Alentejo ecológico: aldeia solar em Odemira

Por Grethel Ceballos

Uma aldeia solar experimental, construída em pleno Alentejo, está a ser testada por uma eco-comunidade. O projecto recorre a vários protótipos tecnológicos para tornar uma comunidade de 50 pessoas auto-suficiente a nível energético.

Autonomia energética

Quem avança alguns quilómetros por uma estrada de terra batida, próxima de Colos, em Odemira, depara-se com um cenário diferente ao esperado. A inovação tecnológica imiscui-se com a paisagem campestre. Numa área com mais de 150 hectares, em Tamera, encontra-se o campo de testes de uma Aldeia Solar.

O projecto iniciou-se no mês de Outubro e terá a duração de um ano. A responsabilidade é da eco-comunidade de Tamera, que pretende demonstrar que, sem a utilização de combustíveis fósseis ou poluentes, é possível efectuar variadas tarefas domésticas, tais como «bombear água, produzir e cozinhar alimentos, aquecer e iluminar as casas».

A aldeia solar é um modelo alternativo para uma futura comunidade ou aldeia da paz, que pode ser generalizado e erigido em qualquer lugar na Terra que tenha uma quantidade de luz solar razoável. O motivo da escolha da região alentejana é evidente: está privilegiada em exposição solar.

«A ideia é viver um ano inteiro com esta tecnologia, ver como funciona e encontrar os pontos fracos e fortes, para poder projectar um modelo para a Tamera inteira», onde vivem mais de 150 pessoas, explicou à Agência Lusa Barbara Kovats, coordenadora da Aldeia Solar.

Protótipos tecnológicos

A aldeia solar experimental, que visa a auto-suficiência energética de 50 pessoas, conta, por exemplo, com uma estufa multifuncional que possibilita o cultivo de alimentos com pouco consumo de água. Ainda, aquece óleo vegetal que é acumulado num receptáculo.
Junto da cozinha, construída no âmbito do projecto, um espelho, com cerca de dois metros de diâmetro, desperta a curiosidade: «É um espelho de foco fixo, que vai reflectir o Sol para um tacho próprio, que aquece água em cerca de 30 minutos», explica Fabian Deppner, também membro da Tamera e colaborador no projecto. Outro protótipo em testes no Alentejo é a bomba de água, que trabalha, à semelhança dos restantes sistemas, apenas com energia solar termal.

Eco-aldeias

Uma eco-aldeia, pequena comunidade de indivíduos numa estrutura social coesa, está sedimentada em três dimensões: comunidade, ecologia e espiritualidade. O objectivo é promover um estilo de vida aos seus membros em harmonia com a Natureza.

Apesar da propagação do conceito nos últimos anos, as comunidades humanas sustentáveis ainda dão passos tímidos em Portugal, e a maioria das pessoas parece não estar preparada para abdicar do seu estilo de vida actual.

Porém, já está em fase de formação a Rede Portuguesa de Eco-aldeias e Comunidades Sustentáveis, a cargo da organização Global Ecovillage Network. O objectivo é «promover o desenvolvimento de comunidades humanas sustentáveis em território Nacional, facilitar a troca de informações e a colaboração entre todos os membros portugueses pertencentes à rede mundial, e disseminar o conceito de eco-aldeia, práticas e centros de demonstração». Esta rede pretende «encorajar sistemas que integrem ecologia, educação, mecanismos de participação em decisões, espiritualidade, bem como tecnologias e negócios ecológicos».

Até ao momento, em Tamera utilizam-se energias à base de combustíveis fósseis. A próxima etapa do projecto será granjear patrocinadores, para desenvolver a tecnologia e planejar sua proliferação.

E no seu caso, se comprovada a viabilidade do projecto, será capaz de abandonar a sua vida actual e aderir a uma eco-comunidade?

As tecnologias utilizadas na Aldeia Solar foram na sua maioria inventadas pelo alemão Jürgen Kleinwächter, que colabora com esta comunidade residente no Alentejo, que acaba por ser o seu «campo de ensaio».

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