Berlim em Faro

Mostra de obras multimédia em Faro desconcerta público jovem
Por: Inês Calhias, Joana Sousa, Joana Varela e Mafalda Ferreira

O Teatro das Figuras foi palco para uma sessão de curtas-metragens, documentários, animação e vídeos experimentais no passado dia 4 de Novembro, a antecipar o aniversário da queda do Muro de Berlim.

“Cinema e Vídeo de Berlim” reuniu um conjunto de obras, que já foram seleccionados para festivais internacionais, realizadas por jovens oriundos das mais conceituadas escolas de cinema alemãs, alguns deles presentes na apresentação. Representantes da nova geração do cinema, estes jovens abordam nas suas produções questões contemporâneas, tais como as oposições e desigualdades que se verificam entre países ricos e pobres, relações de poder e crise de valores, de identidade e género.

Trazer Berlim até Faro

Emília Piedade, organizadora do evento, explicou à Redacção 2.3 qual a finalidade da sessão: «O objectivo é mostrar a Faro, principalmente aos estudantes, o que está a acontecer em Berlim, cidade que é centro de novas ideias, onde se encontra o futuro da arte». Para «mostrar coisas interessantes», a programadora promoveu ainda um encontro entre estudantes de Berlim e do Algarve. Quanto à escolha das curtas-metragens apresentadas, Emília Piedade contou-nos que foram os jovens realizadores que seleccionaram os vídeos a serem apresentados, estando só sujeitos ao tema.

Entre os realizadores dos trabalhos, Rita Macedo, uma jovem portuguesa estudante em Berlim, expõe os motivos que a levaram a seguir esta carreira: «gosto muito de realizar filmes, dão-me a possibilidade de realizar algo mais artístico, numa área que gosto muito». Residente em Berlim há dois anos, a jovem tem verificado algumas diferenças no panorama cinematográfico entre Portugal e a Alemanha, observando que «lá há mais abertura, mais troca de ideias».

Público surpreendido

«Teve uma sequência um bocado estranha (…) à medida que ia ficando mais tarde as histórias iam ficando mais bizarras», conta Ana Pinto, uma dos muitos presentes na concorrida sessão. «A língua não ajudava», observa Ana Lagoa, referindo-se ao facto de o alemão predominar como língua oral e o inglês como escrita (legendas), o que levou a uma menor compreensão dos trabalhos. «Gostei mais de umas do que de outras. Umas tinham um conteúdo de análise e outras eram menos interessantes», confessa Márcia Nunes, realçando o carácter alternativo do conteúdo dos vídeos, opinião partilhada pela maioria dos presentes.

Um olhar sobre a diferença

O tema da homossexualidade foi o que sobressaiu durante os 90 minutos de exibições, cujas formas de abordagem chocaram alguns dos espectadores. Na opinião de Ruben Remédios, «O tema da homossexualidade já não é tão tabu no nosso país, mas sei que grande parte das pessoas que viram pelo menos essa curta do namorado alemão (…) comentou e vai continuar a comentar». O documentário experimental aqui referido continha cenas explícitas de interacção entre vários homens homossexuais.

A curta que mais interesse despertou, “Please Say Something”, consistia numa animação cujos protagonistas eram um gato e um rato. «Foi engraçada», refere Ana Pinto, «teve uma história que era fácil de perceber e tinha uma mensagem bonita». Outra das obras comentadas pelos espectadores no final da sessão foi “One 103 Happy: 83 Sad Minute and Thirty Seconds”, um trabalho experimental onde formas e cores se misturaram: «É de difícil percepção (…) mas o facto de passarem aquelas imagens numa sequência tão curta de tempo e de certa maneira desfocado a dizerem feliz, triste, faz lembrar certos momentos da nossa vida que vão passando e que nós tendemos a esquecer ou desfocar com o tempo. De certa maneira é um resumo de toda uma vida visto de uma forma bastante simples», aponta Ruben Remédios.

Perante a lotação esgotada na sala de exibição, Emília Piedade considera terem sido cumpridos os objectivos definidos. Apesar de algo desconcertante, para Márcia Nunes este evento «foi muito construtivo e dever-se-ia repetir».

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