Uma história cheia de nada

Num país onde o futebol consegue ser mais importante para a sociedade do que certos problemas sociais, onde se agride e insulta pessoas por um “simples complexo” amor ao clube, há um clube com 112 anos de antiguidade que não tem a visibilidade que seria de esperar. Trata-se do Sport Clube Vianense, fundado em 1898.
Por Fábio Lima

Não é um clube que vence tudo o que há para vencer numa época, não é um clube que arraste consigo multidões, não enche estádios e muito menos atinge receitas na casa dos milhões. Mas é um clube histórico, 112 anos de existência, apenas coroados de uma história cheia de nada, um vazio de títulos que em nada se coaduna com a história e tradição que devia ter.

Fundado em 1898, o Sport Clube Vianense nasceu impulsionado por um grupo de personalidades vianenses que se juntou com o intuito de criar uma instituição que promovesse o desporto na cidade. A criação do Sport Clube Vianense «vai estabelecer nesta cidade um grémio para desenvolvimento daqueles e outros géneros de desporto (…) que, nos últimos tempos, têm tomado entre nós um verdadeiro entusiasmo», podia ler-se no primeiro manifesto do clube, no dia em que foi apresentado aos populares. Nesse primeiro acto, 75 sócios ficaram inscritos. As vertentes mais importantes na altura eram o desporto velocipédico e o náutico, este último intimamente ligado às raízes da cidade, uma cidade piscatória. Aliás, durante muitos anos no século XX, o clube era entendido como sendo «o clube dos pescadores», onde o bairrismo e a devoção ao clube eram reais.

Agora, em pleno século XXI, o clube está abandonado pelos seus e, por vezes, nem uma dezena de espectadores o Estádio Dr. José de Matos tem nos jogos caseiros. Durante os jogos, quer a equipa esteja a ganhar por 1-0 ou por 5-0 o aspecto é igual, um silêncio sepulcral. Não há vontade, nem sentimento para apoiar o clube, para gritar por um momento que seja “Vianense!”. Quem acompanha a carreira do clube, certamente se recorda da temporada de 2007/2008, quando o Sport Clube Vianense atingiu um lugar de subida à 2ª Divisão Nacional. Num cenário raro para o clube minhoto, mais de três centenas de pessoas estavam a assistir ao jogo e via-se ânimo e vontade de apoiar, mas para quê? Um ano depois, o estádio volta a estar vazio e os jogadores entregues aos seus próprios incentivos interiores. Se muitos vianenses soubessem que apenas três equipas da Liga Sagres (FC Porto, Naval 1º de Maio e Académica de Coimbra) são mais antigas que o clube da sua terra, talvez a situação fosse diferente?

Marco Alexandre, capitão da equipa sénior, é um dos jogadores em quem os – poucos – vianenses que vêm os jogos mais esperam que faça a diferença. O médio natural da cidade do Rio Lima, falou-nos do que sente em ser capitão do clube que da sua terra. «É um grande orgulho, é uma grande responsabilidade. Nasci aqui em Viana do Castelo e fiz a minha formação toda no Vianense e é com grande orgulho que estou a capitanear esta equipa». «Enquanto jogador também sinto esse orgulho. Quando comecei nos infantis, como todos os miúdos que começam a jogar futebol, o sonho é jogar pela equipa principal. Eu não fugi à regra e consegui esse objectivo. Depois entretanto tive umas saídas para outros clubes mas acabei por regressar e deve ser aqui que vou acabar a carreira», finaliza o jogador de 32 anos que já esteve vinculado ao Sporting de Braga.

Também Rogério Brito, ex-jogador do clube, agora treinador da formação minhota confirma-nos que o facto de treinar as cores da equipa que o viu nascer para o futebol é um marco muito importante. «Sinto muito orgulho em ser o treinador do Sport Clube Vianense porque foi uma casa onde eu cresci. Cheguei cá com oito anos, foi aqui que me formei enquanto jogador, e também foi aqui que além de ter tido a oportunidade de ser atleta de alta competição nos clubes onde passei, foi aqui também que tive oportunidade de ser treinador principal.»

