ano em que a maioria dos locais relacionados com a hotelaria e a restauração no Algarve encerra as suas actividades, o número de pessoas desempregadas tem aumentado drasticamente não apenas nesta região mas em todo o país, afectando praticamente todas as profissões.

Record batido em 2009

Desempregado, Carlos Fradinho considera a possibilidade de vender os seus trabalhos artísticos para amenizar as dificuldades a nível financeiro.Em Portugal, o desemprego mostra-se imparável e Carlos Fradinho, 42 anos de idade e residente em Albufeira, não escapou à onda de despedimentos que se alastra pelo território português. Desempregado há três meses, Carlos faz parte das cerca de 564 mil pessoas desempregadas no país, número atingido em Novembro de 2009 (mais 129 mil que no ano anterior). Este é o valor mais elevado desde 1983, desde que começaram os registos.
Um recente relatório da Eurostat revelou que a taxa de desemprego se situou nos 10,3% no décimo primeiro mês do ano passado, contra 10% na Zona Euro e nos EUA. Esta estimativa teve em conta os dados do Instituto Nacional de Estatística que aponta uma taxa de desemprego de 9,8% no terceiro trimestre de 2009, e os dados do IEFP que, ao longo do mês de Novembro, registou a inscrição de mais de 61 mil novos desempregados.

O presidente do IEFP, Francisco Madelino, admitiu que é provável que esta taxa não desça antes de meados de 2010. Ainda menos positiva é a posição da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico que prevê que o desemprego possa atingir os 11,7% (650 mil pessoas) no final de 2010.

É a «primeira vez que me encontro no desemprego, desde que comecei a minha vida profissional há cerca de 25 anos», numa carreira construída essencialmente como cozinheiro, revela Carlos. Considera que a situação do desemprego a nível nacional «não verá melhoras nos próximos tempos» e, na sua opinião, «vai acontecer o que aconteceu na Grécia, onde o estado entrou em falência e agora está dependente das ajudas técnicas do Fundo Monetário Internacional [FMI]».

Recorde-se que a situação financeira da Grécia, que se apresenta como a pior dos 27 países da União Europeia e cujo défice orçamental se situava em 12,7% do PIB em 2009, está a gerar preocupação nos restantes Estados-membros da União Europeia relativamente ao agravamento da crise na Zona Euro. Uma equipa do FMI foi enviada ao sul da península balcânica no dia 13 de Janeiro para examinar a eventualidade de assistência ao Governo grego na reforma da segurança social, política fiscal, administração fiscal e gestão do orçamento.

O Eurostat estimou ainda a existência de 89 mil desempregados com menos de 25 anos em Portugal. O secretário de Estado do Emprego Valter Lemos salientou o facto da taxa de desemprego jovem se situar nos 18,8%, abaixo da média da Zona Euro (21%) ou da UE (21,4%), facto que atribui às iniciativas de apoio ao emprego.

Valter Lemos lamentou ainda que o desemprego em Portugal tenha atingido um novo máximo no mês de Novembro, mas ressalvou a descida no ranking em relação à média dos países europeus. Portugal desceu do quinto para o sexto país entre os 27 da UE com mais desemprego. As taxas de desemprego da Letónia (22,3%), Espanha (19,4%), Irlanda (12,9%), Eslováquia (13,6%) e Hungria (10,8%) superam a taxa portuguesa.

Hoje, há quase 22,9 milhões de desempregados na UE, sendo 15,7 milhões deles apenas na Zona Euro, valor mais elevado de desemprego na Europa desde Janeiro de 2000. A CGTP chamou também a atenção para o facto da taxa de desemprego das mulheres (11%) estar acima da dos homens (9,7%) e da média feminina da UE (9,2%). Em Portugal, existem actualmente 170 mil desempregados que não recebem qualquer subsídio.

«Iniciativa Emprego 2010»

Apontando a «crise económica» e a «pouca flexibilidade nas empresas» como as principais razões para a crescente taxa de desemprego em Portugal, Carlos Fradinho refere que o «Estado não tem feito tudo ao seu alcance para tentar combater esta situação» e «que deveria apostar em ajudas técnicas às empresas».

O Governo decidiu, a 14 de Janeiro, aprovar algumas medidas de apoio aos desempregados. Neste sentido, o Conselho de Ministros aprovou a «Iniciativa Emprego 2010», que deverá abranger 760 mil pessoas e representará um custo de 500 milhões de euros, envolvendo 17 medidas que visam assegurar a manutenção de postos de trabalho, incentivar a inserção de jovens no mercado de trabalho, criar emprego e combater o desemprego.

Este pacote de medidas de apoio à criação de emprego inclui incentivos como um programa de estágios para desempregados não subsidiados com comparticipações reforçadas e o pagamento directo de 2500 euros às empresas que os contratarem. No entanto, este programa destina-se apenas a desempregados não subsidiados acima de 35 anos, que tenham concluído o ensino básico ou secundário por via das Novas Oportunidades ou que sejam licenciados.

Também consta da «Iniciativa Emprego 2010» a criação do novo programa de estágios e de apoios à contratação para jovens de cursos profissionais ou tecnológicos, a oferta de apoios financeiros e isenção na taxa de Segurança Social, e aprovação de um Decreto-Lei que alarga «por um período de seis meses, a atribuição do subsídio social de desemprego inicial ou subsequente ao subsídio de desemprego que cesse no decurso do ano de 2010».

No final de Setembro do ano passado, os dados sobre o cumprimento da «Iniciativa Emprego 2009» mostraram que os apoios à contratação sem termo e à redução da precariedade entre adultos e grupos específicos abrangeram apenas 644 pessoas, em vez das 12 mil previstas. Já os apoios aos jovens abrangeram 5.500 pessoas, face às 20 mil prenunciadas.

