Natal em Aljustrel do Alentejo

Quando o ritmo e o sentimento das pessoas do Alentejo se encontra com os motivos de Dezembro há lugar para a festa, para o conto, para o canto e para alegria

Por Daniel Lopes

Da azáfama do dia 24 de Dezembro à tranquilidade do dia 25, a quadra natalícia é comemorada na vila de Aljustrel entre a tradição da lareira e da reunião familiar, o convívio de amigos e reencontros nos cafés e ruas da localidade alentejana.

Na véspera de Natal o céu carrega-se de cinzento, ameaçando, com chuva, cobrir a noite que se avizinha. Anda muita gente na rua, conversando, sorrindo, nas compras, em trabalho. Um camião cheio de pregagens recorda-nos a alma industrial da vila. Nesta quadra, Aljustrel vestiu-se de luzes, decorou as suas esquinas, encheu-se de enfeites nas montras e até mesmo durante a tarde havia música de natal projectada para as ruas, para quém quisesse e quem não a quisesse ouvir. A cor partidária mudou e isso nota-se tanto nas ruas como nas pessoas, e no reflexo desta data, neste sítio. Mas não importa, apesar do burburinho político que ainda se faz sentir, as gentes esquecem-se das suas diferenças e relaxam ansiando a refeição demorada da noite de Natal e os copinhos brindando ao menino Jesus. Assim se passa de uma tarde envolta num cinzento pálido, onde reina o cheiro a castanhas assadas, a terra molhada, atravessada pelo vento norte, para o frio da noite que antecede o dia de Natal. Agora as ruas esvaziaram-se, os cafés e lojas fecharam portas, a música cessou, no ar paira o fumo a lenha das chaminés, todas as casas acendem as suas luzes, todos se resguardam no conforto da família: eis o seu significado.

Bacalhau, pato, marisco, porco, peru, doces, vinho, medronho, a noite vai-se compondo enquanto cada presente se abre, cada sorriso se revela, e as conversas caem na descontracção. Famílias visitam famílias, filhos regressam à terra, crianças brincam com presentes, adultos cantam alegremente uma moda afinada. O 24 dá lugar ao 25 numa grande confraternização. A vila recebe o seu melhor presente: a vida que as pessoas lhe dão.

A noite alonga-se então de novo pelas ruas, quem está bem em casa fica em casa, de roda da lareira, quem quer sair e rever os amigos, sai, o que importa é que a festividade continua, o espírito continua. Alguns bares abrem portas, contam-se histórias, toda a gente tem sempre muitas histórias, há muito que dizer. Quase todos conhecem todos, a conversa flui em cada recanto onde se vai, e o que é um facto é que numa terra no meio do Alentejo profundo é como se o tempo parasse. Não se fala muito do Natal, mas o que é certo é que pelo menos naqueles dias alguma coisa nos faz ficar.

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