O treinador de 33 anos, que chegou a alinhar nos primo-divisionários Estrela da Amadora e Belenenses garante que as metas para esta época estão bem alinhavadas, e o clube deve manter-se onde está. «Eu acho que o clube tem o que é preciso para subir mais alto, mas é uma tarefa muito difícil. Não é pelo orçamento em si, mas sim pela juventude que temos no plantel. E as equipas que estão neste campeonato são equipas muito experientes, equipas com orçamentos muito elevados, e consequentemente conseguem ter jogadores com outra maturidade, com outra matreirice. Jogadores que conhecem esta e outras divisões, e isso é um factor que joga contra nós. Apesar disso e apesar de alguns dos jogadores que aqui temos ainda estarem em período de formação, eles têm talento e isso pode-se comprovar na nossa classificação ao momento. Mas o principal objectivo visa garantir a manutenção.»

Opinião semelhante tem o Vice-Presidente do clube Pedro Xavier que afirma que «o Sport Clube Vianense na 2ª Divisão vai querer manter-se no final desta época. De qualquer das formas este é um projecto que tem vindo a ser cimentado desde há três anos, desde que esta direcção chegou a este clube, apanhamos o clube numa situação muito delicada em termos financeiros e desportivos. Recordo-me que a equipa de futebol Sénior estar a lutar para não descer aos Campeonatos Distritais, depois conseguimos encaminhar as coisas e manter uma posição na 3ª Divisão nacional durante as duas primeiras épocas e depois conseguimos alcançar a subida à 2ª Divisão. De qualquer das formas, é na 2ª Divisão que o Sport Clube Vianense se deve manter até porque a cidade não oferece mais garantias para que possamos sonhar com outros patamares. O grande objectivo passa por manter esta equipa durante bastantes anos na 2ª Divisão.»

No meio de tanta falta de história, o momento mais alto que o clube viveu foi em 1999, quando o Vianense foi campeão nacional da 3ª Divisão. Joaquim Lavarinhas, funcionário no clube há mais de 35 anos recorda-nos com emoção esses momentos, vividos na fila da frente, sempre a lutar pelo melhor para o clube. «Na Figueira da Foz houve uma coisa muito bonita, a cidade juntou-se com o clube, apoiando-o até ao último momento para sermos campeões da 3ª Divisão Nacional. Depois disso prometeu-se tudo e mais alguma coisa, mas essas promessas nunca foram cumpridas. Prometeram ajudar o Sport Clube Vianense e o Vianense continua a não ser ajudado por quem prometeu. Foi uma festa muito bonita, eu próprio estive envolvido na festa pois criei uma claque composta maioritariamente por jovens que foi até à Figueira da Foz para apoiar o Sport Clube Vianense. Foram muitos autocarros, muitos carros, tudo para festejar o grande dia do Sport Clube Vianense. Porque é mesmo um grande dia, foi a primeira vez em muitos anos em que o Vianense conquistou o título da 3ª Divisão Nacional. Recordo-me de estar na Praça da República a festejar a conquista, com muito fogo-de-artifício. Só que eu continuo a achar a mesma coisa ao fim de 35 anos: é muito bonito ver essas coisas todas, mas o apoio ao Sport Clube Vianense é muito fraquinho. Eu esperava que a nível de entidades fosse dado um apoio digno ao Vianense se querem, pelo menos, um Vianense na 2ª Divisão de Honra (Liga Vitalis).»

Uma das questões que se colocam mais quando se fala na falta de apoios e também na consequente pequena dimensão do clube prende-se com o baixo poder de compra dos cidadãos do distrito do Alto Minho. De acordo com os últimos dados fornecidos pelo INE em 2007, o distrito do Alto Minho possui apenas 1,688% da percentagem nacional de poder de compra, tendo menos de metade do poder de compra do distrito vizinho, do Baixo Cávado. Aliás, apenas Trás-os-Montes consegue atingir níveis mais baixos que os minhotos. É neste ponto que Pedro Xavier toca quando fala da falta de apoios do clube, apesar de considerar que a falta de interesse das pessoas em apoiar o clube também seja um dos entraves. «O problema de o clube não poder ambicionar a subida é a falta de apoios. Como se sabe, o distrito de Viana do Castelo é dos mais pobres do país, e além disso não há apoios suficientes. A Câmara Municipal não dá o apoio necessário, sabemos que são muitas colectividades mas temos que ter consciência que o Sport Clube Vianense já tem 112 anos e dessa forma pensamos que devia ser mais apoiado. Porque, como se sabe, o futebol é uma máquina que gera movimento, nomeadamente de gente, e a cidade precisa disso: gente, movimento... Para que possa crescer. E o Sport Clube Vianense devia ser uma rampa de lançamento para que esse movimento na cidade pudesse crescer, não acontece assim, a Camara não apoia, o povo não está muito interessado. E o facto de o poder de compra das pessoas ser muito baixo faz também com que o clube não possa ir mais além.»