O presidente da Cáritas Portuguesa, Eugénio da Fonseca, defendeu que o futuro Orçamento do Estado (OE) tem também de ser uma arma para vencer o «grande gigante que se apoderou da nossa sociedade que é o desemprego», considerando que «o objectivo principal e primeiro e para já é criar as condições para vencermos o desemprego gerando novos postos de trabalho».

Licenciados não são excepção

Segundo dados do IEFP, Portugal tinha 42.800 licenciados no desemprego no final do segundo semestre de 2009, registando um aumento de 14% em relação ao ano anterior. Os cursos com mais alunos inscritos como Gestão, Direito ou Psicologia são os que apresentam as maiores taxas de desemprego. Um cruzamento dos dados do Ministério do Ensino Superior e do IEFP concluiu que oito dos quinze cursos mais frequentados em Portugal patenteiam os índices mais elevados de desemprego. Segundo os dados de Junho de 2009 do IEFP, as Ciências Empresariais apresentam-se como a área profissional com a mais alta taxa de desemprego (19,9%). O último relatório semestral do IEFP revela no 1.º semestre de 2009 os centros de emprego colocaram 1418 desempregados com o ensino superior, ou seja, 236 por mês.

Muitos são também aqueles que, ao verem a procura por um emprego relacionado com os seus cursos superiores revelar-se um insucesso, têm de aceitar empregos fora das suas áreas de formação. Este é também o caso de Carla Pinto, 30 anos e residente no Porto. Licenciada em Engenharia Alimentar há 7 anos, até hoje apenas conseguiu trabalhar na sua área «durante cerca de quatro anos». Actualmente trabalha como assistente no stand de automóveis administrado pelo pai, pois não consegue «arranjar trabalho na área da Engenharia Alimentar». «Claro que preferia ter um emprego na área em que me formei, mas também não posso ficar parada. As facturas para pagar também não param de chegar ao fim do mês…», revela Carla.

Salientando que «o “canudo” não é sinónimo de garantia de emprego», o discurso de Carla mostra que, hoje em dia, há cada vez mais um dilema entre a vocação e a estabilidade financeira.
A escassez de oportunidades leva também a que muitos dos jovens portugueses partam para outros países em busca de emprego.

Angola: Uma solução?

Hoje, os dias de Carlos Fradinho são divididos entre os trabalhos artísticos que faz como hobby e a procura de emprego. Embora admita que nesta procura se tem cingido à sua área, confessa também que não põe de parte a possibilidade de tentar arranjar emprego noutra região ou país.
«Principalmente no estrangeiro, Angola. Apresenta boas oportunidades profissionais e financeiras», refere.

A verdade é que nos últimos anos, com o desemprego a aumentar em Portugal, muitos são os portugueses que decidem ir ou retornar a Angola, tentando alcançar a estabilidade financeira que aqui lhes foge das mãos.

« [Angola] está no princípio do seu desenvolvimento», refere Belmiro de Azevedo.Belmiro de Azevedo é um dos que defende a importância de Angola para o combate ao desemprego em Portugal como destino de emigração, opinando que este é «seguramente um país que pode atrair muitas pessoas. Está no princípio do seu desenvolvimento e como tal dispõe de muitos empregos e não precisa de trabalho muito qualificado».

Ainda que Daniel Bessa, ex-ministro de António Guterres, partilhe a mesma opinião, este lembra ainda que Angola é apesar de tudo «um lugar de risco».Muitos são também aqueles que, ao verem a procura por um emprego relacionado com os seus cursos superiores revelar-se um insucesso, têm de aceitar empregos fora das suas áreas de formação. Este é também o caso de Carla Pinto, 30 anos e residente no Porto. Licenciada em Engenharia Alimentar há 7 anos, até hoje apenas conseguiu trabalhar na sua área «durante cerca de quatro anos». Actualmente trabalha como assistente no stand de automóveis administrado pelo pai, pois não consegue «arranjar trabalho na área da Engenharia Alimentar». «Claro que preferia ter um emprego na área em que me formei, mas também não posso ficar parada. As facturas para pagar também não param de chegar ao fim do mês…», revela Carla.

Salientando que «o “canudo” não é sinónimo de garantia de emprego», o discurso de Carla mostra que, hoje em dia, há cada vez mais um dilema entre a vocação e a estabilidade financeira.
A escassez de oportunidades leva também a que muitos dos jovens portugueses partam para outros países em busca de emprego.

Angola: Uma solução?

Hoje, os dias de Carlos Fradinho são divididos entre os trabalhos artísticos que faz como hobby e a procura de emprego. Embora admita que nesta procura se tem cingido à sua área, confessa também que não põe de parte a possibilidade de tentar arranjar emprego noutra região ou país.
«Principalmente no estrangeiro, Angola. Apresenta boas oportunidades profissionais e financeiras», refere.

A verdade é que nos últimos anos, com o desemprego a aumentar em Portugal, muitos são os portugueses que decidem ir ou retornar a Angola, tentando alcançar a estabilidade financeira que aqui lhes foge das mãos.

« [Angola] está no princípio do seu desenvolvimento», refere Belmiro de Azevedo.Belmiro de Azevedo é um dos que defende a importância de Angola para o combate ao desemprego em Portugal como destino de emigração, opinando que este é «seguramente um país que pode atrair muitas pessoas. Está no princípio do seu desenvolvimento e como tal dispõe de muitos empregos e não precisa de trabalho muito qualificado».

Ainda que Daniel Bessa, ex-ministro de António Guterres, partilhe a mesma opinião, este lembra ainda que Angola é apesar de tudo «um lugar de risco».

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