O Parkour «é mais do que um desporto»

Por: Grethel Ceballos, Sofia Trindade e Vanessa Costa

O Parkour, ou «l'art du déplacement», tem como princípio elementar a deslocação de um ponto a outro com a maior rapidez e eficácia possível. Oriundo de França, surgiu na década de 80 com o objectivo de ajudar a superar obstáculos de qualquer natureza no ambiente circundante — desde galhos a pedras, grades e até paredes. Apesar da crescente adesão por parte dos jovens, esta nova forma de expressão, ou tipo de desporto, está rodeada de polémica. Os traceurs Dace e CKK contaram à Redacção 2.3 a sua experiência e explicaram como caem seguros no que lhes dá tanto gosto fazer.



R2.3: O que é para vocês o Parkour?
Traceur Dace: Do ponto de vista físico, o Parkour consiste em chegar do ponto A ao ponto B o mais recto possível, sem fazer qualquer desvio. Do ponto de vista psicológico é ultrapassar todas as barreiras, visando sempre a evolução. Tornamo-nos cada vez melhores, mais conhecedores de nós próprios, mais capazes e visamos nunca desistir...

Traceur C.K.K: Parkour para mim é mais do que um desporto. É mais uma maneira de ver a vida do que um desporto. Para quem faz Parkour, um obstáculo é algo que se tem de ultrapassar, e não que se deve evitar ou contornar. Em Parkour, um obstáculo serve para nós evoluirmos, para nós próprios desbloquearmos a nossa mente e sabermos os nossos limites.

R2.3: Como se iniciaram nesta modalidade?
Dace: Para dizer a verdade, houve uma passagem de ano que não prestou para nada (risos). Eu e mais dois amigos lembrámo-nos de começar a treinar algo que tínhamos visto em vídeos que se chamava Parkour, mas não sabíamos realmente o que era. Para nós eram saltos e pronto. Começámos a treinar, mas não valíamos nada (risos). Demos pequenos saltos, mas gostámos bastante. Começámos a treinar e, a partir daí, a aprender mais. Conhecemos os vaults, ou os truques. Aprendemos a importância do Parkour, a sua filosofia e a componente mental. Ao fim de seis meses, num treino a que eu não fui, o C.K.K foi treinar. Havia uma parede que diziam ser impossível de subir... Disseram-lhe para tentar, e ele subiu aquilo de uma maneira melhor do que todos nós. A partir daí ele viu que conseguia fazer coisas que pensava não conseguir realizar. E acho que toda gente consegue fazer muito mais do que imagina, e não se atreve a tentar porque pensa que é difícil.

Saltam pela aventura e correm contra o medo

R2.3: O que sentem ao praticar Parkour?
C.K.K: Quando faço Parkour basicamente o que sinto é liberdade. Sinto que tenho a mente aberta para tudo, sinto que estou a voar (entre aspas). Sinto-me leve...
Dace: Realmente, quando faço Parkour, o principal sentimento é o de liberdade. Especialmente a liberdade da sociedade, porque estou fora do “normal”. Também liberdade de espírito porque estou a evoluir. Estou a ultrapassar barreiras. É também muita adrenalina... Por outro lado, muito medo que vai sendo transporto.

R2.3: Os traceurs são alvo de muita crítica, como sentem que são encarados pela sociedade?
Dace: Aos olhos da sociedade nós somos vândalos, completamente, excepto quando há exibições. Aí somos “meninos lindos”, fora isso somos sempre vândalos.

R2.3: Apesar dessa visão, em Portugal o Parkour tem ganho cada vez mais adeptos, já se pode falar numa comunidade?
C.K.K:
Fazer Parkour cá é uma coisa boa porque não há muitas pessoas a praticar de facto. Mas existe sim uma comunidade onde basicamente toda a gente se conhece. Ajudamo-nos uns aos outros. Há sempre encontros, e para estarmos todos juntos é um bom convívio.

R2.3: Que características deve ter um traceur?
C.K.K: O Parkour é muito fascinante, mas há um aspecto que muitas vezes as pessoas desconhecem. É a parte, talvez das mais importantes, em termos físicos. Refiro-me à flexibilidade. Muitos pensam “qualquer pessoa faz isso”, mas não, requer muito esforço físico, treino, “muitos trabalhos de casa”. Como nós dizemos, sempre a dar no duro para podermos ter uma boa condição física. Quem não tem uma boa condição física é prejudicado, pois está a destruir o seu próprio corpo (...) porque não se prepararam para aquilo que estão a tentar fazer.

R2.3: E para quem quer aventurar-se no mundo do Parkour, do que é que necessita?
Dace: Para quem pensa começar a fazer Parkour convém infomar-se primeiro, e treinar muito. Basicamente do que precisam é uma roupa de treino, umas sapatilhas. Averiguem as sapatilhas apropriadas para não danificar os pés e as articulações, porque não existem sapatilhas especiais para Parkour. Umas são mais apropriadas do que outras. Não convém usar luvas, mas sim punhos, para aquecer as articulações. Parkour é um dos desportos mais baratos que há e o mais gratificante.

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