«Lembro-me da primeira vez que cheguei ao balneário dos Seniores tive que me equipar à parte dos elementos mais velhos. Eu tinha apenas dezassete anos, na altura estávamos na 3ª Divisão, recordo-me que o treinador era o Mister Jorge Regadas, para esse treino fui eu e outros dois colegas. Quando chegamos ao balneário, batemos à porta, cumprimentamos os restantes e quando entramos lá para dentro, meteram-nos meia hora ali de pé à espera que eles se acabassem de equipar e depois fomos nós. Como miúdos tivemos que aceitar», é assim que Rogério Brito recorda um dos muitos momentos que viveu no Sport Clube Vianense, um clube que apesar de já ter conhecido 3 séculos, continua a ser uma incógnita, deixando ainda mais longe Viana do Castelo das demais capitais de distrito do Litoral. Em termos desportivos, a tendência tem-se alterado com a recente ascensão da formação da Juventude de Viana no Hóquei em Patins, mas o futebol é o desporto-rei e se as instituições tivessem os apoios mais sérios, talvez Viana do Castelo pudesse ter uma dimensão desportiva e mesmo social bem mais elevada da que se verifica neste momento.

Assiste-se no Distrito de Viana do Castelo ao desaparecimento progressivo de alguns clubes míticos, como é exemplo o Atlético de Valdevez, que após a falta de apoio tanto camarário como de entidades, acabou por cessar funções em Janeiro deste ano. É um cenário negro para um distrito que já respirou mais livremente em termos económicos.

«PROCURA-SE EMPREGO»

Divulgação de número de desempregados no país relança no novo ano o debate acerca das medidas a serem tomadas
Por Vanessa Costa

Pouco passava das dezoito horas da tarde quando a primeira pessoa chegou. Aos poucos foram chegando mais algumas, apetrechadas de mantimentos, que acabaram por ocupar e passar a noite nos bancos situados em frente ao Instituto de Emprego e Formação Profissional (IEFP), em Albufeira. O motivo? Garantir a possibilidade de atendimento. E nem mesmo uma noite de espera o assegurou: «após ter passado uma noite ao relento, ainda assim não consegui ser atendida durante o dia», confessa uma das utentes. «Terei de passar cá a noite outra vez», revelou enquanto esperava que um dos seus filhos lhe trouxesse algo para comer.

Esta situação durou cerca de três dias, no início do mês de Novembro de 2009. Embora esta seja a altura do ano em que a maioria dos locais relacionados com a hotelaria e a restauração no Algarve encerra as suas actividades, o número de pessoas desempregadas tem aumentado drasticamente não apenas nesta região mas em todo o país, afectando praticamente todas as profissões.

Record batido em 2009

Desempregado, Carlos Fradinho considera a possibilidade de vender os seus trabalhos artísticos para amenizar as dificuldades a nível financeiro.Em Portugal, o desemprego mostra-se imparável e Carlos Fradinho, 42 anos de idade e residente em Albufeira, não escapou à onda de despedimentos que se alastra pelo território português. Desempregado há três meses, Carlos faz parte das cerca de 564 mil pessoas desempregadas no país, número atingido em Novembro de 2009 (mais 129 mil que no ano anterior). Este é o valor mais elevado desde 1983, desde que começaram os registos.
Um recente relatório da Eurostat revelou que a taxa de desemprego se situou nos 10,3% no décimo primeiro mês do ano passado, contra 10% na Zona Euro e nos EUA. Esta estimativa teve em conta os dados do Instituto Nacional de Estatística que aponta uma taxa de desemprego de 9,8% no terceiro trimestre de 2009, e os dados do IEFP que, ao longo do mês de Novembro, registou a inscrição de mais de 61 mil novos desempregados.

O presidente do IEFP, Francisco Madelino, admitiu que é provável que esta taxa não desça antes de meados de 2010. Ainda menos positiva é a posição da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico que prevê que o desemprego possa atingir os 11,7% (650 mil pessoas) no final de 2010.

