Por: Grethel Ceballos, Sofia Trindade e Vanessa Costa



Revendedores de jornais e revistas na baixa de Faro testemunham a queda nas vendas. A crise afecta o sector, mas os clientes continuam a afluir aos quiosques para saciar suas necessidades de informação.

Numa tarde cinzenta, tão cinzenta como a situação económica que o país enfrenta, dirigimo-nos rumo a baixa da cidade de Faro para verificar se os farenses continuam a consumir imprensa escrita como noutros tempos. Ouvimos na primeira pessoa, em quiosques, lojas ou tabacarias, os relatos dos revendedores de jornais e revistas que afirmaram que o negócio já não é o que era.


Fazer frente à crise no sector

Natália Pedro conta com 20 anos de experiência no ramo. Não quis ser fotografada mas abriu-nos as portas do seu estabelecimento com um sorriso acolhedor. Na sua loja situada no centro comercial Atrium as estantes estão repletas de revistas e alguns jornais. A oferta para o cliente é reforçada por outros artigos como tabaco, pastilhas elásticas e jogos de azar, uma estratégia que adoptou para fazer frente a escassez de vendas. Em relação a 2008 nota o decréscimo do comércio «tanto em revistas como em jornais». Mas afirma que alguns clientes se mantêm fiéis devido ao variado naipe de revistas técnicas que oferece. Na Rua Castilho, o quiosque do Sr. Nuno vende em média 80 a 100 jornais por dia, e cerca de 100 revistas por semana. O estabelecimento apresenta o maior número de vendas, mas não foge à regra no que toca ao declínio do negócio «as pessoas vão cortando no que não é essencial». Também Natália Custódio reconhece que «se vende menos este ano» e afirma que «às vezes num dia vende-se tudo, noutros vai tudo para trás». Já Daniela Ceita assegura que apesar da crise continua a receber a clientela no seu quiosque, «são pessoas, na maioria, donas de outros estabelecimentos e os turistas».



Correio da Manhã é o mais vendido


Periódico Correio da Manhã é a leitura diária de eleição de muitos farenses


A meio da tarde encontramos Mário Santos que se dirige ao Quiosque Farense para comprar o seu jornal de eleição, o Correio da Manhã. Rotina que será certamente repetida diariamente por muitos, pois de acordo com a totalidade dos revendedores inquiridos na baixa de Faro, o Correio da Manhã apresenta-se como líder de preferências na aquisição de jornais. O diário do grupo Cofina é apontado como o mais procurado pelos clientes da baixa da capital algarvia, sendo vendidos diariamente cerca de 170 jornais, dando uma média de 40 exemplares por estabelecimento. Para Natália Pedro (a já mencionada vendedora do Atrium) «o Correio da Manhã é para um público mais vasto, mais popular, enquanto o Público e o D.N. são destinados a um leitor mais seleccionado, pessoas que já têm outro grau de instrução».

Pouco ou nada terá mudado em relação aos números divulgados no passado mês de Setembro pela Associação Portuguesa para o Controlo de Tiragem e Circulação (APCT), respeitantes às vendas de jornais e revistas nas bancas de todo o país durante o primeiro semestre de 2009.
Nos primeiros seis meses do actual ano, o Correio da Manhã, que conta com trinta anos de existência, vendeu em média 112 530 exemplares por edição em todo o país, tendo sido considerado o jornal mais vendido de Portugal. Este tem uma tiragem diária de aproximadamente 172 150 unidades.

Já no sector das revistas, a maior procura nas bancas e quiosques recai sobre a «imprensa cor-de-rosa», estando a revista Maria no topo de vendas com uma representatividade 28%. Dirigida a um público maioritariamente feminino, a revista Maria tem uma tiragem semanal que ronda as 263 750 publicações (média referente ao mês de Agosto de 2009 – APCT). Seguem-se-lhe as revistas Novelas e TV 7 dias com 18%, e a Sábado, Visão e Nova gente com 9% das vendas.

Clientes de todo o tipo



Homens e mulheres farenses estão em pé de igualdade no que toca aos hábitos de consumo de jornais


Em frente à Doca de Faro, dentro do seu carro estacionado e com o parquímetro a marcar o tempo e o ritmo da sua leitura José Correia folheia o Correio da Manhã.

A imagem a que nos habituamos do leitor a usufruir de uns minutos de informação, enquanto lê descansadamente o seu jornal ou revista, num café de Faro, é, hoje em dia, rara. O stress citadino e a vida profissional interferem cada vez mais nas rotinas de leitura de imprensa dos farenses. É o caso de Zélia, empregada na indústria hoteleira, que admite que por passar «o dia inteiro ao computador, a trabalhar» nem sempre tem «disponibilidade para ler jornais, e revistas só no Inverno», quando há menos trabalho.

Diariamente passam pelos quiosques vários leitores. Desprogramados de qualquer tipo de estereótipos. Os hábitos de leitura dos farenses mudaram ao longo dos anos, mas quando questionados sobre uma eventual mudança do consumidor tipo de jornais os comerciantes hesitaram em defini-lo. De diferentes idades, classes profissionais e sociais, «um pouco de tudo» como descreveram os vendedores, entre os quais 62% de consideraram o cliente tipo indefinido. Os homens e mulheres farenses estão em pé de igualdade no que toca aos hábitos de leitura de jornais, mas as leitoras de Faro dominam as vendas das revistas. As farenses ocupam o primeiro lugar como consumidoras de revistas, sejam elas generalistas, de moda ou «cor-de-rosa.


Confirmando as tendências




O sector global da edição teria um 2009 «doloroso»


Foi em 2008 que o Relatório de Avaliação do Plano Nacional de Leitura (PNL), um estudo liderado pelo sociólogo António Firmino da Costa, do Instituto Superior de Ciências do Trabalho e da Empresa (ISCTE), revelou que os hábitos de leitura estavam a crescer em Portugal. O aumento estava relacionado com a leitura através das novas tecnologias: mensagens no telemóvel, computador e acesso à Internet. No entanto, na leitura em suportes como jornais e revistas o crescimento era menos acentuado. Um ano depois, em Janeiro, a consultora Deloitte no seu relatório anual sobre Tecnologia, Media e Telecomunicações, afirmou que a imprensa continuaria a enfrentar desafios.

Natália Pedro, Daniela Ceita, Mário Santos, todos estes revendedores afirmam que as vendas reduziram efectivamente em comparação com 2008. No geral, Phil Asmundson, vice-presidente da Deloitte avançava que «as condições económicas, as preferências de consumo de media e os avanços da tecnologia digital teriam um impacto na despesa dos consumidores e no investimento das empresas». O já mencionado estudo previa que «o sector global da edição teria provavelmente um 2009 doloroso». Na baixa de Faro, no que toca ao decréscimo das vendas, cumprem-se estas tendências.

Mais informação: Vox Pop dos consumidores

WEB VIDEOS: CIBERJORNALISMO

Autores: António Fernandes, Fernando Zamith, José Abreu e Manuel Salselas

Video realizado no âmbito da Unidade Curricular de Media Participativos do Doutoramento em Informação Comunicação em Plataformas Digitais das Univesidades do Porto e de Aveiro.



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