É a «primeira vez que me encontro no desemprego, desde que comecei a minha vida profissional há cerca de 25 anos», numa carreira construída essencialmente como cozinheiro, revela Carlos. Considera que a situação do desemprego a nível nacional «não verá melhoras nos próximos tempos» e, na sua opinião, «vai acontecer o que aconteceu na Grécia, onde o estado entrou em falência e agora está dependente das ajudas técnicas do Fundo Monetário Internacional [FMI]».

Recorde-se que a situação financeira da Grécia, que se apresenta como a pior dos 27 países da União Europeia e cujo défice orçamental se situava em 12,7% do PIB em 2009, está a gerar preocupação nos restantes Estados-membros da União Europeia relativamente ao agravamento da crise na Zona Euro. Uma equipa do FMI foi enviada ao sul da península balcânica no dia 13 de Janeiro para examinar a eventualidade de assistência ao Governo grego na reforma da segurança social, política fiscal, administração fiscal e gestão do orçamento.

O Eurostat estimou ainda a existência de 89 mil desempregados com menos de 25 anos em Portugal. O secretário de Estado do Emprego Valter Lemos salientou o facto da taxa de desemprego jovem se situar nos 18,8%, abaixo da média da Zona Euro (21%) ou da UE (21,4%), facto que atribui às iniciativas de apoio ao emprego.

Valter Lemos lamentou ainda que o desemprego em Portugal tenha atingido um novo máximo no mês de Novembro, mas ressalvou a descida no ranking em relação à média dos países europeus. Portugal desceu do quinto para o sexto país entre os 27 da UE com mais desemprego. As taxas de desemprego da Letónia (22,3%), Espanha (19,4%), Irlanda (12,9%), Eslováquia (13,6%) e Hungria (10,8%) superam a taxa portuguesa.

Hoje, há quase 22,9 milhões de desempregados na UE, sendo 15,7 milhões deles apenas na Zona Euro, valor mais elevado de desemprego na Europa desde Janeiro de 2000. A CGTP chamou também a atenção para o facto da taxa de desemprego das mulheres (11%) estar acima da dos homens (9,7%) e da média feminina da UE (9,2%). Em Portugal, existem actualmente 170 mil desempregados que não recebem qualquer subsídio.

«Iniciativa Emprego 2010»

Apontando a «crise económica» e a «pouca flexibilidade nas empresas» como as principais razões para a crescente taxa de desemprego em Portugal, Carlos Fradinho refere que o «Estado não tem feito tudo ao seu alcance para tentar combater esta situação» e «que deveria apostar em ajudas técnicas às empresas».

O Governo decidiu, a 14 de Janeiro, aprovar algumas medidas de apoio aos desempregados. Neste sentido, o Conselho de Ministros aprovou a «Iniciativa Emprego 2010», que deverá abranger 760 mil pessoas e representará um custo de 500 milhões de euros, envolvendo 17 medidas que visam assegurar a manutenção de postos de trabalho, incentivar a inserção de jovens no mercado de trabalho, criar emprego e combater o desemprego.

Este pacote de medidas de apoio à criação de emprego inclui incentivos como um programa de estágios para desempregados não subsidiados com comparticipações reforçadas e o pagamento directo de 2500 euros às empresas que os contratarem. No entanto, este programa destina-se apenas a desempregados não subsidiados acima de 35 anos, que tenham concluído o ensino básico ou secundário por via das Novas Oportunidades ou que sejam licenciados.

Também consta da «Iniciativa Emprego 2010» a criação do novo programa de estágios e de apoios à contratação para jovens de cursos profissionais ou tecnológicos, a oferta de apoios financeiros e isenção na taxa de Segurança Social, e aprovação de um Decreto-Lei que alarga «por um período de seis meses, a atribuição do subsídio social de desemprego inicial ou subsequente ao subsídio de desemprego que cesse no decurso do ano de 2010».

No final de Setembro do ano passado, os dados sobre o cumprimento da «Iniciativa Emprego 2009» mostraram que os apoios à contratação sem termo e à redução da precariedade entre adultos e grupos específicos abrangeram apenas 644 pessoas, em vez das 12 mil previstas. Já os apoios aos jovens abrangeram 5.500 pessoas, face às 20 mil prenunciadas.

O presidente da Cáritas Portuguesa, Eugénio da Fonseca, defendeu que o futuro Orçamento do Estado (OE) tem também de ser uma arma para vencer o «grande gigante que se apoderou da nossa sociedade que é o desemprego», considerando que «o objectivo principal e primeiro e para já é criar as condições para vencermos o desemprego gerando novos postos de trabalho».

Licenciados não são excepção

Segundo dados do IEFP, Portugal tinha 42.800 licenciados no desemprego no final do segundo semestre de 2009, registando um aumento de 14% em relação ao ano anterior. Os cursos com mais alunos inscritos como Gestão, Direito ou Psicologia são os que apresentam as maiores taxas de desemprego. Um cruzamento dos dados do Ministério do Ensino Superior e do IEFP concluiu que oito dos quinze cursos mais frequentados em Portugal patenteiam os índices mais elevados de desemprego. Segundo os dados de Junho de 2009 do IEFP, as Ciências Empresariais apresentam-se como a área profissional com a mais alta taxa de desemprego (19,9%). O último relatório semestral do IEFP revela no 1.º semestre de 2009 os centros de emprego colocaram 1418 desempregados com o ensino superior, ou seja, 236 por mês.

Muitos são também aqueles que, ao verem a procura por um emprego relacionado com os seus cursos superiores revelar-se um insucesso, têm de aceitar empregos fora das suas áreas de formação. Este é também o caso de Carla Pinto, 30 anos e residente no Porto. Licenciada em Engenharia Alimentar há 7 anos, até hoje apenas conseguiu trabalhar na sua área «durante cerca de quatro anos». Actualmente trabalha como assistente no stand de automóveis administrado pelo pai, pois não consegue «arranjar trabalho na área da Engenharia Alimentar». «Claro que preferia ter um emprego na área em que me formei, mas também não posso ficar parada. As facturas para pagar também não param de chegar ao fim do mês…», revela Carla.

Salientando que «o “canudo” não é sinónimo de garantia de emprego», o discurso de Carla mostra que, hoje em dia, há cada vez mais um dilema entre a vocação e a estabilidade financeira.
A escassez de oportunidades leva também a que muitos dos jovens portugueses partam para outros países em busca de emprego.

Angola: Uma solução?

Hoje, os dias de Carlos Fradinho são divididos entre os trabalhos artísticos que faz como hobby e a procura de emprego. Embora admita que nesta procura se tem cingido à sua área, confessa também que não põe de parte a possibilidade de tentar arranjar emprego noutra região ou país.
«Principalmente no estrangeiro, Angola. Apresenta boas oportunidades profissionais e financeiras», refere.

A verdade é que nos últimos anos, com o desemprego a aumentar em Portugal, muitos são os portugueses que decidem ir ou retornar a Angola, tentando alcançar a estabilidade financeira que aqui lhes foge das mãos.

« [Angola] está no princípio do seu desenvolvimento», refere Belmiro de Azevedo.Belmiro de Azevedo é um dos que defende a importância de Angola para o combate ao desemprego em Portugal como destino de emigração, opinando que este é «seguramente um país que pode atrair muitas pessoas. Está no princípio do seu desenvolvimento e como tal dispõe de muitos empregos e não precisa de trabalho muito qualificado».

Ainda que Daniel Bessa, ex-ministro de António Guterres, partilhe a mesma opinião, este lembra ainda que Angola é apesar de tudo «um lugar de risco».Muitos são também aqueles que, ao verem a procura por um emprego relacionado com os seus cursos superiores revelar-se um insucesso, têm de aceitar empregos fora das suas áreas de formação. Este é também o caso de Carla Pinto, 30 anos e residente no Porto. Licenciada em Engenharia Alimentar há 7 anos, até hoje apenas conseguiu trabalhar na sua área «durante cerca de quatro anos». Actualmente trabalha como assistente no stand de automóveis administrado pelo pai, pois não consegue «arranjar trabalho na área da Engenharia Alimentar». «Claro que preferia ter um emprego na área em que me formei, mas também não posso ficar parada. As facturas para pagar também não param de chegar ao fim do mês…», revela Carla.

Salientando que «o “canudo” não é sinónimo de garantia de emprego», o discurso de Carla mostra que, hoje em dia, há cada vez mais um dilema entre a vocação e a estabilidade financeira.
A escassez de oportunidades leva também a que muitos dos jovens portugueses partam para outros países em busca de emprego.

Angola: Uma solução?

Hoje, os dias de Carlos Fradinho são divididos entre os trabalhos artísticos que faz como hobby e a procura de emprego. Embora admita que nesta procura se tem cingido à sua área, confessa também que não põe de parte a possibilidade de tentar arranjar emprego noutra região ou país.
«Principalmente no estrangeiro, Angola. Apresenta boas oportunidades profissionais e financeiras», refere.

A verdade é que nos últimos anos, com o desemprego a aumentar em Portugal, muitos são os portugueses que decidem ir ou retornar a Angola, tentando alcançar a estabilidade financeira que aqui lhes foge das mãos.

« [Angola] está no princípio do seu desenvolvimento», refere Belmiro de Azevedo.Belmiro de Azevedo é um dos que defende a importância de Angola para o combate ao desemprego em Portugal como destino de emigração, opinando que este é «seguramente um país que pode atrair muitas pessoas. Está no princípio do seu desenvolvimento e como tal dispõe de muitos empregos e não precisa de trabalho muito qualificado».

Ainda que Daniel Bessa, ex-ministro de António Guterres, partilhe a mesma opinião, este lembra ainda que Angola é apesar de tudo «um lugar de risco».

São cada vez mais os programas virtuais em pleno século XXI. Portugal não é excepção
Reportagem por Ivan Cordeiro







O mundo virtual acolheu estes novos formatos de concursos que têm conseguido a adesão da população cibernauta portuguesa mais jovem. Os reality shows, programas televisivos baseados na vida real, estrearam-se na televisão portuguesa a partir do 2.º milénio. Programas como «Operação Triunfo», «Big Brother» e «Survivors» alimentaram audiências em todo o mundo, inspirando os cibernautas a realizar programas virtuais com base nesses reality shows.

Em Portugal, a maioria desses programas virtuais possui uma tendência musical, com o intuito de lançar ao
mundo do espectáculo cibernético vozes que se destaquem.

O primeiro concurso virtual em formato musical a estrear em solo


«luso-cibernético» foi a Operação Triunfo Virtual, produzida por Ricardo Ferreira, que contou com quatro edições. A primeira edição teve início em 2002 e contou com uma adesão favorável, não só pela divulgação em redes sociais, como também pelo facto de o concurso acompanhar o programa televisivo «Operação Triunfo» na RTP. Perante tamanha adesão, o concurso ganhou um pequeno espaço numa publicação da revista «TV 7 Dias».

«Encarei a minha participação como uma forma de me divertir e aprender com os outros», afirma Cheila Ferreira, vencedora da primeira edição da Operação Triunfo Virtual. A segunda edição, realizada em 2003, cresceu em termos de visitas cibernéticas,
tendo tido como vencedor o concorrente Frederico Teixeira. em 2004, a produção e os jurados decidiram juntar os finalistas da 2ª e 3ª edição para competirem por um lugar ao sol musical neste mundo virtual. Com as audiências virtuais sempre em crescimento, o vencedor da «Operação Triunfo Virtual novamente o jovem Francisco Teixeira.

A tendência de crescimento de audiências atingiu o seu pico com a quarta e última edição no ano seguinte, em que a qualidade do programa e a qualidade vocal se verificaram os mais conceituados. Sobre a sua participação, Catarina Ferreira, a vencedora, confessa: «Sinto-me lisonjeada por ter feito parte desta família. Conheci várias pessoas e foram vários os momentos, não só os musicais, mas os de convívio e alegria por que passámos. Uma experiência inovadora e criativa que ficará sempre guardada num cantinho próprio».

Entre os intervalos da «Operação Triunfo Virtual», Ricardo Ferreira foi produzindo outros concursos, tais como «Soul Survivors» (2004) e «Big Brother Revolutions» (2005), com a pareceria de Paulo Tavares neste último. «Para não saturar o público, decidi agarrar noutro tipo de formato. Agarrei a ideia do formato base do Big Brother da televisão, tentei modificar e acrescentar algumas regras base para que fosse mais apelativo e consistisse num desafio diferente», explica Ricardo.

Em 2006 e 2007 surgiram, respectivamente, outros dois importantes concursos virtuais: «Pulsações», com a produção de André Martins e Paulo Tavares e a «Casa 203», de Ricardo Ferreira. Este produtor virtual planeou outro projecto em Setembro do mesmo ano intitulado de «DreamStars», um concurso de novo virado para a música e desempenho vocal. O vencedor da primeira edição foi João Martins. Quanto ao arranque da segunda edição de «DreamStars», em Setembro de 2008, foi planeado por Paulo Tavares, acabando por obter a parceria de Ricardo Ferreira, no qual Joana Perez foi a voz vencedora. O «DreamStars»
registou perto de 40 mil acessos a ambos os seus sites, que contribuíram para os perto de 7 mil visitantes aos perfis do Youtube de ambas as edições».

De regresso às produções virtuais, 2009 trouxe consigo o concurso «Live Idols», no momento em que a segunda edição do programa «Ídolos» da SIC se encontrava em fase de castings. Apareceram então novos nomes nesta nova produção, João Gomes e Martinho Ferreira. «... conheci o Martinho Ferreira (actual co-produtor, jurado e apresentador) e descobri o seu interesse pelos concursos online. Ele já tinha participado em alguns, mas de língua espanhola. A certa altura apresentou-me um concurso espanhol chamado «Operación Triunfo Virtual» e eu, apaixonado pela música, pensei que um formato daquele género seria algo a que o nosso país pudesse achar algum interesse. Até porque 2009 foi um ano recheado de música em termos de Televisão», explica João Gomes, cujo balanço da primeira edição considera positivo. «Tivemos uns concorrentes excelentes e com grandes talentos para mostrar. Conseguimos mesmo um prémio de «Melhor Casting» pela revista espanhola «Sálvame», acrescenta. O vencedor desta primeira edição do «Live Idols», Diogo Pinto, irá lançar um single com o apoio do programa.

João Gomes e Martinho Ferreira pretendem continuar a investir neste tipo de formatos com a segunda e recente edição. «Neste momento estamos em fase de castings e já ultrapassámos o número de candidatos da primeira edição, o que é muito bom sinal. Também renovámos a nossa imagem, vamos fazer novas regras para que seja tudo mais justo e esperamos que corra tudo tão bem ou melhor que a edição passada, que já deixa saudades». Acrescenta igualmente que o «Live Idols» já tem pedidos de «nuestros hermanos» para concorrer a esta edição que se avizinha já este ano.

Todo este ciclo vicioso que continua a percorrer o seu caminho em formato musical, não deixa margem para dúvidas. Uma grande aposta em território virtual português.

Ricardo Ferreira, produtor e jurado: «Os formatos musicais não são mais que uma adaptação dos concursos existentes na televisão»

Redacção 2.3: Quando é que nasceu o interesse e empenho referente a este tipo de projectos?

Ricardo Ferreira: Acho que sempre gostei deste tipo de projectos. Lembro-me que na altura do «Big Brother Virtual» do Brasil, do qual fui participante, delirei com a ideia. Pouco depois surgiu em Portugal o «Irmãozão», um formato autenticamente «BB» muito mais sofisticado e tornei a adorar a ideia. Tudo isto foi logo desde o ano 2000. Em 2001 comecei a produzir. Penso que os talk shows que têm passado pela TV têm sido importantes, no sentido em que nos despertam interesse para os relançar também neste nosso cantinho. Os formatos musicais têm sido de longe os mais interessantes.

Redacção 2.3: Como funcionam propriamente estes formatos musicais?

Ricardo Ferreira: Os formatos musicais não são mais que uma adaptação dos concursos existentes na televisão («Ídolos», «Operação Triunfo», «Academia de Estrelas», ...) ao mundo virtual. Partindo dessa adaptação, moldámos o formato consoante os mais diversos factores, que passam obviamente pela disposição de alguns hardwares que são indispensáveis para uma devida e activa intervenção nos programas, nomeadamente possuir microfones, webcam's e alguma disponibilidade. Quer na «OTV», quer posteriormente no «DreamStars», o fundamento passava pela distribuição de músicas semanalmente, por cada concorrente, que viriam a consistir em galas, geralmente temáticas (música portuguesa, bandas sonoras, rock/pop, Disney...). Tal como nos formatos originais, um elenco de jurados, previamente seleccionado, atribuía notas consoante as interpretações e desempenhos. Os prazos de entrega das músicas eram previamente estipulados e caso não fossem respeitados seriam fortemente sancionados. Os menos «notados» pelos jurados eram nomeados e ao público cabia o direito de salvar o seu preferido dos nomeados. Todas as semanas, um concorrente saía até se encontrar um vencedor. Este foi o processo imposto desde o princípio, ao qual, obviamente, tive de efectuar algumas mudanças no decorrer das edições (as 4 da «OTV» e as 2 do «DS»), não só para aguçar o gosto pelo formato da parte de quem o seguia e acompanhava fielmente, como para trazer alguma inovação e factores atractivos também aos que neles participavam.

João Gomes, produtor, jurado e web designer: «Ver a pessoa a actuar»

Redacção 2.3: Como surgiu este projecto?

João Gomes: Tudo começou quando conheci o Martinho Ferreira (actual co-produtor, jurado e apresentador) e descobri o seu interesse pelos concursos online. Ele já tinha participado em alguns, mas de língua espanhola. A certa altura apresentou-me um concurso espanhol chamado «Operación Triunfo Virtual» e eu, apaixonado pela música, pensei que um formato daquele género seria algo a que o nosso país pudesse achar algum interesse. Até porque 2009 foi um ano recheado de música em termos de televisão.

Esse concurso era algo do estilo em que as pessoas tinham que cantar músicas de acordo com temas e iam sendo expulsas com o tempo.
Comecei então à procura de alguma concorrência que pudesse haver e, além da famosa competição «DreamStars», que já havia terminado, não existia nada que pudesse ser um obstáculo.

Falei com o Martinho sobre a ideia, ficámos ambos bastante entusiasmados e passado algum
tempo estava a construir o site e a promover, nas redes sociais, aquele que viria a ser o mais recente concurso online de «caça-talentos» português.
Obviamente que nos baseámos noutras ideias já existentes, mas adicionámos uma coisa nova que tem sido tão explorada ultimamente, por exemplo, no «Youtube» - o vídeo. Ver a pessoa a actuar. Daí o nome «Live» (ao vivo) «Idols» (ídolos).

Redacção 2.3: Que balanço faz, após a primeira edição do concurso?

João Gomes: A primeira edição foi algo de novo, tanto para muitos portugueses, como para os concorrentes, como para nós. Por isso foi uma espécie de experiência. Estávamos sempre a pensar nos problemas que poderíamos ter se actuássemos de determinada forma, visto que temos que ter em conta que os portugueses são pessoas muito exigentes, mas também pessoas muito indecisas. Mas correu tudo óptimo. Tivemos uns concorrentes excelentes e com grandes talentos para mostrar. Conseguimos mesmo um prémio de «Melhor Casting» pela revista espanhola «Sálvame». Mas também tivemos alguns problemas. Existiram diversas discussões entre apoiantes que se tornaram desagradáveis e, também a pedido dos próprios concorrentes, tivemos que tomar medidas para os proteger. Felizmente controlámos todas as situações e conseguimos chegar ao 100.º dia, anunciando o vencedor do concurso, que está agora muito mais motivado a trabalhar no seu primeiro single, que vai lançar brevemente online com o apoio do «Live Idols».

Redacção 2.3: Quais as expectativas face à segunda edição?

João Gomes: Quando começámos com o «Live Idols», pensámos logo numa 2ª edição, até numa 3ª ou 4ª, mas, nessa altura, o que havia eram só expectativas. Eu, como produtor, editor, grafista e júri, tenho que gastar muito do meu tempo com o concurso, e afinal ainda sou um mero estudante. Por isso, como talvez eu seja aquele que mantém uma ligação maior ao programa, e de momento tenho uma carga horária lectiva muito grande, estivemos mesmo para não fazer esta 2ª edição. Mas depois de ver a adesão que «Live Idols» teve, e mesmo as pessoas que se propuseram a ajudar, decidi dar mais uma hipótese ao concurso. Neste momento estamos em fase de castings e já ultrapassámos o número de candidatos da primeira edição, o que é muito bom sinal.
Também renovámos a nossa imagem, vamos fazer novas regras para que seja tudo mais justo e esperamos que corra tudo tão bem ou melhor que a edição passada, que já deixa saudades.
Talvez seja importante referir que não somos apenas uma equipa que está aqui para fazer disto um hobbie. Penso que quando se inicia um projecto desta grandeza, com esta exposição, especialmente num país que não está habituado, é necessário haver dedicação, predisposição e gosto no que se faz, tentando promover o programa e explicando que não existe qualquer forma de timidez ou medo de participar. Nesta edição já houve espanhóis a virem falar comigo pedindo para concorrer, afirmando que em Espanha as pessoas são muito tímidas para se mostrarem em vídeo. É, de certa forma, esses medos que queremos retirar dos portugueses.
Estamos obviamente aqui para fazermos o que gostamos e agradar a um público português que, aos poucos, está a aderir cada vez mais.